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Poesias-->VOO CEGO -- 25/03/2010 - 07:32 (Marluci Ribeiro de Oliveira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Nasço desnuda, desdentada, olhos fechados para o mundo.

Ser ainda desconexo, acoplado ao umbigo externo, imundo.

Sedento de carinho, faminto de calor, carente de afeto.

Meio bicho, meio planta, uma espécie de bibelô e feto.



Sou visto antes de nascer, em uma máquina que lembra o raio X.

Posso ser motivo de lágrimas de quem já me ama ou se vê infeliz.

Chupava dedo no ventre, calmamente, sem escrúpulos...

Dava cambalhotas, sem ter medo do ridículo.



Mas eis que afloro pra luz mundana, à espera do banho inaugural

E me banho de lágrima, de medo e de frio, em choro gutural.

Aos poucos reconheço vozes, gritos, sussurros, gargalhadas

E percebo quanto os adultos são afeitos a palhaçadas...



Fazem caretas, vozes infantis. Compõem músicas esquisitas

E me sacodem muito nos braços, em meio a laços e fitas...

Quase me sufocam. Mas teimo em crescer e passo a caminhar.

São passos trêmulos a princípio, mas logo quero voar.



Sigo a esmo. À procura de mim, mesmo. Num eterno sei lá.

Nem sempre encontro apoio, mas invento patuá.

Sinto que a cobra cega é minha brincadeira eterna,

Nessa cela da vida – meio playground, meio caserna.



Meus olhos não me bastam. Minha visão se limita.

Enxergo bem poucos metros. A paisagem é diminuta.

Mas o que mais me intriga

É discernir quem será minha verdadeira amiga,

Minha paixão bendita

Ou me dará cicuta.



Bebo sofregamente o cálice da morte,

A cada dia. Sem destemor.

Não vejo perigos, não pressinto dores,

Creio na sorte,

Na saga dos vencedores,

Na força do amor.



E continuo sob a cortina,

Em meio a uma densa névoa,

Perdida na bruma,

De uma noite que termina

(Sem mais uma)

E me leva.



Por isso sigo cega, numa caixa escura,

Encerrada num fosso fundo,

Cercada de pessoas com traje escuro,

Andando em linha, taciturnas...



Parece uma doença sem cura,

O maior mal desse mundo,

Deixando-nos em apuros

Sob as furnas...



Mas é simplesmente o retorno ao pó,

A transformação da carne, do ser.

O voltar a ser desdentada, imunda,

Coberta de terra e é só.



Só uma forma nova de renascer,

De ampliar a cova funda

Que se aprofunda

E não tem fim.



Mais um vôo cego,

Para quem tem venda

E não quer crer

Que somos arma

E estopim

De tiros certeiros

Que damos, ligeiros,

Em alvo afim.

Um tipo de mira

Voltada pra mim.

Por isso mesmo

Se atirei ventura

Colherei regalos.

Mas se disseminei tortura

Viverei abalos.

E, mais tarde,

Sem a venda,

Reconhecerei minhas tentativas,

Meus acertos.

Remoendo erros

Enquanto viva.





Mas tentarei retornar à cela.

Voltar banguela.

Chorar de novo.

Sair do ovo,

Voltar pra cova.

Ansiar a sova,

Pra aprender mais um pouco.



O ser humano é louco!

Porque se entrega

Continuamente

Como um ente

Que voa às cegas...

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