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cronicas-->Um Lugar ao Sol -- 01/10/2005 - 09:32 (Gisela Scheinpflug) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Conheci um pouco da obra de Jeffrey Pfeffer na disciplina de Análise Dinàmica das Organizações, que assisti junto à turma de mestrado em Administração da UnB neste último semestre. Em seu livro "New Directions for Organization Theory - Problems and Prospects" o autor dedica um capítulo inteiro para falar dos Mecanismos de Controle Social. Pfeffer acredita que seja possível controlar um determinado grupo social utilizando alguns dos seguintes mecanismos: oferecendo premiações e incentivos, criando um processo formal no intuito de aumentar o comprometimento e a socialização, trabalhando a cultura organizacional e também alterando a estrutura de liderança da organização.

Dentro deste contexto, ele cita Pascale, um autor que eu não conheço, mas parece valer a pena conhecer, e que trabalhou no tema da Socialização. Segundo Pascale, a Socialização resume-se aos meios sistemáticos pelos quais as empresas levam a sua cultura aos seus novos membros. Para ele, existem sete passos que envolvem a socialização. O primeiro é a seleção de candidatos. O segundo passo é a indução à experiências de humilhação induzida, durante os primeiros meses de trabalho. O terceiro passo envolve o treinamento através da exposição do novo integrante às operações no campo de trabalho e às pessoas que espelham os valores da empresa. Depois, é necessário fazer entender os sistemas de medida de resultado operacional e de premiação individual de performance, seguido da aderência irrestrita aos valores do núcleo organizacional, do reforço do folclore, das estórias e das lendas que validam a cultura da organização, e por fim, a apresentação de modelos consistentes de papéis, através da premiação e do reconhecimento daqueles que possuem o comportamento e atitudes adequadas e condizentes com os valores que a organização admira.

O que me chamou a atenção dentro de toda essa teoria é o tal processo de humilhação. A respeito deste assunto, Pfeffer citou também a dupla Aronson e Mills, que explicaram que "pessoas que passam por grandes problemas ou dores para obter algo tendem a valorizá-las mais fortemente do que pessoas que obtém as mesmas coisas com um mínimo de esforço".

Quando estudei esse assunto para a tal disciplina do mestrado, lembrei-me automaticamente do processo seletivo para estagiários da empresa que eu tinha em Porto Alegre. Chamávamos o processo carinhosamente, e com um certo tom de sarcasmo, de "Gincana de Seleção de Estagiários". Entrar para o time da empresa era realmente difícil, e era inacreditável como tal processo exaustivo de seleção gerava orgulho naqueles que finalmente eram admitidos. Aconteciam também casos engraçados. Não foram poucos os candidatos que, recebendo um veredicto negativo, telefonavam e escreviam emails insistentemente, tentando provar que estávamos enganados, e que ele era sim, com certeza, o melhor e mais qualificado estagiário para o trabalho. Em alguns momentos chegamos a ter receios quanto à nossa integridade física.

Estou lendo agora um livro chamado Desafio aos Deuses - A Fascinante História do Risco. No livro, Peter L. Bernstein, especialista em economia e finanças, faz uma viagem no tempo, desde o surgimento dos primeiros jogos de azar até as atuais aplicações em bolsa de valores. Estou no início da leitura, mas já adquiri alguns conhecimentos. Descobri que a palavra azar é originada de "al zahr", que significa "dados", em árabe. Me dei conta que antigamente eu costumava chamar estas informações de "conhecimento inútil", mas agora encontrei uma utilidade para elas: posso citá-las nos meus textos. Que tal?

Ok, ok, desculpem-me pelo meu espírito de porco, por favor. É apenas uma fase, acredite, poderá passar um dia.

Mas o aprendizado que me chamou a atenção neste livro do Bernstein foi a respeito da Lei das Médias, definido por Abraham de Moivre em 1730, e utilizado oito anos depois por Daniel Bernoulli para definir o processo sistemático pelo qual a maioria das pessoas realiza escolhas e chega a decisões. Este mesmo Bernoulli propós a idéia de que a satisfação resultante de qualquer aumento de riqueza "será inversamente proporcional à quantidade de bens anteriormente possuído".

Na prática, faz algum tempo que ando refletindo sobre questões relacionadas com a felicidade. Nunca entendia porque algumas pessoas que tinham tudo para serem felizes às vezes sentiam-se infelizes, e porque diabos eu me sentia tão feliz, mesmo não tendo tudo o que desejava. E então concluí que tudo é uma questão de perspectivas e de exigências pessoais.

Lembrei da minha ex-colega das aulas de espanhol, que, adolescente, apresentava um quadro sintomático e estável de tristeza, que se refletia em algum excesso de peso e, conversando mais profundamente com ela, naquela sensação de nunca conseguir chegar aos pés de seu pai, que era um profissional renomado em sua área de trabalho. Talvez seja o mesmo tipo de problema pelo qual passa o Edinho, o filho do Pelé.

Alguns filhos de profissionais bem sucedidos acabam por se dedicar à atividades em que a capacidade e produtividade profissional não sejam possíveis de ser avaliadas. Alguns se dedicam às causas sociais, outros tornam-se monges budistas, ou dedicam-se a criar os seus filhos de uma forma diferente e a viver de mesada ou da venda dos bens da família. E a próxima geração ficará feliz em herdar a mesma capacidade produtiva dos avós.

Também chamou a atenção o que Pascale comentou sobre a aderência irrestrita de um funcionário aos principais valores da empresa. Naquela minha empresa, depois de algumas contratações desastrosas, descobrimos que nem sempre as pessoas mais inteligentes e talentosas conseguiam se adaptar ao ambiente. Este quadro ficou ainda mais evidente depois de incorporarmos uma última etapa no processo seletivo de estagiários: uma avaliação psicológica.

É incrível como torna-se claro que um candidato, por mais talento que tenha, poderá ser uma contratação desastrosa caso não tenha o perfil alinhado com a forma da empresa trabalhar. Algumas empresas são maternais, outras são praticamente uma irmandade, e outras ainda, apresentam aquele quadro de capitalismo selvagem onde cada um luta individualmente pelo seu lugar ao sol, não importando quantas pessoas seja necessário derrubar pelo caminho. Obviamente para cada perfil de empresa existe um perfil adequado de profissional.

Estar adaptado a um ambiente nos torna mais felizes, seja este ambiente a sua família, sua empresa ou simplesmente a sociedade na qual estamos inseridos. Mas viver adaptado não tem o mesmo significado de ser feliz. Muitas pessoas acabam por sentir aquela sensação esquisita de anestesia perante a vida, fruto talvez do medo de ser diferente ou de agir diferente, e de ser criticado por atitudes que não sejam convencionais. Elas estão adaptadas tanto quanto um passarinho está adaptado à sua gaiola.

Em agosto deste ano, fiz a minha viagem de férias para a Chapada Diamantina, na Bahia. Fui em companhia de um grande amigo, que possui assumidamente problemas de Transtorno Obsessivo Compulsivo - TOC, relacionados à questões de segurança. Achei que a viagem seria o maior desastre, pois desde o início, durante a preparação da viagem, ele tentava me convencer a carregar alguns equipamentos e medicamentos extras, em função das suas preocupações com possíveis desidratações, picadas de abelha, de aranha, de cobra, assaltos, roubos, visitas extra-terrestres, entre outras possibilidades ainda não mapeadas. Mesmo com todo o prognóstico de uma viagem infeliz e estressante, esta foi uma das minhas melhores férias. Acredito que uma parte deste sucesso tenha em haver com o simples fato de que não houve, da minha parte, nenhuma expectativa anterior.

Quando chove por muitos dias, ficamos felizes com um dia sem chuva. Quando está nublado por muito tempo, a felicidade chegará somente quando o sol aparecer. Tudo é tremendamente relativo. Para encontrar um lugar ao sol talvez seja necessário apenas ser legítimo, ser autêntico, e procurar a nossa própria turma. E para que o sol brilhe sempre neste lugarzinho que encontramos talvez seja necessário não esperar nada de ninguém, e nem da vida. O que viesse então, seria lucro puro.
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