Usina de Letras
Usina de Letras
136 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62265 )

Cartas ( 21334)

Contos (13267)

Cordel (10450)

Cronicas (22539)

Discursos (3239)

Ensaios - (10379)

Erótico (13571)

Frases (50654)

Humor (20039)

Infantil (5450)

Infanto Juvenil (4776)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140816)

Redação (3309)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6203)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->DO NAVIO AOTRANSATLÂNTICO -- 16/03/2009 - 09:58 (RÔMULO OLIVEIRA MEDEIROS) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos





5

DO NAVIO AO TRANSATLÃNTICO


Ao iniciar a escrever o que me vem à mente sobre minhas lembranças,tento decifrar o termo transatlântico. Não poderia ser transpacífico ou transíndico caso o navio trafegasse naqueles oceanos respectivamente ? Não poderia ser transoceânico ?Após uma olhada no dicionário constato que a palavra significa “situado além do atlântico, o que o atravessa”. Um pequeno barco já atravessou o oceano atlântico e nem por isso pode ser considerado transatlântico ! Tudo bem, coisas da linguagem, mas o nome está sendo empregado aqui como “navio de passageiros de grande dimensões, nave luxuosa e confortável”.
A imagem do navio que se forma nesse momento tem o nome de Santarém, do Loyde Brasileiro, no qual fiz uma viagem do porto de Cabedelo em Pernambuco à praça XV no Rio de Janeiro. Nos idos dos anos 50. Era uma criança descobrindo o mundo, com medo do desconhecido, mas transbordando de alegria por ter um desejo realizado – estar viajando para a “Cidade Maravilhosa”, indo ao encontro dos pais e irmãos ! O sonho se tornou realidade quando iniciei a subir as escadas daquele navio. Minha primeira impressão era que estava pisando num transatlântico. Guardo essa lembrança até hoje ! Íntegra.
Aquela viagem que tenho memorizado com todos os sentidos, nos mínimos detalhes não devo transcrever aqui,pois se tornariam monótono para o leitor.Vou me ater somente aos fatos que mais me chamaram a atenção naquela época: o cheiro do arroz quente que me serviram no almoço; o aroma e o e o gosto doce das mangas que comia e me lambuzava todo; a atração visual e o perfume do gigantesco e atraente oceano, visto através de uma escotilha; o vai-e-vem das pessoas; o apito do navio quando cruzava com outro; os peixes enormes que ladeavam e o seguiam,ficando alvoroçados quando os restos de co
mida eram jogados ao mar. Eu, Teté (minha mãe preta que me criava) e meu irmão mais velho (Airton) estávamos na segunda classe, mas creio que, por ser criança, me permitiam freqüentar a primeira classe, uma vez que andava por todo o navio,escoltado por um anjo chamado Teté. Lembro do anzol feito com um alfinete torto amarrado em uma linha de costura, tudo preparado a pedido meu pela bondosa Etelvina. Óbvio que não consegui jogá-lo ao mar em direção aos peixes, pois o vento constante impedia, levantando a “linha de pescar”. Eu determinado a fisgar aqueles peixes enormes com aquela linha ! Quanta tolice ! Quanta pureza e fantasia própria de uma criança do sertão ! Que meiguice !
A chegada ao Rio foi emocionante e a primeira imagem que lembro ter visto foi o Pão de Açúcar. Era uma manhã de sol que brilha até hoje na minha vida ! Naturalmente, a criança bisonha e analfabeta proveniente do interior paraibano não tinha consciência de que o sonho realizado daquela viagem se tornaria inesquecível e era apenas o começo de outros maiores realizados com muito sacrifício naquela cidade e que se tornariam impotentes com as grandes recompensas colhidas pelo homem feliz e agradecido de hoje.
Um dia desses encontrei o Santarém ancorado no meio da Baia da Guanabara, todo enferrujado, parecendo estar abandonado. De fato li mais tarde em um jornal que o Loyde Brasileiro havia falido e os seus navios estavam sendo leiloados como sucata. Que triste fim teve o meu grande pequeno navio ! Não importa, foi bom vê-lo outra vez. Aquele mesmo navio que me proporcionou a realização do primeiro sonho, sonho esse que não se oxidou em mim !

Entre 1963 e 1964 servia na Fortaleza de São João e 2º Grupo de Artilharia de Costa, na Urca. Era madrugada de uma noite escura. Encontrava-me sozinho com um fuzil nas mãos sentado sobre uma pedra. Estava de serviço ao paiol da Unidade,no morro cara de cão,na entrada da Baia da Guanabara. De lá se avistava parte de Niterói, com suas luzes. Não poderia imaginar que iria, muitos anos depois, dirigir a Policlínica Militar daquela cidade e morar em Icaraí ! O) Sargento havia acabado de fazer a sua ronda e por isso estava sentado fumando para matar o tempo e espantar o sono, como costumava dizer os Soldados daquela época. De repente, em minha frente, deslizando lentamente em direção ao Porto, um navio transatlântico, todo iluminado, bem perto de mim ! Pude perceber que havia muita gente a bordo e o som me fazia supor da alegria reinante ali. Ato contínuo, vem em minha mente o minúsculo Santarém. Este pensamento foi tomado por outro – que coisa linda ! que colosso ! deveria ser muito dispendioso estar naquele navio. Eu nunca poderia imaginar viajar num “bichão” daqueles. Admirei-o até o seu desaparecimento atrás da montanha. Era um verdadeiro gigante dos mares ! Senti-me só, mas amparado pelos meus sonhos de adolescente.
Anos mais tarde aprendia na Escola de Comando e Estado- Maior do Exército que não se deve empregar os termos “nunca” ou “sempre” em nossos planos ou em nossas redações. De fato, são termos que não resistem a verdade ou ao tempo, e, exatamente foi o que aconteceu mais tarde para corroborar esta afirmação.
Era noite alta quando passando no mesmo local a bordo do transatlântico italiano Costa Tropicali, de regresso de um cruzeiro a Buenos Aires e Punta Del Este,, Eu , a Cecília e um casal de amigos desfrutávamos de mais um sonho realizado – um cruzeiro acompanhado da esposa e amigos. O Costa é muito luxuoso, uma verdadeira pérola, com muitos quadros e obras de arte espalhados pelos seus imensos e variados ambientes, espalhados nos seus doze andares,unidos por igual número de elevadores. Existem também três piscinas, sala de jogos e musculação, salões de festa, dois restaurantes, saunas, pista de corrida, cinema, teatro boates, lojas
Com produtos importados, comida italiana e mundial servida a vontade, acompanhada de musica ao vivo e shows variados. Um primor ! Tudo com ar condicionado e muita diversão. Apresentação de bandas, orquestras, cantores e artistas internacionais. A nossa cabine ficava no sexto andar e da janela via-se o mar ! Uma viagem inesquecível !
Pois bem, estávamos regressando naquela mesma viagem, entrando na Baia da Guanabara, passando exatamente pelo mesmo local, mais ou menos no mesmo horário, daquele transatlântico avistado muitos anos atrás avistado por mim. Não pude deixar de agradecer a Deus por ter me concedido todo aquele privilégio . Claro, comentei com os presentes sobre o tempo de caserna, quando era Soldado e estava do outro lado dessa estória. Ali naquele morro ! Não me sentia só, mas agradecido , feliz e realizado.

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui