Usina de Letras
Usina de Letras
65 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62201 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10449)

Cronicas (22534)

Discursos (3238)

Ensaios - (10353)

Erótico (13567)

Frases (50601)

Humor (20029)

Infantil (5428)

Infanto Juvenil (4762)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140793)

Redação (3302)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6185)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
cronicas-->Escada enclausurada -- 20/11/2000 - 11:36 (Renato Rossi) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Já há duas semanas venho frequentando as escadas do prédio onde trabalho. São vinte andares para descer, algo em torno de cinco minutos, com calma. Cinco minutos com pressa demoram mais ou menos três minutos, mas aí uso o elevador, que pode demorar entre dois e sete minutos. Para subir, vou de elevador até o décimo quinto e completo o percurso pela escada. Mais que cinco andares, pelo menos por enquanto, não consigo. Contudo, penso que posso evoluir e dentro de uns quatro ou cinco anos estarei subindo os vinte andares carregando um tijolo em cada mão. Neste ritmo, em dez anos o prédio poderá ter um andar a mais. Eu sei que não é muito, mas esta é a colaboração que poderei dar.

De qualquer forma, a questão não é esta. Estes prédios mais recentes (menos de vinte anos) têm as chamadas escadas enclausuradas. Trata-se de artifício de segurança contra incêndio, que pretende isolar a escada dos andares em fogo, permitindo assim a fuga com segurança. Com portas corta-fogo separadas por uma pequena antecàmara, evita-se que o fogo e a fumaça atinjam outros andares. Isolada, enclausurada, a escada fica à margem da vida do prédio. Ou deveria ficar.

Antes de iniciar o uso da escada fiquei imaginando como seria. Imaginei que sua condição de marginal da vida cotidiana do prédio ensejasse um sem número de atividades clandestinas, todo um mundo à parte, correndo à revelia do prédio. Imaginei que a descida seria emocionante, talvez alguns andares na penumbra, alguma fumaça de cigarros, garrafas vazias. Imaginei encontrar camelós em pelo menos três andares, sacoleiras a cada lance de escada, uma ou outra família de retirantes, talvez um bordel. Algum boteco de beira de escada ou pelo menos uma banca de frutas, pastel e caldo de cana. Algum pregador de rua, bíblia em punho, anunciando o apocalipse. Algum movimento. Relógios importados, DVDs piratas, capas para celulares. Achei que podia haver alguém cobrando pedágio e tinha até preparado uma desculpa para não pagar. Pensei comprar do cameló uma destas carteiras com o brasão da república, e um atestado médico exigindo que passe pela escada diariamente. Se o cobrador fosse menor que eu, mostraria a carteira. Se maior, faria uma cara de retirante e mostraria o atestado. É preciso estar preparado. Armei-me de coragem e desci. Iniciei no vigésimo e fui descendo até o térreo.

Nada. Nada encontrei. Decepção completa. Escadas limpas e quase sem vida. Solidão. É claro que entre uma e outra volta ocorre de encontrar um ou outro casal conversando sobre o número de degraus. Já encontrei pessoas limpando a escada. Outro dia bati com um apressado que vinha em grande velocidade, como se fosse subir os vinte andares em duas passadas. Alguma coisa sempre ocorre, mas nada que emocione. Nunca encontrei a Vera Fisher ou a Luana Piovani. Nenhuma valise com dólares (notas de cem), perdida, esperando para fazer justiça à minha necessidade.

De qualquer forma, continuo descendo e subindo. Nunca se sabe.

Escrito em 07.11.2000
Publicado na Seção Comentários do Cidade Virtual Brasília em 11.10.2000

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui