Usina de Letras
Usina de Letras
153 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62220 )

Cartas ( 21334)

Contos (13263)

Cordel (10450)

Cronicas (22535)

Discursos (3238)

Ensaios - (10363)

Erótico (13569)

Frases (50616)

Humor (20031)

Infantil (5431)

Infanto Juvenil (4767)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140801)

Redação (3305)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6189)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
cronicas-->A Geração dos Paradoxos -- 08/10/2005 - 15:53 (Gisela Scheinpflug) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A geração que nasceu nos anos 70 e que atualmente já passou dos trinta anos por vezes parece estar passando por um turbilhão de novas emoções. De certa forma, parece tão perdida quanto na época da adolescência. E Talvez estejam Até mesmo mais perdidos que naquela época, porque agora esta geração é dona do seu próprio nariz, ganha o seu próprio dinheiro e não precisa dar satisfações a respeito de suas vidas à mais ninguém. Esta liberdade torna-se uma arma poderosa nas mãos dos que poderíamos categorizar como "eternos adolescentes".

Os seriados que fazem sucesso na televisão, tais como Sex in the City, Friends e Seinfeld demonstram bem este estilo de vida do qual estou falando. São pessoas com um certo poder aquisitivo, e com capacidade intelectual o suficiente para perceber o quanto se sentem, atualmente, tal qual um ponto fora da curva. Enquanto a maioria segue erguendo o seu património e constituindo uma família, esta turma fica perdida no meio do caminho, como se estivesse em uma zona protegida, e com medo de pisar em qualquer outro terreno diferente do que já conhece e já está acostumado. Talvez esta sensação, de medo do desconhecido, atinja também os demais integrantes da geração, apenas com uma nuance um pouco diferente. Os solteiros têm medo de casar, e os casados, por vezes insatisfeitos com a vida que levam, também têm medo de experimentar uma vida diferente da que vivem. Parece que encontro aqui um elo em comum entre as duas atitudes: talvez a questão que envolve esta geração seja simplesmente o costume do que poder-se-ia chamar, por falta de uma palavra mais adequada, de segurança emocional, proporcionada pela presença marcante de uma mão forte, segura e limitante ao longo da infància e juventude desta geração: fomos criados de certa forma sob o controle e a supervisão do Estado Militar.

Existem outras teorias sobre o comportamento da geração dos anos 70. A teoria da "geração de transição" explica que os nascidos nos anos 70 ficaram no meio do caminho entre a caretice de seus pais e a liberação geral da geração posterior.

Os pais desta geração, na idade em que esta se encontra atualmente, já tiravam de letra as crises domésticas, enquanto a quantidade de solteiros convictos cresce obstinadamente. Seus pais já estabilizavam em suas carreiras profissionais, trabalhando em funções que lhes acompanhariam para o resto de suas vidas. Enquanto os trintões, em pleno século 21, se preparam para as suas próximas carreiras profissionais.

Vale comentar que, por mais perdidos que aparentem ser, os questionamentos desta geração não afetam, na maioria das vezes, as suas carreiras profissionais. Eles aprenderam, com o tempo, a dosar suas próprias emoções e a deixar no lado de fora do escritório tudo o que possa comprometer a tão amada e idolatrada independência financeira.

Por certo existe o medo do comprometimento amoroso, de parte dos trintões solteiros, que é um sub-grupo relativamente grande e ainda em pleno crescimento. Acontece que, por mais que exista o desejo de estar acompanhado, existe um apego muito grande à liberdade que adquiriram. Envolver-se com um trintão solteiro bem resolvido com a sua própria solteirice pode ser perigoso, a não ser que a outra parte seja também adepta da individualidade, e que sua vida seja também tão atribulada, que não haja muito tempo disponível para o relacionamento, conciliando então liberdade e cumplicidade. Ou, melhor ainda, que existam pontos em comum o suficiente para realizarem juntos o suficiente de atividades que tornem ambas realmente um casal, na forma exata como a sociedade concebeu o termo. Sim, porque esta geração quer se relacionar. Quer amar, quer compartilhar. O que execra é a rotina da vida doméstica, as cobranças por uma atenção que não conseguem proporcionar o suficiente nem para si mesmos.

É uma geração participante de muitas atividades, exercendo os mais diversos papéis na sociedade à qual estão inseridos. Ao mesmo tempo, gostam de paz e tranquilidade. Gostam de ficar sós. Gostam do silêncio da casa e também do movimento da rua. São muitos em um só, e suas vidas são recheadas de tal forma, e com tantas atividades interessantes, que talvez fosse necessário abrir mão de algumas para deixar espaço para alguém entrar em suas vidas. Mas amam tudo o que fazem, e não querem abrir mão de nada. São egoístas sim. Alguns foram criados de forma a preocuparem-se somente com o que interessa a si próprios, e outros não nasceram exatamente egoístas, mas o mundo tratou de lhes demonstrar que é necessário lutar pelo seu próprio espaço.

Pensar em si mesmo e avaliar vantagens não deveria ser exatamente um problema. A questão reside no fato que esta geração agarra-se a sua estrutura de tal forma, que muitas vezes torna-se impossível abrir uma espacinho sequer, que facilite a entrada de um grande amor. Mas querem sim, este grande amor. Que seja grande por dentro, mas que ocupe pouco espaço em suas vidas. São enfim a geração dos paradoxos, e os carros que possuem - pequenos por fora e grandes por dentro - reforçam a possibilidade da existência deste sonho de consumo. Querem tudo. Não adianta oferecer a metade do copo, porque preferem estar sós, com a posse do copo inteiro. Só e exclusivamente para o seu prazer.

Afinal, porque casar, se podem compartilhar suas vidas somente quanto tiverem vontade de fazê-lo? Esta geração tem opções, algo que as gerações anteriores não tinham, e que, talvez se tivessem, acabariam por agir de forma diferente. Será que as gerações passadas teriam casado tão cedo, se naquela época houvesse liberdade para sair à noite e fazer sexo na hora em que tivessem vontade e sem riscos de gravidez?

Por falar em gravidez, muitos estão decidindo não ter filhos. Anteriormente eram criticados devido a esta decisão. Eram taxados de egoístas e insensíveis para com os prazeres da maternidade e da paterinidade. Hoje são tantas as pessoas que estão tomando a decisão de não ter filhos, que é impossível haver preconceitos contra esta opção de vida. E se quiserem ter filhos, podem tê-los, e estarão proporcionando aos seus próprios filhos uma sociedade bastante diferente dos moldes em que foram criados. Podem conciliar mais facilmente suas vidas pessoais com a educação das crianças, e isto sem sentimentos de culpa, porque estas crianças são fruto de toda uma geração de pais que pensam desta forma. Serão filhos bem adaptados ao ambiente no qual se desenvolvem. A educação é compartilhada com a família, avós, tios e tias. Muitas vezes compartilham também suas emoções com um pai presente e parceiro. E além disto tudo, eles dormem seguidamente na casa de algum amiguinho do colégio, e assim, deixam espaço para os seus pais viverem os seus próprios sonhos.

Enfim, a geração dos anos 70 é bastante diferente das anteriores. Aconteceu com esta geração algo próximo do que aconteceu com a geração americana dos baby boomers. Cresceram, fizeram dinheiro, mas de certa forma se perderam um pouco no meio do caminho. Os terapeutas comentam que a psicologia evolui muito mais do que os leigos percebem, é possível realmente perceber isto, pois os questionamentos que surgem com esta geração são diferentes dos que existiam nas gerações passadas, e com certeza serão diferentes dos que haverão nas próximas gerações. E hajam aperfeiçoamentos para acompanhar as mudanças.

O que tranquiliza, de certa forma, a quem observou-se contextualizado aqui, é observar que são muitos os que se encontram dentro deste mesmo barco. Não que esta observação traga alguma garantia de sucesso no longo prazo, mas pelo menos gera um certo conforto, pensar que, se o caminho que estão tomando for ruim, será toda uma geração a buscar uma solução, abraçados, lá no fundo do poço das perdições.
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui