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Artigos-->A Batata dos Vencedores -- 22/04/2001 - 14:01 (Magno Antonio Correia de Mello) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A couraça de proteção que as classes dominantes erguem em torno de si, no sistema capitalista, baseia-se menos na violência e mais na domesticação de alguns sentimentos. O amor, o ódio, o medo, a raiva, qualquer dessas componentes será sempre potencialmente subversiva. A razão e a consciência não se movem por si mesmas. Devem sempre ser impulsionadas pela emoção – donde se concluir que o método é eficaz para atingir o fim a que se destina.



Para que tudo se concretize, não há instrumento melhor do que os meios de comunicação. O amor é reduzido à paixão da mocinha pelo galã sem camisa ou a do ator sem talento pela personificação do padrão de beleza, expresso em uma atriz previamente talhada para incorporá-lo. O ódio deve ser canalizado para que se volte contra o criminoso comum, o infeliz que atira contra o chão do ônibus, permitindo-se, em relação ao banqueiro desaparecido, ao juiz inescrupuloso ou ao assessor lobista, um sentimento incapaz de ultrapassar a indignação inconseqüente.



O medo? O medo se deve ter da solidão, de sair à rua desacompanhado depois da meia-noite, ou de perder o emprego. É fundamental instigar o medo como proteção básica contra o desemprego. Não há meio mais eficaz para deteriorar infinitamente as condições em que são estabelecidos os contratos de trabalho. A raiva? Essa, pelas suas estreitas ligações com reações impulsivas, a raiva não pode ultrapassar os limites da rejeição à escalação da seleção de futebol, às estripulias do vilão ou da vilã da novela das oito ou à impertinência do movimentos reivindicatórios de trabalhadores, rurais ou urbanos.



Muitas das concepções marxistas se viram superadas pela realidade dos fatos e hoje se podem dizer esmagadas pela mídia. Como concretizar a revolução, se o amor a causas, a povos ou a uma sociedade mais igualitária é tido como romântico, tolo, infrutífero? Como organizar a resistência, se o ódio não se dirige contra a injustiça social, mas contra a “crueldade” de indivíduos, sempre tida fora de seu próprio contexto, como se pudesse justificar-se a si mesma? Como promover a solidariedade, se o medo de cada um não se despe de sua própria carapuça, se o medo do sofrimento alheio é proteção contra quem sofre e não contra o sofrimento? Como fazer prevalecer a revolta, enfim, se a raiva não ultrapassa os limites estreitos, improdutivos e localizados de um linchamento?



São questões que ficam sem resposta. Até no tom este é um texto mais de constatação do que de contestação, porque não se vislumbram nem se imaginam alternativas. Homenageiam-se, assim, os sentimentos que realmente importam ao capitalismo e que o sistema preserva em sua forma espontânea, sem qualquer direcionamento: a acomodação e o comodismo. Quem quiser que entenda a ironia e o sarcasmo desse fecho.

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