Usina de Letras
Usina de Letras
141 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62219 )

Cartas ( 21334)

Contos (13262)

Cordel (10450)

Cronicas (22535)

Discursos (3238)

Ensaios - (10362)

Erótico (13569)

Frases (50612)

Humor (20031)

Infantil (5431)

Infanto Juvenil (4767)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140800)

Redação (3305)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6189)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Cronicas-->Militar morto em Guerra Civil -- 09/10/2005 - 01:09 (Carlos Eduardo Canhameiro) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Militar morto em Guerra Civil
Carlos Canhameiro

"O estado de paz entre os homens que convivem lado a lado não é um estado natural, sendo este muito mais um estado de guerra" Kant

Bandeira tatuada nas costas. Primeiro dia no fronte de batalha.
- Onde estão as estrelas da bandeira?
- Virão com o tempo. Cada inimigo morto, uma estrela nas costas!
- Que você tenha costas largas.
Carimbado com cinco tiros, o jovem de peito forte tombou e onde caiu apodreceu. Virou estrela nas costas do inimigo.

- Como você sabe quem é o inimigo?
- Atiro em tudo que se move.

- Olha, ela não é linda? Angélica.
ATENÇÃO PELOTÃO ÁGUIA DOURADA 5. MANOBRAS DE RECONHECIMENTO DA ALA SUDESTE EM CINCO MINUTOS.
- Preciso ir, minha primeira manobra.
CAíMOS NUMA EMBOSCADA. RECUAR. RECUAR. RECUAR CARALHO.
- Fale. Pela última vez, soldado, FALE. Façam-no falar, não importa como. ESCUTEM, EU QUERO ELE VIVO.
tapa-Fala-soco-soco-Fala-chute-soco-sangue-paulada-dentequebrado-Angélica-soco-chute-queda-paulada-chute-vómito-Angélica-chute-FalaCaralho-chute PAUSA-cuspe-BomDia-tapa-Fala-choque-choque-soco-choque-Angel-desmaio-BomDia-água-choque-chute-queda-frio-estupro-estupro-estupro-fezes-chute-chute-sangue-BomDia.
ELES ESTÃO AQUI. FUJAM. MATEM OS PRISIONEIROS. NÃO TEMOS TEMP...
- Soldado, você vai para casa. PEGUEM TODOS ELES. MATEM ESSES FILHOS DA PUTA.
maca-helicoptero-avião-trem-ónibus-caminhada.
- Deus do céu, você voltou. Deus seja louvado...
- Senhora, onde está Angélica?
- Oh meu Deus. Você não... A carta? Angélica foi morta por um ladrão. Deus do céu...
tiro

- Estamos em guerra.
- Já saiu no cinema?

- ATENÇÃO SOLDADOS. Nós vamos invadir a aldeia próxima ao rio. ATENÇÃO. Temos informações que dizem se tratar de uma aldeia pacífica, somente com cívis. Mas pode ser uma armadilha. No primeiro sinal suspeito ATIREM. Poupem os civis. ENTENDERAM?
- SENHOR, SIM SENHOR.
- Senhor, como vamos saber quem é civil e quem é militar?
- Poupem as mulheres e as crianças.
Manobra silenciosa. Aldeia calma. Homens, mulheres e crianças cuidando dos afazeres cotidianos. A tropa invade. Os civis se rendem.
- Separem os homens e prenda-os numa cabana. AMARREM TODOS ELES.
- SENHOR, SIM SENHOR.
- Agora, divirtam-se.
Várias mulheres espancadas, violentadas e torturadas na frente dos filhos, que choram. Cinco homens em uma mulher, se revezando, violentos. A filha de doze anos é pega e deflorada. Vestido rasgado, sangue. O Comandante se aproxima da jovem, coloca uma arma na cabeça e seu pau na boca dela. A mãe chora. A filha chupa. MORDE violentamente e morre.
- QUEIMEM TODOS.
Cinzas da aldeia inimiga.

- Mãe, eu me alistei. Vou terminar o que o papai começou. O treinamento começa no mês que vem.
- Se já não bastasse eu ter perdido o marido na guerra, sou obrigada a perder um filho?
- Você não vai me perder, mamãe.
- Tem razão... Eu já perdi.

- Eu não vou. Eu não quero.
- Você não vai desonrar esta casa. Prefiro morrer a passar por essa vergonha. Você vai.
- Pai, eu não quero matar ninguém.
- Você vai matar. Você vai para guerra.
E foi. Covarde, se limitou aos trabalhos de inteligência. Pegou numa arma só durante os treinamentos. No fronte, sua divisão foi surpreendida por um pelotão inimigo. Sacou sua pistola pela primeira vez.
- ATIRE. ATIRE.
Atirou, em sua própria cabeça.

Foi para guerra por impulso. Todos da sua idade foram. Não queria ficar sozinho. Puro fetiche: homens de farda. No campo de batalha, se safou ileso. Não participava das manobras mais arriscadas. Vários soldados que gozaram em sua boca jazem mortos em meio a selva. Lamentava e agradecia na mesma medida. Tinha um único medo: ser descoberto.
Da guerra voltou com o peito coberto de medalhas e dois amantes do alto escalão. Revelou ao mundo a pederastia da guerra e morreu enforcado por um veterano aposentado.

- Você está pronto para morrer?
- Esse não é o tipo de coisa pela qual você se prepara.
- Está enganado, engraçadinho. Você se prepara desde que nasce.
- Então estou pronto.
- Isso só vamos saber na hora.
- Até lá, já estarei morto.

"O que certamente é difícil é que nós mesmos somos agressores e agredidos, agentes e vítimas, e que o fronte atravessa o nosso pensamento e o nosso corpo. Resumindo, que a guerra já existe em nós, antes de irmos a ela." Fritz Kater
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui