HÁ MAR
As portas pretas fogem de mim, ligeiras,
À medida que aperto o passo.
Nos corre-dores
Sombrios da UnB.
Pelas escotilhas de vidro transparentes
Entrevejo o embate
Das pessoas
Encharcadas de vaidades,
Sedentas de saber.
Não sei se estou presa
Ao casco do navio
Enxergando seu interior
Ou, se ao contrário,
Desfilo assistindo ao frêmito
De quem se agarra à embarcação
Fugindo do naufrágio,
Mareado de pavor.
Vou sentir falta do nado
(Ou do nada)
Das braçadas
Barulhentas
Que a fina camada
De gesso
Mal consegue abafar.
Porque
Nem mesmo sei
Se esse gosto de sal na boca
É produto do mar
De saudade
Ou de mágoa.
Da mesma forma
Que mal diviso
Onde essa vida deságua!
P.S.: Poema escrito em 25/6/2007. As portas da UnB (campus Darcy Ribeiro, prédios João Calmon e Anísio Teixeira) são pintadas em preto, com janelas circulares de vidro, à semelhança de escotilhas. Além disso, são prédios com corredores compridos, térreos e mal iluminados.
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