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Contos-->A história de Abelardo, um carioca de Madureira. -- 06/04/2009 - 23:28 (Paulo Marcio Bernardo da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A história de Abelardo, um carioca de Madureira.

Abelardo. Esse é o nome de um carioca, nascido em Madureira e criado em Oswaldo Cruz, zona norte do Rio de Janeiro. Filho de D. Zelma, lavadeira e passadeira de roupas dos bacanas da Tijuca. Ela tinha alem de Abelardo, duas filhas mais velhas que o menino. Seu pai, maquinista da Estrada de ferro Leopoldina havia morrido, vitima de um acidente de trem pero da estação de Deodoro.
Com a pensão do falecido marido e as lavagens de roupas, D. Zelma criava os filhos com pouco dinheiro, mas dando-lhes boa alimentação, educação e estudos.
Abelardo ainda menino era o entregador das pesadas trouxas de roupas nos apartamentos da Praça Sans Penha e Rua do Uruguai onde moravam os clientes de D. Zelma. Isso era feito todos os sábados pela manhã, pois durante a semana Abelardo frequentava as aulas de um Colégio Estadual.
Mas como todo bom carioca, Bel (esse era o seu apelido), um mulato esguio e vaidoso gostava de futebol, samba e de mulheres.
Quando adolescente, não perdia um jogo do Vasco da Gama em São Januário e Maracanã. Sua escola de samba do coração era a Império Serrano onde foi levado pela primeira vez por Gustavo, um vizinho e amigo. Bel, logo se interessou pela bateria e ingressou como componente, mostrando grande habilidade em tocar um tamborim. Não perdia um ensaio da Escola e era assediado pelas mulheres que ali frequentavam.
Aos dezoito anos se alistou no exército onde fez o curso de cabo e permaneceu por três anos. Aos vinte e um anos havia completado o segundo grau (científico) e já estava noivo de Tereza, uma bonita mulata de olhos verdes também carioca e sambista da Império Serrano.
Aos vinte e dois anos, trabalhando em uma fábrica de produtos de limpeza, Bel conquistou um cargo de escriturário, e, com o salário que ganhava, juntando com os ganhos de Terê como cabeleireira de um salão em Ramos, resolveram se casar.
O casamento foi realizado na Igreja da Penha com todo o cerimonial de costume. Após o casamento aconteceu uma festa na quadra da Império onde não faltou samba, caipirinha, cerveja e salgados oferecidos aos convidados; presente oferecido pela agremiação.
Bel e Terê não mudaram os seus hábitos. Ela era flamenguista, mas respeitava a paixão de Bel pelo Vasco. Na época de Carnaval continuavam participando dos ensaios e do desfile da Império.
O tempo foi passando e chegaram os filhos. Um casal de crianças entrou em cena logo nos primeiro anos de casados.
Agora eram Bel, Terê, Roberto e Ana dividindo uma pequena casa de vila no Bairro de Madureira. O salário agora já não era o suficiente, pois Terê não trabalhava mais tendo que cuidar dos filhos, mas Bel tinha sonhos profissionais maiores.
Possuindo um bom histórico escolar, um bom desempenho militar e uma carta de referência elogiosa da fábrica onde trabalhava, não foi difícil empregar-se como vendedor na Olivetti, empresa líder do mercado de máquinas de calcular e escrever.
Sendo trabalhador, simpático e comunicativo, Bel não demorou em ser um dos destaques da equipe de vendas da multinacional. Ganhou prestigio e dinheiro o suficiente para comprar um “fusca” e alugar um apartamento na Rua Conde do Bonfim, no Bairro da Tijuca onde por muito tempo foi levar as roupas lavadas por sua mãe.
Nesses anos que passaram muitas outras coisas também mudaram. Sua irmã mais velha casou e morreu de acidente com o marido. Desse casamento ficou órfão o menino Ubirajara o “Bira”, um lindo menino de apenas três anos que fora adotado por Bel e Terê. Sua mãe faleceu aos 87 anos após uma complicação cardiovascular. A irmã Virginia se casou com um espanhol e mudou definitivamente para Barcelona.
Bel continuava seu trabalho, mas face ao bom relacionamento em empresas multinacionais que atendia, recebeu um convite irrecusável para ingressar e assumir uma supervisão de vendas em um conceituado Laboratório Farmacêutico. No entanto essa supervisão seria para o interior do Estado com sede na cidade de Nova Friburgo.
Sendo uma grande oportunidade para o seu crescimento profissional e tendo um salário compensador, Bel solicita sua saída da Olivetti e transfere a moradia da família para a cidade serrana.
Bel, Roberto, Ana e Bira (o sobrinho filho) se adaptam facilmente. Matriculados em boas escolas as crianças fazem novas amizades e gostam da cidade, entretanto Terê reclama do frio e não consegue se adaptar as novas condições de vida. Sente falta do antigo ambiente, das amigas e de alguns familiares que ficaram no Rio.
Para piorar, Bel precisa viajar rotineiramente tornando-se marido de final de semana. A convivência do casal que até então era boa, passa por problemas de relacionamentos e ciúmes, afastando ainda mais o marido viajante que chega aos sábados e sai nas segundas quando ainda é madrugada.
Terê não podia reclamar por falta de dinheiro para as despesas, mas estava convencida que havia alguma outra mulher afastando o seu marido do convívio familiar.
Suas desconfianças foram confirmadas quando Bel confessou que se apaixonara por uma enfermeira de um hospital em Macaé.
Daí até a separação não demorou muito tempo. Terê voltou com os filhos para o Rio de Janeiro e Bel foi morar com a loira enfermeira em outra casa na cidade. Não foi difícil arranjar um novo emprego para uma bonita loira, competente enfermeira em uma Casa de Saúde de Nova Friburgo.
No inicio tudo foi maravilhoso. O casal vivia com a alegria dos recém casados e a felicidade dos amantes. Os primeiros dois anos foram de conquistas. As viagens que antes eram continuas, passaram a ser eventuais. Os três anos seguintes foram desastrosos. Bel era tão ciumento que não conseguia mais associar os compromissos profissionais com os de homem apaixonado. Passados poucos meses aconteceu o esperado. Bel foi demitido do Laboratório. Enquanto desempregado, mas com dinheiro suficiente do fundo de garantia, Bel conseguia cumprir com as despesas de Terê e dos filhos e ainda manter a casa luxuosa que morava com a enfermeira Cristiane. Desde a sua separação Abelardo via raramente os filhos do seu casamento. O tempo foi passando... e Bel não conseguia um novo emprego. O dinheiro que sobrou começou a ser desviado para bebidas e garotas de programa. Cristiane não suportou as mudanças do homem que lhe prometera fidelidade e conforto e agora se mostrava bêbado e infiel.
A loira bonita de pouco mais de trinta anos de idade era assediada diariamente na Clinica onde trabalhava, e, vivendo os problemas conjugais que não mais suportava, cedeu aos convites amorosos de um médico solteiro e financeiramente equilibrado. Cristiane sai de casa e assume seu novo romance.
Abelardo não sabe o que fazer. Desempregado e endividado, vende o pouco que tem, paga o que pode, e vai à procura de Tereza. Os filhos já estão criados e estudando fora do Rio de Janeiro. Apenas Bira mora com Terê em um apartamento confortável no Bairro do Andaraí. Tereza quando retornou para o Rio recebia a pensão dos meninos e juntava ao dinheiro que ganhava, pois voltou a trabalhar como cabeleireira, economizou, montou seu próprio salão e conseguiu superar as dificuldades de uma mulher separada do marido. Nesses anos de separação Terê tentou outros relacionamentos, mas o verdadeiro amor não lhe permitia formar uma nova família.
Envergonhado pelo comportamento, triste por não ter acompanhado o crescimento dos filhos e desmotivado pela derrota profissional, Bel não esperava tal recepção. Sem questionamentos ele é recebido como um sobrevivente de guerra. Tereza ainda mantém em cima da estante da sala as fotos do casal e seus filhos. O quarto do casal continua com os mesmos móveis comprados quando da ida para Friburgo e Terê lhe perdoa pelos enganos e desvios que o destino lhes impuseram.
O reinicio foi bastante complicado. Foi necessária uma nova adaptação de ambos, mas o tempo se incumbiu de Bel reconhecer as qualidades e o amor da mulher que soube compreender as suas fraquezas e motivá-lo para novas conquistas.
Abelardo conseguiu um novo emprego como vendedor de uma indústria de cosméticos e trabalhando muito superou as suas dificuldades financeiras. Hoje Bel não bebe mais e dedica todo o tempo disponível para Terê, a mulher que sempre lhe amou.
Roberto se formou em engenharia, Ana é fisioterapeuta, Bira ainda não definiu a faculdade que irá fazer.
Bel e Terê já próximos da terceira idade não querem e não pensam mais nos problemas que motivaram a separação.

06/04/2009
Paulo M.Bernardo

* Esse conto não é verdadeiro. Quaisquer semelhanças de fatos ou nomes são puras e simples coincidências.




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