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Contos-->O PADRE VOADOR -- 20/12/2008 - 22:48 (Roberto Stavale) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Natale Concentino, mestre-de-obras da velha-guarda em
construção civil, era daqueles que ensinavam aos engenheiros
as malícias do ofício.
Começou como servente de pedreiro lá em Analândia,
interior de São Paulo, sua cidade natal.
Católico fervoroso, conheceu o Padre Miguel na rústica
capela onde o sacerdote morava, na zona rural do
município.
Desde este dia, passou a visitá-lo amiúde. Tornou-se
amigo do sacerdote, pois gostava muito do seu jeito paternal e
humilde. Além disso, a antiga capela, estava caindo aos pedaços.
Todos os finais de semana, Concentino munia-se de suas
ferramentas e materiais para construção, colocava tudo em sua
carroça, puxada a cavalo, e ia fazer retoques na capela, para a
alegria do padre.
Isso fortaleceu ainda mais a amizade entre ambos.
Padre Miguel não era um pároco comum. Suas histórias
fantásticas e impressionantes eram conhecidas em toda a região.
Principalmente aos sábados, enquanto Concentino
trabalhava, o povaréu lotava o pequeno recinto, em busca dos
lenitivos do padre Miguel. Eles vinham a pé, em montarias,
guiando os seus automóveis, ricos e pobres misturavam-se.
As curas do padre eram comentadas à boca pequena
entre os médicos de Analândia. Alguns queriam processá-lo por
curandeirismo. Mas as romarias continuavam cada vez mais
populosas.
Além das curas, o padre Miguel sabia fazer exorcismo.
Concentino viu quando aquele pequeno caminhão
chegou e estacionou no pátio da capela. Dois homens desceram
da cabine do motorista e tiraram da carroceria uma jovem
completamente nua, amordaçada e fortemente imobilizada por
correntes de ferro. Como se fosse um fardo humano, colocaram
a garota deitada na porta da igreja e foram procurar o padre.
Curiosos, os fiéis rodearam aquele “bicho”, como
diziam os homens do caminhão.
Padre Miguel chegou, citando a famosa frase em latim:
— Vade retro, vade retro, Satanás!
E continuou perto da moça, fazendo citações de um
antigo livro sacerdotal. Deixou a moça e dirigiu-se ao altar. Lá
estavam os homens que haviam trazido a acorrentada. Soube
que eram irmãos e que a infeliz chamava-se Maria.
— Maria, Maria... venha até aqui no altar, em nome
de Deus – gritou o padre.
Somente rugidos saíam da boca de Maria, ainda
amordaçada.
— Venha minha filha, não tenhas medo, – ordenou,
novamente, padre Miguel.
Para espanto de todos, aquela moça jogada ao chão,
amarrada e com a boca tapada, levantou-se e, aos pulos, como
se fosse um felino, aproximou-se e ficou face a face com o padre.
Ela deixou, então, cair o pano que amordaçava a sua
boca e, aos berros, perguntou ao padre:
— Seu filho de uma vaca, monte de estrume, quem falou
que me chamo Maria?
— Sou o Zé da Estrada. Repetiu este nome diversas vezes,
com palavrões e impropérios, desfazendo-se das correntes.
Era isso que o padre queria. Tirou a sua estola, que
estava em volta do pescoço, apanhou um vidro com água benta
e começou a batalha contra o mal ali presente.
Enquanto gritava “Vade retro, Satanás”, padre Miguel
espargia água benta pelo corpo da moça e, ao mesmo tempo,
açoitava-a com a estola. Travaram uma violenta luta corporal
e Zé da Estrada, que supostamente possuía Maria, agarrou-se
ao padre e ambos rolaram pelo chão.
Aos poucos os ânimos foram se acalmando e, como por
milagre, Maria caiu desfalecida aos pés do Padre Miguel. Como
um pai bondoso, ele tirou a encardida batina preta que usava
sobre suas roupas normais e cobriu a jovem.
Chorando, os irmãos da moça beijaram as mãos do
Padre Miguel e contaram que o diabo estava naquele corpo
havia mais de seis meses.
Depois de uns quinze minutos, Maria começou a dar
sinais de vida, levantou-se e perguntou aos irmãos onde estava.
Já refeita, recebeu novas bênçãos e partiu toda sorridente,
vestida com a batina do padre, mas sem rasgá-la!
E assim o padre tornou-se cada vez mais conhecido.
Certo dia, ele foi à cidade procurar Concentino. Tinha
chovido muito na véspera e as goteiras, resultantes das chuvas
e de outros fatos estranhos, segundo ele, pediam a presença
urgente do pedreiro amigo na capela.
Assim que chegaram, padre Miguel começou a narrar
a Concentino os acontecimentos.
Com voz calma, mas cansada, ele confessou ao amigo:
— Ontem, em pleno temporal, recebi a visita do demo!
Veio em forma de um cão bravo que apareceu não sei de onde.
Tudo estava trancado devido ao escuro da noite e à chuva. Como
ele apareceu, não sei contar! Estava me preparando para ir
dormir, quando a fera me atacou! Assustado, corri e me protegi
encostado no altar. Comecei a rezar com o terço na mão. Depois
de latir e grunhir como um porco, do jeito que surgiu, o cão
danado se foi. No mesmo instante o temporal aumentou, o vento
uivava em lamentos, sem parar, e um raio caiu na torre da
capela, causando todos estes estragos que você está vendo.
Boa parte da torre tinha desabado. As instalações elétricas
estavam queimadas. Nas paredes internas da capela os rebocos
haviam sido arranhados pelas unhas do animal.
Concentino demorou quase um mês para deixar a capela
em ordem e pintada com esmero para o seu melhor amigo.
No início dos anos 40, sem emprego fixo, devido à crise
gerada pela Segunda Guerra Mundial, Concentino mudou-se
para São Paulo.
Nos anos 50, a Cúria, preocupada com os feitos do
padre Miguel, transferiu o “curandeiro” para uma paróquia da
Capital.
Concentino soube da mudança e passou a visitar seu
amigo, de vez em quando.
Em 1973, dona Augusta, tia de Concentino, ficou muito
doente. Solteirona recatada, ela sentiu vergonha de contar aos
seus familiares que estava com um enorme caroço no seio.
Quando eles perceberam a sua enfermidade, o câncer já tinha
causado várias metástases em seus órgãos vitais.
Começou, então, uma correria entre médicos e hospitais.
Concentino, já aposentado, foi quem mais cuidou da tia
Augusta, neste período.
Mas o fim estava próximo. Internada no Hospital do
Câncer, no bairro da Liberdade, em São Paulo, tia Augusta, em
coma profundo, estava rodeada por seus familiares.
Concentino sugeriu que fossem buscar o padre Miguel
para lhe ministrar a extrema-unção.
Ricardo, também sobrinho de tia Augusta, foi designado
para esta tarefa.
Saiu do hospital às quatro horas da tarde, tomou um táxi
e dirigiu-se ao Tatuapé, onde ficava a paróquia do padre Miguel.
Chegou meia hora depois, mandou o motorista esperar
e foi falar com o padre Miguel.
Bastante idoso, mas sempre simpático, o padre atendeu
Ricardo, desculpando-se:
— Meu filho, infelizmente não poderei ir. Tenho de
rezar uma missa de sétimo dia agora, às cinco horas da tarde, e
a família já está chegando. Mas diga ao meu querido amigo
que irei elevar as minhas preces durante a missa, para que Deus
tenha compaixão de vossa tia.
Despediram-se. Ricardo dispensou o táxi e voltou de
ônibus até a Praça da Sé, de onde caminhou até o hospital, na
Liberdade.
Passavam das dezoito e trinta, quando Ricardo entrou
no quarto da agonizante.
Com o trânsito lento do final da tarde, Ricardo demorou,
aproximadamente, duas horas e meia, para ir e voltar.
Decepcionado, começou a contar por que o padre não
tinha vindo quando Concentino, admirado, exclamou:
— Mas como?! Meu amigo padre Miguel esteve aqui
conosco por mais de meia hora! Quando ele chegou o relógio
do corredor marcava dezessete e quinze. Pensamos que você
estivesse lá embaixo, comendo um lanche, esperando o padre
para levá-lo de volta!
Estupefato, continuou:
— Ministrou o sacramento dos enfermos e rezou durante
uns dez minutos ao lado da tia Augusta. Todos, inclusive
as enfermeiras, viram quando ele chegou, e até beijaram a mão
dele na despedida!
Mas um detalhe havia chamado a atenção de Concentino.
Na despedida dos dois, Concentino queria levá-lo de volta,
mas o padre Miguel não aceitou de jeito algum. Não deixou o
amigo sequer descer no elevador com ele. Despediram-se
rapidamente quando o elevador chegou.
O padre simplesmente tinha voado da sua igreja até o
hospital. Foi esta a conclusão a que todos chegaram.
Às oito horas da noite, tia Augusta faleceu.
Durante o velório Concentino começou a se lembrar de
fatos passados lá na capela em Analândia.
Uma ou duas vezes, enquanto trabalhava na capela, viu
o padre Miguel orando diante do altar, e notou, espantado, que
ele levitava, desafiando as leis da gravidade. Durante minutos
ficava observando o padre, que se afastava do chão. Nunca teve
coragem de tocar neste assunto com o amigo. Permanecia
quieto, com medo de ser mal interpretado.
Devido aos seus atributos espirituais, padre Miguel
tinha o raro poder de levitar. Mas, bilocação? Concentino nunca
imaginou que o seu amigo padre Miguel era digno de um outro
estranho fenômeno: conseguir estar, simultaneamente, em dois
lugares diferentes.
Atualmente, as experiências com levitação são conhecidas
através de livros, cursos e palestras. Mas o fenômeno de
uma pessoa estar, ao mesmo tempo, em dois locais diferentes,
a ciência não consegue explicar.
Uma das melhores notícias sobre levitação da história
aconteceu em 16 de dezembro de 1868, e foi presenciada por
respeitados membros da sociedade londrina. O visconde
Andare, o senhor de Lindsay e o capitão Winne viram o famoso
e conhecido médium Daniel Douglas Homes elevar-se no ar,
passar por uma janela, continuar levitando e entrar, por outra
janela, a 24 metros de altura, numa enorme e elegante mansão
de Londres.
Conta-se que São José de Copertino (1603-1663) voava
sempre que se sentia emocionado. Certo domingo, em plena
missa, elevou-se no ar e pairou sobre o altar. No meio de
enormes velas acesas seu hábito pegou fogo, causando-lhe
graves queimaduras. Durante mais de 35 anos, foi excluído de
todos os rituais públicos, para não provocar novos constrangimentos
aos fiéis. Um dia, andando pelos jardins do
mosteiro, em companhia de um outro monge beneditino, subitamente
voou até a copa de uma oliveira. Como não conseguia
levitar para baixo nem descer da árvore, seus colegas tiveram
de ir buscar uma escada. Dois cardeais e o papa Urbano VIII,
entre outros, presenciaram os extraordinários momentos de
total ausência de peso no monge José. Quando perguntavam a
ele como se sentia neste estado, respondia:
— Apenas sinto vertigens!
No raro fenômeno da bilocação, o mais famoso possuidor
desse carisma foi o padre Pio.
Padre Pio de Pietrelcina, que se chamava Francesco
Forgione, nasceu na Itália, em Pietrelcina, um pequeno povoado
da Província de Benevento, em 25 de maio de 1887.
Um dos acontecimentos que marcou intensamente a
vida de padre Pio, e da Igreja Católica, aconteceu na manhã de
20 de setembro de 1918, quando, rezando diante de um
crucifixo, recebeu um maravilhoso presente – as estigmas de
Esse acontecimento extraordinário chamou a atenção
de jornalistas e estudiosos que já conheciam o padre Pio pelas
suas bilocações. As visitas ao padre no convento de San
Giovanni Rotondo dos Capuchinhos, onde ele faleceu em 23
de Setembro de 1968, foram inúmeras. Todos queriam estar
ao lado de um homem estigmatizado, para conseguir a sua
misericordiosa intercessão junto a Deus.
Todos os personagens deste conto hoje levitam, deslocando-
se pelo espaço sideral!


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