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Contos-->A LENDA DA FILHA DO CORONEL -- 16/01/2009 - 17:17 (Umbelina Linhares Pimenta Frota Bastos) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A LENDA DA FILHA DO CORONEL

Em tempos remotos, vivia um Coronel, que tinha uma filha de uma beleza encantadora, mas vaidosa a tal ponto que desprezava todos os jovens que a pretendiam como esposa. Fazia crítica de cada um. Certo dia, seu pai, o coronel, mandou anunciar em toda a cidade que daria uma grande festa, e para qual convidou todos os rapazes da alta classe, que ainda se encontrassem solteiros. Claro que nenhum faltou à festa.

Assim que começou a festa, todos os pretendentes, ali presentes, enfileiraram-se por ordem de nascimento e posição social.
Primeiramente, os mais graduados, como coronéis, e, em seguida, os majores e, sucessivamente, os capitães, bem como, banqueiros, industriais e, finalmente, os nobres.
Feita esta classificação, trouxeram, então, a linda donzela, que começou a se exibir ante os galanteios, que há muito tinha costume de receber.

Indagada ante a escolha e, frente a um dos pretendentes, que, por sinal, era muito gordo, disse em termos de gracinha: “Este parece uma baleia!” Referindo-se, também, a outro, magro e alto, que viera logo em seguida, exclamou: “Que vara de tirar mamão!” A um terceiro, por ser gordinho e baixo, apelidou de Odre, __ odre que é um recipiente de couro ou pele que serve para transportar líquido__. A outro, que se aproximara, disse: “É muito pálido. Sem dúvida, é a morte em pé!” Ao quinto, desferiu as seguintes palavras: “Parece um galo de briga!” Outro, curvado e abatido, que, ali, surgira, também, à sua frente, recebeu estas palavras: “Empenou como madeira verde que se secou ao lume”.
E assim, continuadamente, até que percebeu que um dos convidados do Coronel tinha um queixo muito fino. Então, a estorvada filha exclamou, ao reparar o defeito do jovem pretendente: “Olha, este tem um queixo que parece bico de tordo!” Por isso, desde então, esse jovem ficou conhecido como pelo apelido de bico de tordo.

O Coronel, pai da donzela, ouvindo, naquele instante, somente palavras desagradáveis, encolerizou-se de tal maneira que jurou, ali mesmo, diante de todos os convidados que sua filha, a partir daquela hora, teria por noivo o primeiro mendigo que batesse à sua porta.

Alguns minutos passados, um músico ambulante passou, tocando sua flauta, sob a janela da mansão do Coronel, buscando, com isso, tocar e angariar algumas moedas, que lhe fossem suficientes para a sua alimentação, uma vez que estava faminto.

O Coronel, ouvindo-o, ordenou que o fizessem entrar. O músico, então, entrou, dentro de sua roupa derruída, suja e malcheirosa. O mendigo, que era também músico, estava sem sapatos, acompanhado de um cãozinho pestilento; e foi, então, que ele, imbuído de uma vontade imensa, fez soar, por ali, sua flauta, na presença do Coronel e sua filha extremamente vaidosa.

“Agradou-me muito sua canção”, disse o Coronel. “Por ser assim, em reconhecimento ao teu enorme talento, como gratificação, quero dar-lhe minha filha como esposa, quer?”

Ante a oferta, o mendigo músico ficou apalermado e começou a coçar sua cabeça imunda, cheia de piolhos. O capataz, que, ali, estava a escutar, pôs-se a sorrir baixinho, dentro de sua falsa timidez. A jovem filha do Coronel, supondo ser essa oferta um simples gracejo, também se escangalhou de rir.

O Coronel insistiu novamente na oferta, mas dessa vez de forma tão ríspida e severa, que sua filha, muita espantada, sentiu um calafrio percorrendo sua coluna cervical; e isso a fez contrair o cenho, aparentando receio e temor. A jovem ia falar, quando seu pai, num impulso, interrompeu-a, dizendo: “jurei dar-te, como esposa, ao primeiro mendigo que surgisse à minha frente; e como palavra de Coronel não volta atrás, ponho-me a executar essa idéia, que ao momento muito me parece justa, visto que nenhum dos pretendentes, que lhe fora apresentado, servira para seus desejos. Portanto, busco, agora, cumprir minha jura, e aí está feita.

A jovem donzela gritou, esperneou, mas de nada de isso lhe adiantara, pois logo alguém, a pedido do Coronel, fora chamar o padre, que, ali mesmo, realizou o casório.

Finda a cerimônia, exclamou o Coronel; “Nas condições em que vive atualmente não me convém a sua permanência nesta casa; por isso, acompanha, então, teu esposo e siga tua nova vida”.
O mendigo, cujo queixo era bastante longo, não atentou muito, mas, com a flauta a tira colo, e encostado, enfim, ao bordão, saiu com sua esposa, que, naquele instante, chorava e lamentava sua sorte.

O mendigo e sua esposa saíram da casa do Coronel, debaixo de uma chuva fria, mansa, que caía lentamente, molhando tudo em volta. O vento soprava leve sobre as copas das árvores.
Depois de muito caminharem, logo mais à frente, cerca de alguns quilômetros, chegaram a uma grande mata. Foi então que ela perguntou: “de quem é esta mata linda?” Ao que ele, o mendigo, seu esposo, lhe respondeu: “É do Coronel bico de tordo. “Tudo isso seria teu, se o tivesses aceitado como marido”. “Que infeliz sou”, retrucou a jovem. “Para que rejeitei o pedido do Coronel bico de tordo!”

Passado algum tempo, encontrando-se num vasto campo, a jovem tornou perguntar: “Quem é o dono deste campo tão verdejante?”É do Coronel bico de tordo”. “Seria teu, caso o tivesses aceitado como esposo”. “Ah, que infeliz sou!” murmurou a jovem. “Por que rejeitei a mão do Coronel bico de tordo?”

Foram andando, o mendigo e sua esposa, até que chegaram a uma grande cidade. Nessa cidade, a jovem perguntou pela terceira vez: “A quem pertence esta formosa cidade?” “Pertence ao Coronel bico de tordo”. “Seria sua, se não tivesses rejeitado o pedido de casamento do Coronel”. “Oh, que miserável sou!” Por que desprezei o pedido do Coronel bico de tordo?!”“Já estou farto, retorquiu o músico, de ouvir-te sempre expressar o pesar de não haveres aceito o pedido de casamento do Coronel”. “Acaso, não te bastas eu?”

Finalmente, passaram defronte de um humilde casebre. Nesse exato momento, a jovem esposa, perguntou: “Que terrível choupana! A quem pertence tão pobre casebre?” Ao que ele, o mendigo, disse: “Este casebre é minha casa; é aqui que vamos morar”. “Credo! Credo!” exclamou a jovem. O músico mendigo, ante a situação, para a jovem, inesperada, disse: “Serás tu que farás tudo, por aqui, agora”. Vá acender o fogo e fazer o que comer. Estou com fome, vamos, depressa!”A moça infeliz ignorava, por completo, a maneira de acender o fogão, temperar e cozinhar a comida, uma vez que jamais havia feito algum almoço ou jantar.
O músico vendo esta dificuldade foi obrigado a preparar sua própria comida, o que, afinal, não a fez melhor. Terminado todo este serviço, ou melhor, o almoço deitou-se em sua cama rústica, de pau-a-pique.

No dia seguinte, ao romper da aurora, obrigou-a a levantar-se para fazer o café, bem como todo o serviço daquele humilde lar.
E assim viveram dias e dias, miseravelmente, até acabarem os alimentos, que antes havia num pequeno cômodo do casebre.
Então, o marido disse a sua esposa: “Isto assim não pode continuar, é preciso que ganhemos a vida de alguma forma. “Você vai fabricar alguns cestos”. Saiu ele, então, à cata de vime. Os vimes foram encontrados por ele que, habilmente, cortou-os e, em seguida, após juntá-los em um feixe, levou-os até a presença de sua esposa e disse: “Faça-os”.

A pobre mulher tentou tecê-los, porém, o vime era duro demais para suas pobres mãos, que naquela hora já sangravam. “Já vejo que não dás conta do trabalho”, lamentou o músico mendigo. “Comece a fiar talvez desempenharas melhor essa tarefa”. Eis que, então, a jovem esposa coloca-se ao pé da roca, começando, enfim, a fiar. O fuso, todavia, não tardou a ferir-lhe os dedos, causando-lhe forte sangria. “Pelo visto, tu não serves pra coisa alguma”, disse-lhe o marido. “Vejo que estou mal servido. Porém, quero tentar uma nova experiência e começar um novo negócio de venda de louças. Vá para a feira e vê se tu te dás bem nesse negócio. Creio que, ao menos para isto, deves ter utilidade”.
Ah, como vão rir de mim, pensou a filha do Coronel. Os amigos de meu pai, vizinhos e parentes, ao verem-me sentada vendendo louças certamente irão derreter-se em risadas.

Como devia obediência ao marido mendigo, a jovem esposa não podia alegar motivo algum.
Não teve ela remédio senão resignar-se a isso e, silenciosamente, dirigir-se à feira e lá esparramar as modestas louças sobre o chão coberto por uma toalha imunda, empoeirada, que ele, seu marido, lhe dera; e fora ela, então, à feira, ciente de que devia ir, uma vez que era preciso ganhar o pão, tão necessário à sobrevivência de ambos.

A primeira experiência deu bom resultado. Algumas pessoas buscavam comprar suas louças, uma vez que ela era muito educada e bonita.
Outras, no entanto, sabendo que a jovem era esposa do músico mendigo, sequer levava os objetos comprados, certas de que assim estava ajudando àquela que fora entregue, pelo pai, a tão cruel sorte, que é, sem receio de dizer, a esposa de um mendigo. Com esse afazer, o casal pôde, ainda que a custa de certa dificuldade, continuar sobrevivendo.

Após alguns dias, o mendigo arranjou novo sortimento de louças. Com certeza, ganhara de algum comerciante portentoso, que, afinal, entendera que aquelas louças já não tinham tanto viço, ou valor, para ser comercializadas.
Foi, então, que a jovem esposa novamente acampou na feira. Naquele dia, escolheu para local de venda um recanto, onde, com esmero, depositou a mercadoria em volta de si e ali esperou os compradores. Em dado momento, eis que, de repente, surgiu um soldado bêbado, que, jogando o cavalo pra cima das louças, quebrou-as em vários pedaços. A pobre mulher desatou a chorar e tão nervosa ficou que sequer sabia o que fazer. “Ah, meu Deus, que dirá meu marido?” disse.

Depois de juntar o que sobrara das louças, a jovem esposa foi direto para casa e lá contou tudo ao seu marido. “Só tu, que és estúpida, pra colocar-te a vender naquele lugar!” exclamou ele zangado. “Agora, choras!... Cada vez me convenço mais de que não tens vocação pra coisa alguma.
Se não sabes, fui hoje à cidade e, ali, busquei saber se não necessitavam de uma cozinheira. Lá conversando, indaguei se podiam aceitá-la para trabalhar, como tal, em troca de comida. E a resposta fora sim. Portanto, quero que tu vás amanhã, bem cedinho, àquela mansão da Rua do Ouvidor.
Procura lá um senhor gordo, de tez pálida, cujo nome é Antonino. Ele lhe dirá o que fazer. E eis, então, que ela, agora, se fizera cozinheira. Com efeito, dali pra frente, teria que fazer tudo conforme os ditames do cozinheiro-mor daquela mansão, inclusive encarregarem- se da penosa faxina, além de lavar pratos, panelas e colheres.
Apesar de tudo isso, nada mais fez senão, ao final do dia, juntar em uma pequena vasilha as sobras daquela cozinha, sobras essas que ela levava para seu esposo-mendigo que, certamente, lhe aguardava sôfrego, tomado de imensa fome.

Naqueles dias, aconteceu que iam celebrar uma festa ao filho de um grande Coronel. A pobre esposa do músico-mendigo subiu as escadas, naquela noite de um maio pardacento. Ficando de frente à porta principal. Ali, abriu bem os olhos para ver tudo, quando, de repente, os lustres se acenderam.
Os convidados, com roupas de veludo e muitas jóias, enquanto ela, a desafortunada, diante de tamanho luxo e riqueza, pôs-se a pensar, tristemente, acerca de sua má sorte, ao mesmo tempo em que se maldizia por haver sido tão orgulhosa, e soberba, na escolha de seus pretendentes, fato esse que a tinha lançado na extrema pobreza.
No salão, os empregados, que levavam à sala os preciosos manjares, tinham o cuidado, ao passar, de lhe presentearem com bons salgados e doces, que ela, pobre senhora, ali recostada à pilastra, alheia a tudo, desconfiada e recolhida em si, guardava com cuidado na vasilha que, tão sorrateiramente, trazia no bolso de seu vestido.

A festa caminhava bela e suntuosa. De repente, um jovem esbelto, esguio e alto, cuja aparência lembrava a de um príncipe, trazendo uma corrente de ouro no pescoço, caminhou rumo à jovem esposa do músico-mendigo, que àquela hora continuava de pé no limiar da porta, estendendo-lhe a mão. Ali, chamou-a para dançar consigo. Ela, então recusou, estremecendo, pois acabara de reconhecer, na figura do jovem, o Coronel bico de tordo, que a tempo lhe pedira em casamento.
A jovem senhora quis esquivar-se, mas o Coronel, educadamente, insistiu e, levemente, conduziu-a ao salão de dança.
Porém, nesse exato instante, o cordão, que segurava a pequena vasilha de salgados e doces, desatou-se, fazendo com que as guloseimas todas caíssem e se espalhassem sobre o assoalho de madeira do salão.
Ante a esse desagradável espetáculo, todos os convidados desataram a rir, ou melhor, a gargalhar desbragadamente.
Gargalharam tanto, que ela, a esposa do músico-mendigo, ficou tão confusa e envergonhada que seu maior desejo, naquela hora, era evadir-se daquele local, fugir daquelas pessoas.
Porém, assim que ia se evadindo, um homem agarrou-a na escadaria e reconduziu-a ao suntuoso salão.
Tudo pareceu estar confuso para ela, mas, tão de repente, seus olhos se encontraram com os dele, e eis, enfim, que ela reconhece naquela imagem de homem a presença dele, o Coronel bico de tordo. Com maior carinho, ele lhe estendeu o braço, olhando-a com benevolência. “Querida, não te assuste, o músico, que viveu com você naquele casebre, e eu somos a mesma pessoa”, disse. “Foi por haveres me humilhado que eu me disfarcei de mendigo, como, também, de soldado e com meu cavalo destruí tuas louças na feira.
Assim o fiz, propositadamente, pois era preciso acabar com teu orgulho e castigar a arrogância com que me trataste.
“Não pensemos mais nisso e casemo-nos agora”. Chegaram, então, as damas, que a trajaram com um vestuário riquíssimo.
Logo após, chega o pai, acompanhado de toda a família, tomado de enorme felicidade, plenamente satisfeito com a união daqueles dois jovens, isto é, sua filha e o Coronel bico de tordo.
A festa nupcial fora de tamanha grandeza que, por várias décadas naquela região, nada mais se comentava, de maneira tão empolgante, senão a felicidade, a incomensurável felicidade, que se estampava no belo rosto da filha do Coronel.
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