----------- Oh noite, minha velhinha
----------- Como gosto de abraçar-te
----------- Sentindo a pouco e pouco
----------- Que sou eu que envelheço
----------- E ao cair da tardinha
----------- Andar sempre a desejar-te
----------- P ra fugir do dia louco
----------- Mas mesmo assim enlouqueço.
----------- Depois, oh noite, padeço
----------- O juízo e a loucura
----------- De todos esses que são
----------- Explosão a viver
----------- E às vezes até esqueço
----------- O pavio de ternura
----------- Que trago no coração
----------- E ninguém quer acender.
----------- Oh noite, que hei-de fazer
----------- Do pobre e triste cão
----------- Que o dono deitou fora
----------- E nem sequer se arrependeu?
----------- Ao menos deixa-me ser
----------- A palavra de ilusão
----------- Que que a vida deita fora
----------- E alguém há-de comer.
----------- Oh noite, quando eu morrer
----------- Não permitas que o dia
----------- Me visite a pôr flores
----------- Ou velar-me a horas mortas;
----------- Deixa-me apenas viver
----------- Minha morte em poesia
----------- No sonho de meus amores
----------- Bem dentro das tuas portas!