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Cronicas-->O "eu escritor" -- 14/10/2005 - 09:52 (Gisela Scheinpflug) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Em meio a uma característico papo telefónico bem ao estilo "sala de terapia", minha amiga mandou eu tomar vergonha na cara, e ler meus próprios textos. Ela disse que, muitas vezes quando falo com ela sobre os momentos e as situações que enfrento, não pareço ser aquela mesma pessoa que escreve. Então eu confessei a ela, e confesso agora ao público leitor deste singelo espaço, que eu releio sim, os meus próprios textos. E já faz um bom tempo que isto vem acontecendo.

Na realidade, tenho o costume de ler meus textos repetidamente, sempre que sinto necessidade de me convencer de alguma opinião ou ponto de vista que não consegue ser absorvido emocionalmente da maneira adequada, pela minha às vezes teimosa caixola cerebral.

Talvez eu releia os meus textos porque, em muitos momentos em que escrevo, sou regida pelo meu lado racional. Talvez seja até mesmo uma tentativa de convencimento do meu outro "eu racional" junto àquele que flui e deixa-se levar: o meu "eu emocional". O resultado final é que muitos textos parecem realmente que não foram escritos por mim.

Escrever também é uma forma de dizer algo para nós mesmos. É realmente uma forma de auto-convencimento. Uma forma de auto-catequização. Existem situações em que não consigo ouvir a minha voz interior, e escrever facilita para que esta voz tome corpo e apareça. Em outros momentos sinto que escrevo quase em estado de catarse. Em outras tantas tenho a impressão de que é meu alter-ego quem escreve, aquele que, até onde vão meus parcos conhecimentos de psicologia, é o nosso eu mais louco, o mais intenso de todos. Aquee doido varrido que não costumamos deixar sair de dentro de nós.

Esta conversa toda está me lembrando muito aquele filme com o Jim Carrey, chamado "Eu, Eu mesmo, e Irene", onde o Jim Carrey faz o papel de um homem com dupla personalidade, sendo que o outro eu dele é completamente alucinado. No filme, uma comédia recomendável, ao acordar pela manhã e perceber um brinquedinho erótico de forma fálica e tamanho volumoso fazendo parte da paisagem da cama do casal. Jim Carrey segura o objeto nas mãos e pergunta à sua namorada se ela se divertiu o suficiente na noite anterior. Ela responde que não foi exatamente ela quem brincou com tal objeto.

Lembrei deste filme porque sempre fui uma pessoa impulsiva, e esta característica gerava alguns problemas em minha vida. É bom deixar claro que aquela dupla personalidade que o Jim Carrey apresentava no filme era bastante diferente do comportamento impulsivo que eu tinha, mas o filme cumpre o seu papel. Como toda a boa comédia, extrapola as situações e nos faz rir de nós mesmos.

Existem momentos em que o "eu impulsivo" me colocava em situações bastante difíceis. O impulso é irmão da ansiedade, e um grande aliado da auto-sabotagem. São amigos íntimos, diga-se de passagem. O impulso sabota o "eu escondidinho", este que não lembro o nome técnico-psicológico, mas que instantaneamente me fez lembrar daquele prato maravilhoso de mandioca com carne de sol, da Cachaçaria Água Doce, o tal Escondidinho. Se você ainda não provou, prove. É uma delícia.

O "eu escondidinho" era tão tímido, que precisava do comportamento impulsivo para sair do armário. Na marra. E era ali, naquele exato momento, que eu botava os pés pelas mãos. Com a bagunça feita, entrava na cena um outro eu, o "eu racional". Este tratava de colocar ordem no barraco, e de buscar novamente o controle da situação.

Algumas pessoas muito queridas saíram da minha vida nestes momentos impulsivos de auto-destruição, e se negavam a voltar, mesmo depois de passado o furação, quando o meu "eu racional" implorava por perdão. Felizmente, agora o barraco foi derrubado, e no lugar dele construí uma casa agradável de viver. Ampla, espaçosa, e silenciosa. Almofadas pelo chão, alguns objetos japoneses, uma samambaia caindo do teto, e uma bossa nova tocando ao fundo. E aos poucos estou buscando de volta para a minha vida todas as pessoas que me fazem bem.

Com o impulso e a ansiedade sendo dominados, a nova sensação que surgiu foi como se eu estivesse com o freio de mão puxado o tempo inteiro. Descobri então que eu jamais agia movida pelas minhas emoções, porque era o impulso quem tomava conta do campinho otempo inteiro. Era uma luta desenfreada entre a razão e o impulso. O impulso perdeu terreno, e o novo momento é de descoberta: estou em busca do que diz as minhas emoções. O racional, este pobre coitado, está desesperado. Tenta o tempo todo controlar a situação, mas eu já percebi isto, e tenho conversado com ele constantemente no intuito de tentarmos nos entender, encontrando um meio-termo mais adequado.

Somos seres complexos, e a mesma mulher que é tão forte, as vezes é apenas uma menininha frágil que precisa de um bom colinho. A executiva também é estudante. A intelectual gosta de fazer esportes e curtir a natureza. Então muitas vezes uma destas mulheres acaba emprestando algum conselho bacana para a outra, que está precisando no momento.

Enfim, não me sinto culpada em agir de forma diferente do que escrevo. Apenas me sinto humana, viva e bastante normal. Escrever é uma forma de ordenar os pensamentos, de deixar os sentimentos aflorarem, e também de racionalizar as emoções. Me sinto um pouco triste, confesso, pois seria muito bom se eu conseguisse colocar em prática tudo o que eu escrevo.

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