Usina de Letras
Usina de Letras
136 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62213 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10450)

Cronicas (22535)

Discursos (3238)

Ensaios - (10356)

Erótico (13568)

Frases (50606)

Humor (20029)

Infantil (5429)

Infanto Juvenil (4764)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140798)

Redação (3303)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6185)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Cronicas-->O MARQUÊS -- 27/10/2005 - 11:30 (MARIA HILDA DE J. ALÃO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos





O MARQUÊS


Maria Hilda de J. Alão.




Tudo começou num dia de temporal muito forte. O servente olhou o pátio da escola, estava inundado pela chuva e com muitos papéis, restos de lanches, copos descartáveis e pensou no trabalho que daria para limpar aquele espaço que, como ele dizia, não tinha mais fim. Fazer o quê? Pegou a vassoura e começou a limpeza. Estava quase terminando quando viu uma coisa enrolada lá no cantinho onde terminava a parede lateral da casa de força. Aproximou-se devagar, e qual não foi sua surpresa: era um cão. Estava tão encharcado pela chuva que mal podia levantar a cabeça. O homem pensou: - Essa não! Além dessa molecada endiabrada ainda me aparece um cachorro! Passa fora, cão danado!
O pobre animal levantou a cabeça e olhou para o homem com uns olhinhos chorosos. Ganiu. Foi um ganido tão triste que tocou o coração do servente. Ele pegou o animal, levou para o quartinho onde guardava o material de limpeza e secou-lhe o pêlo com panos de chão. Em menos de trinta minutos ele estava pronto. Lambia as mãos do homem em sinal de agradecimento. Foi alimentado e ficou no quartinho onde dormiu para recuperar as forças. No dia seguinte, pátio repleto de crianças, período diurno da escola, eis que aparece aquele cão preto e branco,peito empinado com um quê de realeza, com um rabo que parecia de um tamanduá-bandeira. As crianças queriam saber de quem era o animal. Se havia um dono, só ele sabia. O que se sabia era que ele apareceu na cauda da tempestade.
Um aluno teve a idéia; se ele não pertencia a ninguém, então seria da escola. E foram falar com a diretora que consentiu na permanência do animal desde que não houvesse perturbação da disciplina. E o nome? Será que ele tem um? Então ele será chamado de Marquês como a escola, disseram alguns alunos.
Era Marquês pra cá, Marquês pra lá, e assim o cão ficou morando na escola Marquês de São Vicente. Comportava-se com muita educação, era amigo de todo mundo. Jogava futebol com a criançada e até torcia com latidos fortes quando alguém marcava um gol. A escola, além do período diurno, tinha o noturno, frequentado por clientela mais velha. Esses também se apaixonaram pelo cão. A noite o animal fazia companhia ao vigia noturno, sr. Maneco. Eram inseparáveis. Os alunos do noturno o chamavam de Maneco. Pensam que o vigia se importava com isso? Nem ligava. Quando alguém chamava o vigilante, corriam os dois, homem e animal. De dia ele era Marquês e à noite Maneco. Uma noite a diretora ouviu uma gritaria no pátio, correu prontinha para separar uma possível briga de alunos. Mas quando chegou ao local o que ela viu foi o Marquês/Maneco correndo feito um louco, com a bola de futebol na boca e a molecada atrás dele para tomá-la.
Era uma cena engraçada. O cão parava um pouco para descansar e quando os alunos estavam bem perto ele agarrava bola e começava tudo de novo. Quando conseguiram recuperar a bola esta já não servia para jogar, estava furada pelos dentes e vazia.
Numa manhã o Marquês/Maneco conheceu uma pessoa que morava do outro lado da avenida, em frente à escola. Foi atração mútua. O senhor passou a mão na cabeça do cão, ele abanou a cauda e acompanhou o homem até a sua casa do outro lado da avenida. Ficou por lá. No dia seguinte não apareceu na escola. Os meninos ficaram tristes. O que teria acontecido? O homem veio falar com a diretora e lhe disse que o cão estava em sua casa, que já o mandara embora mas ele não quisera sair. Ficara deitado na calçada em frente da casa. As crianças o avistaram na calçada e chamaram: - Marqueeeeês...!.
Ele veio, rabo entre as pernas como quem pede desculpas, festejou os amigos mas sempre com os olhos na casa do outro lado da rua onde ficara a cadelinha, motivo de seu desaparecimento. Finalmente encontrou a solução: ficava um pouco na escola, um pouco na casa do outro lado da avenida.
Um dia, numa de suas escapadas para ver a amada, Marquês/Maneco foi atropelado por uma moto cujo condutor se evadiu e o deixou estirado no chão sangrando e ganindo de dor. Foi um alvoroço. As crianças correram em socorro do amigo. O dono da casa providenciou a remoção do animal para o veterinário que ficava na esquina. A garotada do diurno e do noturno fizeram "vaquinha" para arrecadar dinheiro e assim custear as despesas com o tratamento. O cão foi atendido e ficou internado. Os meninos invadiram a clínica para visitar o amigo e saber se ele iria se recuperar. "Doutor, será que o Marquês vai sarar?". "Vai sim" - respondia sorrindo. O doutor disse que era a primeira vez que isso acontecia em sua clínica. Nunca vira tanta criança visitando um simples cão. Só que ele não sabia que aquele não era um simples cão; era o Marquês/Maneco.

Nesse dia o Marquês/Maneco teve certeza do quanto era amado. Recuperou-se e voltou a sua velha vidinha dividindo seu tempo entre a escola e a casa do outro lado da avenida, até que, já entrado nos anos, partiu para o "céu dos cachorros".



Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Perfil do AutorSeguidores: 24Exibido 840 vezesFale com o autor