A dor da dor...
Quando era, rapaz fui para o hospital e senti muita dor. Doía muito e não sarava. Mamãe e papai também sentiam. Eles tinham a dor da dor...
Depois eu cresci e me machuquei. Senti novamente a dor.
Um dia, eu vi um colega ferido de càncer chorando de dor, não sentia aquela dor mas sentia a dor da dor. Não tinha nenhuma ferida mas doía...doía muito.
E eu cresci mais...fiquei adulto, casei, tive filhos. E os meus sentiram dor... e eu senti novamente a dor da dor...
Uma amiga minha chorava. Chorava porque o pai estava de mal com a vida. Bebendo... fumando... calando... parando...
Ele sentia a dor no corpo e ela a dor na alma. A dor da dor...
Vi um menino sem dono. Ferido, apanhado, sangrando, chorando de dor. Eu não estava ferido, mas senti dor. A dor que nÃ¥o dói na carne, mas dói, e dói... dói muito.
Vi um flagelado da seca. Chorando de fome, de dor, de desespero, da dor da dor...Eu não chorei de dor, mas senti a dor da dor...
Vi o povo na Bosnia. Chorando, gritando de horror, de dor. Eu não chorei, mas senti a dor da dor...
Eu vi muita gente chorando. Ninguém estava ferido. Só um,
que estava deitado, nåo sentia mais dor, nem chorava...mas todos choravam da dor da dor.
E aí eu entendi que essa dor que nÃ¥o dói, nÃ¥o arde e nÃ¥o sangra, dói muito mais que a dor que dói. É a "a dor tão doida". A dor que maltrata, definha e mata. É a dor da dor.
Mauro de Oliveira
20.08.93
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