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cronicas-->MÚSICA TEM PODER -- 06/02/2006 - 20:39 (Cheila Fernanda Rodrigues) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
MÚSICA TEM PODER

Ontem liguei para falar com um amigo meu e, nem bem trocamos algumas palavras, ele me disse que sua mãe queria falar comigo. Surpreendi-me profundamente porque, dado o quadro de doença em que ela se encontrava, não imaginava que eu pudesse ainda estar pulsando naquela memória. Na dúvida, comecei por um cumprimento que diz tudo e não diz nada:
_ Tudo bem?
Uma voz quase infantil, muito fraca, como se viesse de muito longe, entrecortada pelo choro, reclamou um pouquinho das agruras de sua vida, perguntou sobre pessoas de minha família e, em seguida, disse-me algo que jamais imaginei que lhe fosse uma lembrança importante:
_ Você ainda canta e toca piano?
_ Muito raramente...
Falei pouco, esperando que o assunto ali se esgotasse, mas ela insistiu:
_ O que você mais gosta de cantar?
Em alguns poucos segundos vasculhei meu repertório e até me surpreendi ao perceber que não encontrava uma música que fosse a minha preferida. Não gostei dessa descoberta, pois era sinal de que estava esquecendo de algo que tanto amava (e amo!). Nesse clique de tempo, lembrei-me da favorita de minha avó. Ah!... Recordo-me que eu a tocava e ela acompanhava cantando uma letra em português...
_ Vou cantar uma música que minha avó amava: "Serenata", de Schubert.
_ Cante!
Pus-me a cantar, esperando que minha memória não tivesse um deslize:
Esta canção que eu canto ao luar /Eu fiz pensando em você/Fiz pensando em você /As nuvens brancas soltas no ar /E eu pensando em você /E eu pensando em você...
A danada da memória, sobrepujada pela emoção, deslizou e não me vinha o resto da letra, embora a melodia estivesse de prontidão. Como houve um silêncio de minha parte, na tentativa de recuperar a letra, ouvi do outro lado:
_ Agora vou cantar para você "Tarde de Ipacaraí".
Sem que eu dissesse qualquer coisa, se pós a cantar: "Numa tarde tíbia nos conhecemos...". Eu ouvia com muita atenção aquela voz que estava tíbia também. Passava por dificuldades, tropeçava nas palavras, mas cantou do início ao fim. Emocionei-me fortemente. Assim que ela terminou de cantar, eu principiei a lhe dar um retorno de quanto achei bom, mas ela passou por cima de minhas palavras e foi dizendo:
_ Você tem descendente tupi?
_ Não, ou pelo menos nunca ouvi falar disso.
Tão logo disse essa frase, percebi, por uma pequena mudança no tom da voz, que ela ficou frustrada. Mudei, imediatamente, e dei toda a corda a ela que apenas queria falar e falar e falar, cantar, cantar e cantar... Naquele espaço de tempo, dei um repouso à razão. Quem me comandava era a piedade que me trazia novamente a mulher linda, olhos muito azuis e profundos, cabelos louros, qual personagem de conto de fadas. Cortamos o passado e o sofrimento. Cantamos um presente imaginário e rimos. Aproveitamos bastante aqueles encantados instantes. Vivenciamos um momento de carochinha.
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