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Cronicas-->Equilíbrio Demográfico -- 11/11/2005 - 10:01 (Gisela Scheinpflug) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Há aproximadamente 8 anos atrás assisti a um documentário que passou no GNT, e que chamava-se "Os Quartos da China", ou algo muito próximo deste título. A reportagem alertava os perigos que assolariam futuramente aquele país, devido a uma situação que misturou política e costumes em um caldo nada digestivo para os olhos ocidentais.

O governo chinês, naquela ocasião e com o objetivo de conter a explosão demográfica, limitou o número de filhos por casal, sendo que cada casal poderia ter apenas um filho. A multa para os casais que insistissem em ter mais de um filho era bastante salgada, e a situação geral de pobreza que o país passava impedia qualquer movimento contrário às políticas públicas.

A reportagem apresentava a preferência geral dos orientais em ter filhos homens, uma vez que uma filha mulher nunca teve o mesmo valor que um filho varão, na escala oriental de valores e crenças. Frente a tal situação, a reportagem denunciava práticas tão cruéis quanto comuns para a população chinesa. Podendo se dedicar somente a um filho, os chineses preferiam os filhos homens, e desta forma tratavam de se livrar de suas filhas mulheres tão logo as percebessem como tal. Abortos eram realizados aos montes, assim como o abandono de meninas recém nascidas. Talvez devido a população ser muito grande em um país tão pobre, e certamente agravado pelo fato de que todos os chineses serem todos tão parecidos entre si, era impossível descobrir a origem da criança, e desta forma aplicar algum tipo de sanção aos pais, executores de tão abominável prática.

A denúncia da reportagem abrangia não somente as meninas, mas também as crianças que nasciam foram do padrão de perfeição tão arduamente desejado não apenas pelos chineses, mas por todos os casais de futuros pais de todas as regiões do Planeta Terra. O contingente de meninas unia-se ao de crianças defeituosas, e acabavam por crescer e se desenvolver em clínicas e orfanatos fundados especialmente com a finalidade de atendê-las, mas que estavam longe de receber o título de "especializadas". Seria mais conveniente chamá-las de "casas de rejeitados".

Imaginando a enormidade da pobreza geral de um país que, para sua própria sobrevivência, resolve aprovar uma lei tão desumana, é possível ter uma pequena idéia do ambiente e do incentivo que este mesmo governo supostamente proporcionava para o sustento deste pequeno exército de crianças rejeitadas. O documentário deixava na lanterna os melhores filmes de terror.

Analisando a atitude um tanto quanto radical tomada pelo governo chinês, surgem algumas divagações a cerca dos sacrifícios que fazemos, sejamos nós um país com a China, ou simplesmente uma família desejando um futuro melhor e em busca de uma situação futura mais confortável. Muitos sacrifícios são feitos em nome do futuro, e não acredito que nos caiba criticar nem mesmo atitudes como estas, pois somente absorvendo o momento e a situação, colocando-se literalmente na pele dos supostos acusados, seria possível realmente entender o que torna o ser humano tão cruel.

Assisti a um filme europeu, acredito que italiano, e muito interessante, chamado "Ágata e a Tempestade". O filme, do mesmo diretor de outro filme maravilhoso chamado "Pães e Tulipas", trata de um rapaz que ouve sua mãe lhe contar, em seu leito de morte, que ele tem um irmão mais velho até então desconhecido. Tal filho fora vendido a uma família de posses para salvar a sua família original da miséria absoluta na qual se encontrava. Embora a história pareça triste, é na realidade um filme que fala da vida e do processo de transformação que felizmente nos acontece em alguns doces momentos pelos quais passamos. É um filme altamente recomendável. Lembrei dele porque, com o dinheiro da venda do filho, foi possível comprar uma máquina de costuras que proporcionou o sustento da família por muitos e muitos anos. É uma situação quase tão cruel quanto a dos chineses, talvez perca apenas pelo fato de ser um ato isolado, e não coletivo, e pelo fato de ter proporcionado uma vida melhor a todos os envolvidos, inclusive ao próprio vendido.

Talvez não existam pessoas cruéis, e sim, momentos cruéis pelos quais passam algumas pessoas, famílias, cidades e países. Presenciamos crueldades a todo o momento, mas não consigo acreditar que as pessoas possam ser deliberadamente cruéis, a não ser que tenham realmente desvios psicológicos muito graves. Bom, não descarto a possibilidade de um dia concluir que a maior parte da população possui desvios psicológicos graves.

Pois o futuro chegou na China, e hoje eles colhem bons frutos, sendo um país em amplo desenvolvimento, uma nação que reergueu das cinzas, tal qual o Japão já havia feito em tempos passados. A algum tempo atrás fiquei sabendo que o numero de filhos permitidos por casal já havia aumentado para dois naquele país. A crise então parece estar passando, e os chineses estão se reestabelecendo.

Eis que na Revista Veja desta semana surgiu uma reportagem sobre demografia. A chamada da reportagem, que foi o que li até o momento, serviu de estímulo para pipocar em minha caixola algumas outras divagações que me são próprias.

A Reportagem, entitulada "O País dos Solteirões", fala da situação atual na China, que apresenta um excesso de 23 milhões de rapazes. Isto mesmo mulheres, vocês leram bem, não existe nenhum engano aqui. São realmente 23 milhões de homens a mais do que mulheres. Um em cada seis homens chineses se transformará em um solteirão, pela pouca disponibilidade de "mão de obra feminina". Eis que, mesmo justificadas, as crueldades do passado acabam por ressurgir e atormentar as mentes dos seus executores, de uma forma ou de outra. No filme que citei, a crueldade atormentou o leito de morte da mãe que vendeu o próprio filho. No caso dos chineses, gerou um novo problema social que sabe-se lá como será resolvido, isto se realmente, desta vez, houver solução.

Outra questão é que, na natureza, nascem mais mulheres do que homens. Esta sempre foi a forma sábia da natureza encontrar seu próprio equilíbrio, pois sendo as mulheres mais frágeis, a taxa de mortalidade sempre foi maior entre elas. Atualmente, com a evolução da saúde e da medicina, as mulheres estão sobrevivendo mais, justificando o excesso feminino tão comum na maior parte das regiões. Imagine então o tamanho da atrocidade realizada pelos chineses, para resultar em um excesso contrário, e de um contingente tão significativo.

A natureza em geral é sábia. Talvez a solução para a China fosse uma guerra civil, ou uma daquelas pestes que nos assolam, um gripe aviária ou um Tsuname qualquer. A natureza sempre dá um jeito de resolver os enigmas que surgem. Pena que o homem em geral não tenha paciência para aguardar as manifestações do universo, e acabe por se intrometer e alterar o script. E por falar em crueldades, as soluções que a natureza proporcionam também não podem ser chamadas de amenas.

Mas, se pelo menos os chineses fossem mais bonitinhos...
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