img:tENERIFE
Levantei-me ás 11hs.minha toilette dura quase meia hora;banho,higiene bucal,cremes no corpo e rosto,escovar cabelo,perfumar-me e vestir-me.Faço 15mts. de ginástica;Com o mar tão violento o passeio até a proa fica comprometido e perigoso.;não se descarta uma queda seguida de uma fratura.;os tripulantes andam cheios de casacos alcochoados,grossas luvas e sandálias antiderrapantes.Com o mar passando por cima dos containeres,varrendo o parque,amanhece tudo molhado e escorregadio no chão liso de ferro do navio.
Tomo café com a tripulação,no deck,;levo “madaleines” para nós;La estava o Noel tocando violão e o “spark”;que perguntou se eu estava com medo;eu disse:-você está?ele disse que não;então,falei: -nem eu.Certo que o navio não aporta na Bahia;terei que descer em Vitoria.Francis e o Cap. continuam invisíveis;desci para tomar uma sopa quentinha e quando passei pela cabine deles a porta estava aberta;bati discretamente,mas,ninguém respondeu;deviam estar no quarto;O Cook veio saltando,alegre,para mim,mas,não subiu as escadas.
À meia-noite passaremos por Cabo Verde .Ray vai telefonar para eu tentar rever melhor o Cruzeiro do Sul.
A propósito de meus amigos fico pensando como seres humanos que se querem podem ser tão destrutivos uns com os outros.Um filósofo disse que a pessoa que a gente ama é a que nos faz sofrer mais do que qualquer outra;às vezes a agressão é velada,vem envolta em nuvens de algodão e parece cuidado,carinho;esta é,de longe a mais perigosa.Nenhuma relação em que a pessoa tenha que se deixar anular é benéfica.Só pessoas livres podem decidir;só pessoas donas de si mesmo,do seu espaço,do seu corpo e de sua alma podem fazer bonitas doações de si mesmo para outras pessoas.O amor é uma arma de dois gumes e um sentimento perigoso.”Não amar é sofrer,amar é sofrer mais.”,recitava o Juca Mulato,no belo poema de Menotti Del Picchia. .Penso em mim e no Raul;apesar de juntos a nove anos,de mantermos uma relação sólida e de viajar muito e manter meu próprio espaço(como ele também) nos mantemos fieis um ao outro,amigos e companheiros.Ninguém precisa policiar,nem ser policiado.ás vezes falta um toque romântico em nosso relacionamento e para quem olha de fora,com um olhar crítico,até parece que não nos importamos um com o outro,que não nos queremos tanto assim;por certo não seguimos os padrões de novela,mas,a máquina que sustenta este barco é sólida,firme e embora falte um pouco de glamour é ela que mantém o barco andando.Meu marido nunca me tirou o direito de tomar decisões,nem eu a ele;nenhum de nós precisou abdicar de sua personalidade para se tornar uma meia pessoa,não vendemos nosso ‘eu” em troca de fúteis compensações;não somos “cara-metade” um do outro;somos dois indivíduos.Se você quer muito alguém o deixe livre;se for seu,voltara;se não voltar,não era seu...
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