Aquela moçadinha dos doze revoltou-se quando na aula de artes o professor propôs a construção de uma maquete com quinhentos palitos de sorvete.
- Palito é coisa de praia -gritou um.
- De palitos já chegam as mocinhas aqui da classe.... gozou outro.
- Dá pra parar com essa agressividade - levantou-se uma das meninas de mais de um e setenta pra contestar a gozação.
- Palito é coisa de criança- terminou um terceiro. Lembro-me de palito quando o pediatra examinava minha garganta.
O mocinho, professor de artes, que mal completara seus vinte e cinco, já fizera parte de uma moçadinha.Conhecia bem aquele tipo de revolta. Tudo o que fosse contra o curso da adolescência e da pressa em virar adulto causava aquele tipo de comportamento. Mas que no fundo era um comportamento totalmente infantil.
- Esperem......Vocês sabem que este tipo de trabalho é proposto em dinâmicas de grupo para funcionários de grandes empresas? Se já se sentem tão adultos, deviam saber disso ao invés de contestarem.
- Quem são os débeis mentais que brincam de colar palito? perguntou um daqueles alunos que gostam de desafiar até o fim.
- Todos os grandes que você vê em jornais, revistas. Todos. Parece-me que você está longe de ser um deles.
A classe silenciou. Ele continuou a explicação. Aos poucos, aquilo que parecia servir apenas pra escrever na areia transformou-se em instrumento de desenvolvimento da criatividade daqueles monstrinhos.
Grupos organizaram-se para iniciar o trabalho.
Comentários e gozações entre eles, do tipo: “isso aqui não vai servir pra nada”, etc...cessaram em seguida.
O professor apenas acompanhava o movimento dos grupos, que já haviam sido instruídos.
A primeira aula apenas possibilitou que eles iniciassem o trabalho.
Na segunda aula, começou a montagem das partes das maquetes.
Trabalhavam em completo silencio. Os monstrinhos viraram anjos, e os palitos um meio de extravasar tanta energia represada.
Podemos dizer que a maquete virou manchete do jornal do bairro, e abriu caminho para a divulgação do trabalho e da escola.
Os alunos postavam-se junto ao resultado, explicando ao publico o que haviam produzido.
A maquete ficou exposta mais alguns dias para a apreciação dos demais alunos.
Aquela revolta inicial não foi tão intensa à ponto dos palitinhos pegarem fogo, coitados.
Mas os alunos explodiam. E ficaram do tamanho dos palitinhos quando o mocinho professor de artes elucidou o que palitos podem fazer: construir grandes maquetes. E grandes seres humanos, também.