Hoje em dia notamos uma grande proliferação de telefones celulares. Todo mundo tem o seu. E as conversas ocorrem em todos os lugares, nos bares, restaurantes, nas ruas, no trànsito (embora proibido) e até mesmo em casa, onde apesar da existência de um telefone fixo, nos surpreendemos com o hábito de utilizar preferencialmente o celular. Hábito caro, diga-se de passagem.
Mas este panorama nem sempre foi assim.
O meu pai conta que o primeiro telefone que instalaram na sua casa, que ficava na rua Maria Figueiredo, foi por volta de 1944, em plena segunda guerra mundial. Era um artigo raro e de luxo, sinal de "status" na época. Gerava curiosidade em toda a vizinhança, que, sabedora da novidade, sempre arranjava algum pretexto para entrar na casa do meu pai e contemplar o ilustre aparelho telefónico, que ficava instalado em baixo de uma coluna da escada de madeira .
Mas havia um grande problema: telefonar para quem, se quase ninguém tinha telefone naquela época?
A saída, segundo o meu pai, era telefonar para um ponto de táxi que ficava na avenida Paulista, só para ter a emoção de escutar alguém do outro lado da linha e desligar logo a seguir.
Com o tempo, o telefone foi se difundindo, mas como ainda era muito difícil conseguir uma linha, quem tinha uma em casa se transformava numa verdadeira central de recados para os vizinhos. Todos forneciam o número para os seus parentes e amigos. Relata ainda o meu pai que várias vezes eram acordados no meio da madrugada por um vizinho que precisava fazer uma ligação urgente. Ou então alguém que telefonava pedindo para chamar o vizinho de frente para um recado inadiável.
Sem dúvida, o pequeno aparelho se transformava numa referência para toda a vizinhança, propiciando uma convivência social bem diferente do hábito solitário em que se transformou o telefone celular nos dias de hoje.