24/5------Terça-feira Bravo!O sol voltou!Fez uma estréia magnífica, visitou minha mesa de trabalho, passeou por todo deck, trazendo calor e alegria.
E o céu azul
Claro
Aparecendo
Sem manto de névoa
Para se esconder...
Tudo brilhando,
Brilhando
Na poesia do sol.
Creio que vai dar piscina; Acabou a turbulência de ontem, ouço música, preparo-me para chegar á noite em S. Francisco. 20 anos depois volto á Sta. Catarina; Passamos por Laguna, Imbituba, Floripa... Laguna,tantos anos depois!Farol de Sta. Marta, onde, indo passar o dia, no meu chevetinho vermelho, peguei no sono, na praia, e acordei com a maré alta, querendo engolir tudo e com os gritos do faroleiro, me alertando para o perigo; Bebi água, no farol, lindo, com um calendoscópio, tomei tanto sol que minha pele parecia terra ressequida. A agitação é grande;o comandante e minha amiga arrumando a bagagem que ficará em S. Francisco, eu arrumando as minhas,o rapaz que perdeu o pai,vai para o Rio,rumo ás Filipinas e eu,com a tripulação em peso, torcendo por mim,ainda não sei se desço em Salvador.;A Santa Catarina de 20 anos atrás foi a faculdade de vida para a quase garota,recém chegada de Salvador,sem conhecer nada do mundo.La convivi com gente boa,gente má,gente desonesta,gente alegre, gente amiga e gente cruel.Para quem tinha saído recentemente do gineceu e não conhecia bem os seres humanos(por isso confiava tanto)ir por minha própria conta e risco,trabalhar ali,lançar-me ás feras,foi a prova de fogo da minha vida.Conheci o triunfo e o fracasso,a alegria e a decepção,a força do amor e a força negativa da inveja,a solidariedade e a solidão,a riqueza e a quase miséria,o amor e o ódio;Ali a menininha virou mulher,numa grande e dolorosa transformação.Vou rever S. Francisco, onde tantas vezes fui comer camarões fritos,pegava o carro e saia por aí,sem destino,Joinville,Blumenau,Itajaí,Brusque.Recordo as caldeiradas da Lagoa da Conceição,onde eu morava,as farras com meus amigos e colegas,onde andarão,o que a vida fez deles?Cheguei a Joinville, a cidade do Príncipe (que nunca esteve la), mas, que doou os terrenos que recebeu do Imperador aos imigrantes que chegaram fugidos da crise européia, das guerras e do desemprego; com o tempo, e ajudados pela escassez dos produtos manufaturados por causa da guerra, Joinville tornou-se um grande pólo industrial que hoje conta com 600 indústrias, grandes fortunas e grandes empreendedores foram forjados ali, no trabalho e na coragem para vencer obstáculos. Morei no Hotel do Príncipe,trabalhei muito ali,de sol a sol,vendendo livro,conheci muita gente interessante que hoje freqüenta o Jet set internacional;
Cheguei a Blumenau,num fim de tarde,e assisti maravilhada ao pôr do sol,no Rio Itajai-Açú,que serpenteia á margem da estrada,acompanhando o contorno desta.Almocei no Frozen,fiquei hospedada no Cavalinho Branco,um excelente hotel,estranhei as casas comerciais com a fachada escrita em alemão e português,sendo as maiúsculas em alemão,nem parecia Brasil.As casas construídas á maneira alemã ou suíça,de madeiras com um jardim de rosas na entrada;quando cheguei a Pomarode parecia que tinha desembarcado numa aldeia alemã;quase ninguém falava português,uns com os outros.
Costumava freqüentar um restaurante chamado “Alles Blau” e o famoso e caríssimo Manolo, em Florianópolis. Adorava o Clube 12,com suas escadarias em veludo vermelho,seu luxo bizantino.Passava os domingos no Holliday Inn;ás vezes ia até Barra Velha,Biguáçu ou Itapema,as vezes até Camboriú,nos feriados.Quantas vezes passeei em Itajaí,para admirar sua igrejinha peculiar e provar da excelente comida;Trabalhava na Av. da Baía e cruzava a ponte Colombo Salles para ir ao Estreito,aquela mesma ponte que Juca Chaves dizia que ligava nada a ciosa alguma.Recuerdos!Lamento não ter tempo de rever tudo isto, voltar ao passado, ressuscitar fantasmas, exorcizar avantesmas, revigorar lembranças; Adoraria rever Jaraguá do Sul, uma cidade tão pequena, quase um arruado, com tantas e tão pujantes indústrias, quase 300. Ah,e tem Uruçanga e Uruçanguinha,cidades irmãs,com um vinho caseiro delicioso,vinho de lagar,tão humildes que não havia hotéis ou pousadas,ou mesmo meras pensões,então acomodei minha equipe de vendedores,os homens,no puteiro e as mulheres,no convento das freiras;Recordações!!!
Se essas ruas fossem minhas..., porque passei tantas vezes, a pé ou de carro, trabalhando, ou para ir ao BESC, onde tinha conta, Tte. Silveira,Trajano,Av. Mauro Ramos,com seu canal,Saco dos Limões, Rua da Praia.A influencia açoriana é grande em Florianópolis,o povo é mais alegre,festeiro e amistoso do que as outras cidades onde predomina a influencia alemã;
Chegaremos em S. Francisco ás 21.30hs, mas, só atracaremos amanhã, ás 5; Pretendemos ir a Joinville com a mãe de Francis; fiquei até tarde no deck, sem coragem de entrar, olhando a lua. Golfinhos pulavam e brincavam acompanhando o navio;um dia esplêndido,daqueles que não se esquece.Esta foi a noite mais clara que passei no mar;dava para ver os peixinhos na água;Já estamos em frente á cidade,na âncora.Uma lanchinha encostou,era o irmão de Francis que veio pegar a numerosa bagagem dela,que vai ficar em terra durante as férias do Cap.Aqui no navio a gente está num mundo irreal,blindados das más noticias ou das futricas do dia a dia;a dura realidade quase não nos atinge;Por isso estranhei ao chegar e começar a ouvir fofocas de políticos,conversa mole,violência,inflação,políticos que dizem que vão acabar com a inflação,a inflação jurando que vai desacreditar os políticos,a direita tentando desestabilizar o governo,fica-se de pé atrás,será que abriram a caixa de Pandora,socorro,quero voltar para a segurança do mar.Mas,por cima do medo a coragem;somos bichos terrestres,vamos encarar as feras.
25/5--------Quarta - feira
Foi um dia cheio que começou ás 4 da matina. o sol e a lua vieram,ao mesmo tempo,para as despedidas e assim tivemos,de um lado o sol nascente,com seus tons vibrantes em rosa e laranja;do outro, a lua cheia,deixando uma poeira de prata no mar;O café da manhã foi na casa de Francis com a mãe dela e o padastro.Aproveitei para ligar para casa e tomar providencias para a volta;Visitei S,Francisco com a mãe de Francis,revi as praias,a enseada,Capri,a Prainha;Ubatuba,tudo o que tinha direito;a cidade cresceu muito desde aquela época.Ha belos e luxuosos hotéis,ruas largas,mas,o belo coreto da praça,continua.René e Francis se juntaram, a nós para o almoço e deixar o Cook que vai passar as férias com outros oito cachorrinhos da casa,seus parentes.Após o almoço,quando matei saudades dos excelentes camarões que fizeram a fama do lugar,fomos a Joinville,de carro.Revi a cidade,com emoção.A cidade mudou,está mais cosmopolita,desenvolvida,com tráfego de metrópole.A saudade guiou meus passos até a Rua do Príncipe,saudei as palmeiras,as mesmas do meu tempo;fui ao Tannenhoff,ao Museu,á Getulio Vargas.Em S .Francisco que fica distante de Joinville so 45km,voltei aos passeios;seu porto é o 5º maior em movimento de containeres,no Brasil;há um Museu Nacional do Mar,com exposição de embarcações brasileiras;descobri que ela é a terceira cidade mais antiga do Brasil;veja que historia curiosa:o primeiro índio brasileiro a ir á Europa foi o filho do cacique Arosca,Içá-Mirim, e não voltou casou com uma francesa e deve ter descendentes na França,até hoje,quem sabe?
Pena que tá no fim amanhã partiremos para Santos.
IMG:São Francisco do Sul Sta. Catarina.
|
