CULPA, DESEJO E CONTINUIDADE.
Ricardo Oliveira
O mundo virtual libera alguns grilhões, mas nem todos.
Apesar da proteção da roupagem com a qual vestimos nossa imagem, bem como, do ‘sucesso forjado’ em apelidos e da distância, nada parece suficiente para deixar-nos a salvo das ‘transparências virtuais’ que projetamos.
Tenho observado, nas salas de ‘bate-papo’, uma certa tendência de transformá-las em ‘bailes de máscaras’.
Ontem foi assim, comigo, numa sala do UOL.
Escrevia-se na sala, palavras ao vento.
Colavam propagandas vendendo idéias eróticas.
Colavam ‘midis’... Pessoas compartilhando o prazer em ouvir músicas em conjunto para distraírem a sua solidão.
Entravam e saiam da sala, alguns navegantes que fazem do computador um barco virtual, passeando no oceano de idéias, de imagens e de ligações virtuais que a NET cria.
Neste universo, nomes e apelidos não importam tanto.
As salas de ‘bate-papo’ assemelha-se a salões, mais ou menos, interessantes. Descobrir máscaras e encontrar pessoas, atrás delas, é algo fascinante.
Minha amiga virtual, daquela hora, sentia-se culpada por um companheiro amoroso, que de seu mundo real, fora embora... Revelava-se, na conversa, uma mulher em plena forma, amorosa e atenta a seus desejos... Desejava a continuidade...
Acho que ficamos bem.
Quebrei alguns mitos. Rimos e pude vê-la sem máscaras e feliz. Não pela perda daquele afeto, mas por ter compartilhado comigo, uma outra visão da realidade.
Não existe a CULPA senão para nossa tortura pessoal.
Os DESEJOS existem para serem satisfeitos.
A CONTINUIDADE nada mais é que nossa entrega total ao momento presente.
Tivemos, ainda que por instantes virtuais, o prazer de um encontro entre Homem e Mulher. Um encontro onde o riso era fácil e o prazer da companhia foi intenso.
É percebendo nossos limites e ultrapassando-os que a vida, ao nosso redor, se transforma.
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