Fazer de conta: a fantasia cobrindo com leve manto do sonho a realidade que teima em sufocar as esperanças... as esperanças de um mundo melhor, generoso, que permita realização material e espiritual a todos.
Fazer de conta que nos livramos das dores físicas e morais; que a ciência médica evoluiu, retirou-nos as dores e pratica a cura das enfermidades que sempre nos afligiram; que a angústia, a depressão, o medo e outras amarguras não rondam mais os dias e noites do homem.
Fazer de conta que a sabedoria bafejou os dias do homem, fazendo-o livre da ignorància, do orgulho, da inveja e de todos os parentes das doenças morais que trazem a infelicidade e contaminam a vida.
Fazer de conta que adquirimos algum desprendimento que nos permite dedicarmos algum tempo ao bem comum sem interesses rasteiros e que a plenitude da dedicação ao bem-estar social seja o horizonte maior de todos os governantes. Que, o médico seja Médico, o jornalista Jornalista, o advogado Advogado, o juiz Juiz; enfim, que os profissionais sejam Profissionais... ao menos!
Que tenhamos readquirido: a fé na vida e no homem, a confiança no futuro, a expectativa de um amanhã que trará -cada vez mais- o enriquecimento material e a elevação espiritual de todos os filhos de Deus. Que sejamos agentes e não vítimas de um destino qualquer.
Que circundemos com especial carinho as dádivas da Vida e não as maltratemos com a pequenez dos impulsos, sentimentos e paixões escravizadores da alma.
Fazer de conta que a vida é um caminhar sereno por uma estrada aplainada de todas as vicissitudes e margeada por flores de rara beleza e de embriagadores perfumes.
Que a soma de todos os sofrimentos seja reduzida a zero... ao nada, porque é tão doída a dor dos outros, como se de nós fosse e nada podemos fazer para aplacá-la
Ou fazer de conta... ou fazer o quê ?
José Eurípedes de Oliveira Ramos
Da Academia Francana de Letras