MEU BRASIL, BRASILEIRO
(Por Domingos Oliveira Medeiros)
Não dá para compreender
Não dá pra ficar calado
No Brasil tudo acontece
Diferente do esperado
A votação em plenário
Do projeto do salário
Não passou pelo Senado
Depois de muita conversa
De tudo negociado
Deputado foi correndo
Pra votar no combinado
O maior que o presidente
Poderia dar a gente
Foi de pronto aprovado
No país bem conhecido
Pelo jogo bem jogado
O mínimo deu no que deu
Teve aumento apertado
Mas depois de muita briga
Muito grito e intriga
Foi de novo espichado
Vinte reais de aumento
Com mais quinze no Senado
O salário continua
Ainda bem defasado
Enquanto isso acontece
Muita gente permanece
Na rua, desempregado
Esse aumento, na verdade
Não resolve a questão
Nos termos que diz a Carta
A nossa Constituição
Salário capaz de cobrir
O morar e o vestir
De todo e qualquer cidadão
Seja pardo ou mulato
Mesmo afro-descendente
Branco feio e maltrapilho
Miserável ou dependente
Reza a Carta com razão
Que todo e qualquer cidadão
Terá um salário decente
A comida com fartura
Saúde e educação
Pra si e sua família
Manda a Constituição
Segurança garantida
Quanto ao custo de vida
Protegido da inflação
O Brasil tá precisando
De uma grande faxina
Pois tudo de ruim acontece
O exemplo vem de cima
Tem muita gente roubando
E outras atrapalhando
Nada de bom se ensina
Escândalos, falcatruas
Recesso com serpentina
Carnaval da impunidade
No Brasil virou rotina
São manchetes principais
Nas páginas dos jornais
A coisa nunca termina
V irou só banalidade
A rotina permanece
Apesar de que o povo
Brasileiro não merece
Tanto tempo esperando
Sempre o futuro adiando
E nada de novo acontece
Mas a culpa é conhecida
Quem tem a caneta na mão
Tem força e poder de fogo
A faca e o queijo na mão
Tem que manter a lisura
Caprichar na assinatura
Pensar na população
Do jeito que a coisa anda
Este é o indicativo
Não se tem mais solução
Com o Poder Executivo
Dando corda aos deputados
A troco de alguns trocados
Manda no Legislativo
Dinheiro que é retirado
Do orçamento falido
Que não cabe nem aumento
Do salário prometido
E que seria dobrado
No compromisso firmado
Ao eleitor iludido
E assim tudo acontece
Legalmente, autorizado
O Poder Executivo
Exerce o seu reinado
O seguro sem sinistro
Nomeia qualquer ministro
Sem saber do resultado
Fundações e Autarquias
E também nas embaixadas
Nomeadas pela caneta
As pessoas indicadas
Deputados, senadores
Não importam seus valores
Jogo de cartas marcadas
Basta ser muito discreto
Não falar, ficar calado
Nem precisa se matar
Pra dá conta do recado
E se o seu assessor
For pessoa sem pudor
Não será investigada
Pois aqui tudo acontece
Nos postos do alto escalão
Quase ninguém faz concurso
Alguém lhes estende a mão
Presidente de Estatal
Conselheiro do Tribunal
De Contas da União
E a coisa vai mais longe
Acho tudo isso errado
Até no Judiciário
Há pessoal indicado
Pela mão do presidente
Com o Senado conivente
Todo mundo é nomeado
No STF, também
Basta dar a pincelada
E o novo parlamentar
É a pessoa talhada
Ocupa a presidência
Não importa a preferência
Da equipe concursada
No MP, dá-se o mesmo
Comportamento aplicado
Todo Procurador-Geral
É de pronto nomeado
Da lista apresentada
Sua escolha é sancionada
Depois de sabatinado
E o topo da Justiça
Passa a ser todo formado
Raramente por juízes
Do Quadro de Magistrado
Ficando sempre a impressão
Que aquela nomeação
Tem a cara do ajeitado
Felizmente, a maioria
Demonstra muita isenção
Mas sempre paira dúvida
Sempre há preocupação
Exemplos é que não faltam
Aos olhos de todos saltam
Essa é minha opinião
Há um caso bem recente
Para o Egrégio Tribunal
Um Senador que responde
A processo criminal
Nomearam-no conselheiro
Sem se comprovar primeiro
Reputação para tal
Casos assim acontecem
Muita gente é nomeada
Sem o notório saber
Com a vida maculada
E outras, sem saber ler
Escrever, e o que fazer
Ocupam a Esplanada
Assim, suponho, acontece
Por conta da legislação
Que regulamenta o processo
Dos Cargos em Comissão
Não se exige competência
Nem sequer experiência
Basta sua indicação
Nem a escolaridade
É preciso comprovar
Não precisa saber ler
Nem tampouco trabalhar
Basta rezar na cartilha
Que a sorte logo brilha
Para o seu cargo ocupar
A desculpa é a mesma
Para qualquer nomeação
O cargo é de confiança
De livre exoneração
Mas a conversa é fiada
A lei foi toda arrumada
Cheia de contradição
O cargo é de assistência
Só devia ser ocupado
Além da experiência
Por alguém bem preparado
Pois nem sempre se afiança
A questão da confiança
Quem pra ele é indicado
Só confiança não basta
Veja o caso Waldomiro
Fez o jogo da propina
Apontou e deu o tiro
Bem no fio a navalha
Até hoje atrapalha
O pessoal lá de cima
Que mesmo assim ajudou
Aquele pobre coitado
A CPI foi rejeitada
Nada foi investigado
Conforme a lei determina
Cumpriu-se assim a rotina
Bem nas barbas do Senado
E assim tudo termina
Mesmo que seja flagrado
Com a mão na campainha
No painel lá do Senado
Abre-se mão do mandato
Volta a ser candidato
E de novo ele é votado
Na Saúde, outro exemplo
Igual ao do Waldomiro
O sangue contaminado
Pela turma do vampiro
Burlando a licitação
Prejuízo de bilhão
O assessor dava o tiro
Até nas Forças Armadas
O assunto é mal tratado
Colocaram agora um civil
Ao meu ver, desajeitado
Melhor era como antes
Na marinha os almirantes
Sempre um homem fardado
No exército um general
Conhecedor e guerreiro
Aeronáutica, também
Tinha que ser brigadeiro
Todos bem preparados
Homens acostumados
A lidar com os companheiros
Portanto, pra finalizar
Não há mesmo solução
Ou se faz ampla reforma
Ou se acaba com a Nação
Democracia é coisa séria
Não combina com miséria
Nem vive só de eleição