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Humor-->GUARIBAS - Ponto Zero da Fome -- 17/06/2004 - 21:50 (Domingos Oliveira Medeiros) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

A Fome Começa Seu Ponto Zero em Guaribas
(por Domingos Oliveira Medeiros)


A lua-de-mel está terminando. O casamento começou a deixar os sonhos de lado e ingressa, aos poucos, no processo mais realista da união eterna. Mas a festa, diga-se de passagem, foi muito bonita. O noivo, bem vestido e falante, estampava no rosto um eterno e largo sorriso. Distribuía autógrafos, como se tivesse ganho o Nobel da Paz. Autoridades, penetras, “beijoqueiros” e convidados anônimos trocavam empurrões, gritavam e batiam palmas. Promessas e emoções se misturavam aos discursos regados à lágrima e às lembranças da terra natal. Da infância. Do tempo de solteiro, em São Paulo. Do tempo de torneiro. Sem família para cuidar.

Terminam os atos e registros, assinaturas e apertos de mãos; e, há poucos dias da data do casamento, a realidade aponta na nova casa do marido e presidente. Sisuda e reticente. Ela traz a fome como prioridade. E mostra que há poucos recursos para levar adiante este empreendimento. Urgente e inadiável. Primeira lição: economizar é preciso. Comer, também. Eis a questão. Vamos comprar os alimentos na feira-livre, que é muito mais barato, dizem os especialistas. E lá se vão todos.

Defrontam-se com muitos abacaxis, de todos os tamanhos. Alguns mais azedos que outros. Há bastante pepino. Grandes e caros. As batatas, expostas ao sol, são quentes. Não dá para segurar nas mãos. É preciso deixar esfriar um pouco.

Mais adiante, o desperdício. Frutas e legumes amassados e jogados ao chão, são pisoteados pela população carente, que não tem o que comer (e nem com que comprar). Desperdício que compromete o já escasso estoque de recursos. Por conta, justamente, da queda na oferta dos produtos. Que faz aumentar a procura por alimentos. Os preços sobem. A inflação acompanha o fenômeno. O dólar fica mais caro. Aumenta o risco-Brasil. Diminuem os investimentos. A economia pisa no freio. A nota de R$50 reais já não vale o valor de face. O bolso do trabalhador sente a perda. E o esfomeado comprará e comerá , por certo, um pouco menos.

Mas a prioridade persiste. O combate à fome. A qualquer custo. Mas os atos e fatos são interligados. Não podem (ou não deviam) ser tratados isoladamente. Sem visão de conjunto. Sem alógica da execução premeditada. Segunda lição: há que haver planejamento. De curto, de médio e de longo prazo. Que comida oferecer? Como chegará a comida na panela do esfomeado? Quem cozinhará a comida? Fogão de lenha ? Existem lenhas?Talheres? Mas fiquemos na primeira pergunta: que comida oferecer?

Sim, posto que não se deve deixar o diabético comer açúcar à vontade. Biscoitos e doces estarão proibidos. Gordura, para quem estiver com os níveis de colesterol alterados, nem pensar. Pimenta, para quem sofre de hemorróidas, será um sofrimento só. Mas a questão é urgente. Temos que arriscar. Nesta hora, aparece outra prioridade: assistência à saúde. Serão necessários mais recursos. Cuidar da alimentação sairá mais barato. Significa, em tese, diminuir as filas e os atendimentos hospitalares. Que, aliás, não andam com esta bola toda. E também não dispõem de recursos próprios e suficientes.

E há os desnutridos. Que necessitarão mais do que a simples comida, ainda que de boa qualidade. Temos que levar os programas de vacinação em massa. E com os programas, vem a questão do saneamento básico. Antes de comer, lavar as mãos. E depois, um local apropriado para quando a alimentação der a volta pelo intestino. Mais recursos. Temos que ensinar comportamentos de higiene pessoal. Distribuir folhetos não dará certo. A maioria do grupo é composta de analfabetos. As informações terão que ser dadas pela via oral. Há que preparar grande contingente de recursos humanos em condições para desenvolver os programas. Mais recursos. E assim, outra prioridade salta aos olhos: há que zerar a fome de educação. De qualidade, também, é claro. Para adultos e crianças.

Com a educação, vem a necessidade de preparar o grupo para ingresso no seu primeiro emprego. O objetivo final do Fome Zero. Mas, antes, é preciso criar as condições para retomada do crescimento econômico, que resultará na ampliação da oferta de empregos. Com carteira assinada, para não aumentar o déficit da Previdência. Que, aliás, precisa ser reformada. Depois de bem discutida com toda a população. Quanto custará tudo isso? E quanto tempo levará? Quatro anos será pouco. Principalmente pela escassez de recursos. E o assunto, mais uma vez, abandona a área social e se volta para a área econômica.

Setor que, infelizmente, também necessita de reparos. Nossa dívida já atinge quase setenta por cento do PIB. Os juros e mais os encargos da dívida não param de crescer. Não sobra nada para investimentos. Não há perspectivas de retomada do crescimento econômico, pelo menos para este primeiro ano. O FMI e os banqueiros continuam do mesmo jeito. Não abrem mão de seus objetivos. Que vão de encontro aos do programa Fome Zero.

Começa a desconfiança. As brigas dentro de casa. A oposição do PT é a primeira a gritar. Mal sinal. O casamento começa a perder fôlego. Sem dinheiro e com a barriga vazia, não existe amor que dê jeito. Todo mundo discute, mas ninguém tem razão. Parece que Guaribas deverá continuar com a dieta forçada por mais algum tempo. Infelizmente. Irônico é saber que a moda é fazer dieta e ser magro.




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