O que é Feito de Ti
A última vez que te vi,
Estavas bem.
Parecias restaurado, a companhia
Ma pareceu sadia, envolta de sabedoria.
Gostei de te ver assim.
Remoçaste.
O bem-estar se encarregou de harmonizar
O que te andava a perturbar.
Dúvidas, descrenças, ausências.
Deixaram de ser.
Parecias-me tocado por algo transcendental.
Alguém que se elevou, mais perto de Deus
Chegou.
O que andas a escrever tem a leveza da
da certeza, a paz de quem foi capaz de ultrapassar
o Cabo Bojador.
Ir além da dor.
Para trás a dolorosa solidão de cortar o coração.
Agitação, indecisão, a sombra daquele
Fantasma a te rodear, sempre a te lembrar
Que não adianta querer o que não se pode
Ter.
Não era assim, sabias-te um mar sem fim.
Impossível encurtar a viagem.
Querer só o que está para aquém da miragem.
Vi-te então como alguém que decifrou o teorema,
Resolveu o problema.
Aprendeste a viver sem querer.
O herói que querias ser, és agora.
Deixaste a hora ser mais, o dia falar mais alto
E a noite dá o recado: dita o que deves escrever
no livro inacabado.
Lita Moniz
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