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Teses_Monologos-->[Dedicatórias] -- 21/07/2003 - 16:54 (Darlan Zurc) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Última atualização: 24-1-2004.
N.º de textos: 4.
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I

O lado mais infernal do “Boca do Inferno”

SILVÉRIO DUQUE

Para o amigo: Darlan Zurc, o Sórdido.

"Querido é Platão, mas ainda mais querida é a verdade", Aristóteles



De todos os poetas do Brasil, certamente, foi Gregório de Matos e Guerra o que melhor fez uso da polêmica como essência primaz de sua obra; esse ingrediente indispensável à sua poesia tornou-se um substrato cujo teor ígneo foi decisivo para o altíssimo grau de atualidade que o poeta seiscentista até hoje nos apresenta.

Essa atemporalidade oriunda da polêmica só é conseguida nos últimos suspiros do Romantismo Brasileiro com Castro Alves (um pouco antes com Gonçalves Dias) e com o “poeta do hediondo”, Augusto dos Anjos, e seu idiossincrático e enigmático “Eu”, durante os primeiros sinais de uma poesia “moderna” em nosso território, que iria encontrar no poeta paraibano — versificador das angústias e delírios humanos ao lado de uma herança grandiosa dos temas cientificistas e do pessimismo schoupenhaureano (que também formaram em Machado de Assis uma marca evidente e indelével) — uma referência indispensável para falarmos a respeito de uma originalidade, como de uma inigualável maestria; esses temas em Augusto dos Anjos foram tratados por muitos poetas e estudiosos no decorrer do século XX; podemos falar aqui de Manuel Bandeira e Ferreira Gullar apenas como dois casos que até agora conhecemos. Um pouco mais tarde uma análoga polêmica iria cair sobre as obras de Drummond e em seu obscuro salto de uma temática social, presente em livros como “Sentimento do mundo”, para o negativismo existencialista em “Claro enigma”, onde o poema “A máquina do mundo” eternizar-se-ia, e, conseqüentemente, seu autor, como um dos poemas mais estudados por pelo menos uma meia dúzia de intelectuais de nossas letras; dos que lembramos temos: Alfredo Bosi, Affonso Romano de Sant’Anna, José Guilherme Merquior, Olavo de Carvalho... Por último mas não menos importantes estão: o chamado “anti-lirismo” de João Cabral de Melo Neto (graças a Deus ele tem coisas a mostrar que estão além das suposições pré-carimbadas pela maioria dos nossos “homens de letras”) e, no outro extremo, o retorno de um “formalismo” poético, tão afastado de nossos versificadores, pelos fascinantes temas de Bruno Tolentino.

Com a publicação no caderno cultural [“Repórter”], do jornal “Correio da Bahia”, de uma imensa matéria (fato, aliás, quase inacreditável) a respeito do poeta baiano e de toda uma vasta pesquisa, como das inúmeras críticas, a respeito de sua pessoa e de sua obra, no dia 29 de agosto de 2000, só vem a comprovar, mais ainda, a grande Certeza de que Gregório de Matos dia a dia desperta, cada vez mais, grandes paixões e escândalos; destacamos inclusive a bela crônica de Diego Tavares e o artigo de Haroldo de Campos (aliás, o senhor Haroldo de Campos é o que sempre dele pensamos e, nesta reportagem, mostrou-nos o quanto estamos certos: é um médio ensaísta e um péssimo poeta — se é que podemos chamar aquilo que ele elabora de poesia). A reportagem mostrou detalhes interessantes sobre o poeta, por exemplo: sua amizade com um outro gênio do nosso Barroco (e do Barroco Português), o Pe. Antônio Vieira; seu passo capenga para a música e o manuscrito apócrifo do pesquisador Fernando da Rocha Perez, contendo poemas inéditos de nosso mais famoso polemista. Porém, a reportagem do “Correio da Bahia” está longe de ser aquilo que chamamos de “consideravelmente perfeita”, por causa disso, faz-se necessário colocarmos aqui algumas coisas em seu devido lugar e darmos uma observação que, pelo menos, aproxime-se do valor e aprofundamento que, a Gregório de Matos e à sua poesia, são-lhe verdadeiramente atribuídas.
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Feira de Santana (BA), agosto de 2001.


Silvério Duque é poeta, músico, professor de Literatura, estudante do curso de Licenciatura em Letras Vernáculas pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) e autor do opúsculo “O crânio dos peixes” (MAC, 2002). O trecho acima é do livro inédito “Payassu: olhares barrocos e considerações sobre Vieira (uma proposta didática)”, com a colaboração de Agostinho Nascimento e Lucifrance Castro.
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II

E eu aqui

JARBAS OLIVEIRA CRUZ

(Para Stela e Darlan.)


E eu aqui fazendo planos
E eu aqui esculpindo sonhos
Preso a um passado passando a limpo
E quando me pego não sou mais eu, quem sou?
E o tempo me subtraindo e o vento me tangendo
E a vida me levando pela invisível mão do destino
Guiado não sei para onde, até quando?
E eu aqui montando quebra-cabeças
Me desmantelando para que amor rime com medo
Arrastando uns mundos, um prisioneiro baiano
Saudade, é isto, a cada dia arruinando-me, que sou?
E eu fazendo revolução e castelos desmoronando
E eu aqui na antigravidade do meu quarto morcegando
A qualquer hora pareço por aí
Quando as comportas do meu coração não suportarem
Ao pé, cartas, ao léu me bando pra esses lados daí.


Jarbas Oliveira Cruz é poeta baiano radicado em Guarulhos (SP) e autor do livro inédito de poemas “Diário de bordo”.
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III

Evolução

JARBAS OLIVEIRA CRUZ

(Para Darlan Zurc.)


O homem de Neanderthal,
Meu ancestral de longe, mandou-me uma carta
Disse que a vida lá tá muito chata
E não é mais nenhuma criança a rastejar.
O homo sapiens acha tão rotineira essa passagem
Deixou um recado na secretária eletrônica
Dizendo que o homo erectus tinha ido com ele a Marte
O pitecanthropus nunca mais veio visitar-me
Lucy está grávida de Darwin
E eu preocupado com o que temos pra jantar.
Meus amigos, o homem de Cro-Magnon
Meu irmão mais velho montou o quebra-cabeça de Avignon
Com gomos de tangerina.
Pedra lascada, polida, idade dos meus pais
Peito aberto, uma cirurgia para corrigir a dor
Que deixou meu peito em chaga viva.
E o australopithecus que diz não ir com minha cara
Acha uma besteira essa minha aura de ser evoluído.


Jarbas Oliveira Cruz é poeta baiano radicado em Guarulhos (SP) e autor do livro inédito “Diário de bordo”. O poema acima, inclusive, faz parte deste livro.
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IV

Paralelismos entre Schopenhauer e Kafka

RÚBIO ROCHA DE SOUZA

Meu sincero agradecimento a um gênio que odeia sinos: eu mesmo.

(Dedico este artigo ao desprezível e descerebrado Darlan Zurc, criatura híbrida, metade barata e a outra metade veado e metade cadela no cio.)



Fazendo-se uma leitura atenta e meticulosa nas obras do escritor judeu-tcheco Franz Kafka, nota-se um considerável teor filosófico. Teor esse que, por sinal, caracteriza os escritos de tal escritor. Em seus romances, novelas e contos, Kafka, com seu modo peculiar e quase sempre alegórico, aborda certos temas que já foram refletidos também por muitos filósofos. Entretanto, seus pontos de vista acerca de determinados assuntos se coadunam mais aos do filósofo alemão Arthur Schopenhauer.

Se Schopenhauer exerceu ou não forte influência sobre Kafka, isso não é relevante para este artigo. Relevante, sim, é identificar as similaridades que há entre alguns dos posicionamentos de ambos. Em se falando genericamente, percebe-se, por exemplo, o mesmo pessimismo, a mesma secura, o mesmo desajuste social, a mesma sensação de caos que os devora e os “entontece”, o mesmo olhar de desprezo para a vida, algo amorfo em constante mutação, fonte de angústias e sofrimentos. É claro que, num ponto ou noutro, há algumas nuances entre as visões de mundo schopenhauriana e kafkiana.

Trazendo, entretanto, a análise para o plano das especificidades, pode-se dizer que tais identificações se situam, basicamente, nas visões sobre a essência da vida, a existência e condição humanas, a facilidade em apenas perceber o lado negativo da vida, a esperança, a procriação, Deus, o amor e a morte. São nestes temas, portanto, que as semelhanças afloram com mais facilidade. Logo, pondo-se em confronto muitas das obras de Kafka, notadamente “A metamorfose”, com as de Schopenhauer, sobretudo “Contribuições à doutrina do sofrimento do mundo”, constata-se que, com efeito, seus pontos de vista se procuram.

No que tange ao tema “essência da vida”, o paralelismo entre Schopenhauer e Kafka chega a ser muito bem definido. O filósofo, em uma de suas obras, faz a seguinte consideração:

“O sentido mais próximo e imediato de nossa vida é o sofrimento, e se não fosse assim, nossa existência seria o maior dos contra-sensos, pois é um absurdo imaginar que a dor infinita, que nasce da necessidade essencial à vida, da qual o mundo está pleno, é meramente acidental e sem sentido. Nossa receptividade para a dor é quase infinita, mas o mesmo não ocorre com nossa receptividade para o prazer, que tem limites estreitos” (“Contribuições à doutrina do sofrimento do mundo”, p. 113).


Diante disso, verifica-se que, para o filósofo em questão, a essência da vida reside, paradoxalmente, no sofrimento. Isso, provavelmente, o enchia de aversão pela existência humana. Kafka, por seu turno, em suas obras “A metamorfose” e “O processo”, além de outras, faz um mergulho no poço escuro e frio da vida, numa tentativa desesperada de tentar explorá-lo e visualizá-lo. Contudo, mostra-se incapaz de divisar a tênue linha divisória que separa a realidade do sonho, a lucidez da loucura. Não consegue, assim, romper a grossa e impenetrável camada que oculta a verdade, escapando esta à sua compreensão. E o que é pior, em sua busca para perceber tal divisão, angustia-se a fundo por não saber sequer se esta realmente existe. Enfim, para tal escritor, a vida é também essencialmente dor e sofrimento. Isso pode, perfeitamente, ser comprovado na pequena narrativa “Fábula curta”. Nessa fábula, há somente dois personagens: um rato e um gato. O rato se mostra apavorado com o encolhimento do mundo, onde já lhe faltava espaço para viver. E, correndo, vê à sua frente uma ratoeira. Porém, de nada lhe adianta tê-la visto, uma vez que surge inesperadamente um gato que o devora, depois de ter zombado: “Mas o que tens a fazer é mudar de direção”, referindo-se ao modo como fugir da ratoeira.
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Ilhéus (BA), 2003.


Rúbio Rocha de Souza é estudante do curso de Letras da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), em Ilhéus (BA). Artigo apresentado a uma disciplina desta Universidade.





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