Era o que faltava. Agora as galinhas têm gripe. Já vi cachorro com pedra no rim e ataque epilético . E tenho um gato que receio ser psicopata.
Não imagino uma granja cheia de galinhas gripadas. Todas assoando o bico escorrendo de coriza, asinhas segurando um lenço e os pés numa bacia de água quente.
Tenho um amigo que cria galinhas em seu sítio que jura ter visto duas penosas trocando receitas de chás com mel, limão e agrião. Como ele é mitómano, não sei se devo acreditar.
Pensar em um galo rouco de gripe cantando desafinado às cinco da madrugada me parece irreal.
Assim também como uma galinha forçando o bico de seus pintinhos para enfiar uma colherada de xarope amargo na moela deles. Exatamente como minha mãe fazia comigo, embora, deixando claro, ela não fosse uma galinha.
Imaginem o diálogo no galinheiro:
- E aí, Giselda, melhorou da gripe? Tá de crista baixa...
- Que nada, o pior é que tomei tanto mel que me soltou a cloaca.
- Cuidado quando espirrar.
- Pois é, vou sujar todo o pau do galinheiro.
- Foi ao veterinário?
- Sim, ele disse que é um vírus que vem da Ásia.
- Pense pelo lado positivo, pelo menos não vamos virar almoço no domingo.
- Sim, mas vamos ser sacrificadas do mesmo jeito.
- Mas será que não damos sorte?
- Pelo menos ele disse que temos que comer muito.
- Que bom.
- Bom nada, vamos engordar.
- Mais vale uma gorda feliz do que uma magra frustrada.
- É verdade...
- Já fez bacia de água quente?
- Tenho medo de virar canja.
- E o galo Tião? Melhorou?
- Nada, está com uma dor de cabeça que dá pena. Essa noite tive que acordá-lo para fazer seu serviço de despertador. Foi até com um cachecol no pescoço para não tomar friagem.
- Coitado. Bem, se cuida amiga.
- Você também, querida. Não vou beijá-la para não passar gripe...
Incrível o poder de vingança da natureza. Furacões, enchentes, secas e pragas à profusão. Dilúvio, Sodoma, gafanhotos. Estaríamos revivendo aqueles momentos do Velho Testamento em que Deus era vingativo e parecia não demonstrar misericórdia?