Pó-ema
Por Marluci Ribeiro de Oliveira
Em 14/04/2003 (Ana Zélia)
Poema se constrói. Tem mil faces.
Traz em si a forma, a sedução, o estilo.
Por mais que se intentem disfarces,
Nada lhe cobre o viço ou tende a feri-lo.
Só olhos mui sagazes
Lhe extraem o sumo, o peristilo.
O néctar com que os deuses se comprazem
E podem usufruí-lo.
Poema tem suas bases,
Com as quais podemos senti-lo.
É fluido como os gases,
Tangível como um silo.
Poema é pó. São asas.
Se vende a granel, a quilo.
É algo que se entuba, embrulha e envasa
Mas se perde ao se tentar segui-lo.
Poema é só. Não casa.
Se reproduz, mas é sempre filho
De um poeta malsão que extravasa
O momento que lhe saiu do trilho.
Faz da vida um refrão, um estribilho.
Transforma em feixe de sons o que era brilho,
Embaralha as formas do que parecia lindo.
Seduz o que era inócuo, o torna infindo.
Se satisfaz sendo a fonte do problema
E a rima da solução renovadora.
Tudo isso é o poema:
Pandora,
Medusa,
Tântalo.
Prescinde de musas,
De sândalos
E aurora.
Nasce natimorto
E se imortaliza.
Se faz torto
Entre balizas.
Se recusa à métrica,
Abusa.
É figura tétrica,
Intrusa.
Pode ser cântico, hino
Encantar serpentes,
Causar desatinos,
E, entrementes,
Retomar destinos
Sem vãs recusas.
Poema mente. Poema chora.
Sorri amarelo entre dentes.
Faz que volta ao ir-se embora,
E é o mais sozinho dos entes.
Bifurca. Afunila. Choca.
Espeta qual tridente.
Poema cutuca. Provoca.
É o riso soturno, silente.
Poema não se poematiza.
Se sente.
Se esvai fresco como a brisa
E devasta tudo qual procela.
Poema é antes de tudo a vida:
Enigmática e bela.
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POema da poetisa Marluci Ribeiro de Oliveira, uma mulher completa. Mãe, esposa, com formação superior em Administração de Empresas, com Locução e Apresentação para rádio e Televisão, pela Fundação REDE AMAZÔNICA- Manaus/AM, uma poeta que sente na alma o sabor dos versos que exprime toda a beleza que existe em si. É com muito orgulho que a apresento. Londrina-PR, 04.03.2010 (Ana Zélia)
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