O NOVO PLACAR DA USINA
(Por Domingos Oliveira Medeiros)
Assim diz aquele dito
Água mole em pedra dura
Já se sabe o resultado
Até na literatura
No placar dos escritores
Vem causando dissabores
Tanto bate até que fura
Ninguém ficou satisfeito
Com as mudanças havidas
Todos reclamam a medida
Das leituras preferidas
No clique indiciado
Que está sendo questionado
Põe-se os dedos nas feridas
A medida é provisória
Fez-se com boa intenção
De melhorar o conceito
De toda classificação
Para saber com decência
E com toda transparência
Quem será o campeão
Uso da estatística
Matemática aplicada
A lógica e a razão
Para a média ponderada
Dois pesos e uma medida
Para indicar a subida
De cada obra clicada
E a coisa foi mais longe
Pra evitar reclamação
Dos autores preferidos
Pesquisa de opinião
Aplicou-se outra medida
A linear atrevida
Mudou toda a questão
Um sobe-e-desce geral
Tudo ficou abrangente
Quem tava em cima caiu
O lanterna foi pra frente
A média não convenceu
A dúvida prevaleceu
Tudo ficou diferente
Mas veio à tona a verdade
Não resta mais desengano
Não se pode tanto agradar
Quer ao grego ou troiano
São distintos os senhores
Seus escritos, seus leitores
Muda sempre, à cada ano
É como na eleição
A gente vai aprendendo
Nem todo voto é perfeito
Alguém sai sempre perdendo
E até o voto da gente
De maneira consciente
Acaba surpreendendo
A gente vota no João
Com toda a fé e respeito
E quando termina a contagem
Que o João assim é eleito
A tristeza vai nascendo
O João mudou o discurso
Fala como amigo urso
Ninguém entende direito
A história é recente
Saiba meu bom companheiro
A gente votou no Luiz
O aprendiz de torneiro
Pensando na população
No progresso da nação
Assim ele foi o primeiro
Mas o tempo foi passando
Veio a falta de dinheiro
E o nosso presidente
Viajando o mundo inteiro
Em vez de ajudar o povo
Repete tudo de novo
Ajuda, só pra banqueiro
Não tem jeito, é bobagem!
Todo voto é traiçoeiro
Todo clique, enganoso
Preste atenção, usineiro
Pra resolver a questão
Só tem uma solução
Colocar tudo em primeiro
A verdade é uma só
O clique não vale nada
Ninguém garante, a rigor
A intenção da clicada
Um apelo chamativo
Ou qualquer outro incentivo
Tudo conta na jogada
Melhor é não preocupar
Deixar o placar de lado
Aprimorar a escrita
Sem esperar resultado
Escrever com o coração
Sem ligar para a questão
De ser bem classificado
O que é do homem, é certo
Diz o outro ditado
O bicho também não come
O que é seu, tá guardado
Basta escolher a semente
Ser humilde e paciente
Pra colher bom resultado
06 de novembro de 2003
Publicado, originalmente, na seção de Cordel.