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Contos-->SANTO NATAL -- 09/12/2008 - 19:32 (Roberto Stavale) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
SANTO NATAL

O inverno de 1751, no pequeno lugarejo de Luchesi, nos Alpes Italianos, foi um dos mais rigorosos dos últimos tempos, segundo os habitantes mais antigos do lugar.
Fazia três semanas – desde o fim de novembro – que a nevasca não parava.
As estradas, ruas e até a pequena praça da igreja do Gesù Bambino estavam intransponíveis. Poucos se aventuravam a sair para a floresta congelada, em busca de alguma caça.
Apesar dos mantimentos curtidos durante o outono, como pimentões, berinjelas, tomates, carnes e salames, a fome era um pesadelo para a maioria dos habitantes.
Não era todos os dias que a pequena padaria do lugar fazia pães. A escassez de trigo era outro mau agouro.
A madeira, guardada para os fogões e aquecedores, pouco a pouco desaparecia das enormes pilhas. Quase todos diziam que, até o Natal, pouquíssimas casas teriam lenha para cozinhar os seus alimentos.
Era um inverno desolador.
A pequena casa de pedras e telhado de ardósia da família Crespi era uma das poucas que, no dia 21 de dezembro, ainda tinha a chaminé esfumaçada.
Lá morava o “faz tudo” Caetano Crespi. Além de ajudar o padre Querubino, como sacristão e escrivão, ministrava chás medicinais e socorria as famílias da aldeia nas mais diversas doenças. Até partos ele fazia!
Além disso, era um excelente carpinteiro.
Padre Querubino dizia que Caetano tinha herdado as sabedorias do ofício de São José, pai de Jesus.
Ao contrário do lar dos Crespi, em uma pobre casa de madeira, cuja chaminé não dava sinal de vida, nos arredores do povoado, a família do caçador Garibaldi vivia momentos de aflição com a doença de Francesco, de cinco anos, último dos sete filhos daquele casal devoto ao Gesù Bambino.
E, para piorar a situação, na despensa só restavam dois quilos de lentilha e um pequeno paio defumado.
Caetano foi chamado por Garibaldi naquela tarde fria de 21 de dezembro. Depois de examinar o menino, que ardia em febre, diagnosticou a terrível doença da palha, como eles chamavam. Na verdade, o garoto estava com tifo e não havia medicamento para curá-lo.
Naquela época, as epidemias de tifo eram freqüentes.
O “faz tudo” voltou para casa com o seu enorme casaco de peles, cobrindo a cabeça, pensando no triste serviço daquela noite – fabricar um pequeno ataúde para o pobre Francesco.
Naqueles lugares remotos, quando alguém ficava muito doente e as esperanças de vida se esvaíam, era comum que o carpinteiro da localidade mais próxima fizesse o caixão, para evitar correria na última hora.
E assim, quando amanheceu o dia 22 de dezembro, o pequeno caixãozinho estava pronto na oficina de Caetano.
No anoitecer do dia 23, Garibaldi, ao ver o filho em agonia, foi às pressas buscar o padre Querubino para ministrar a extrema-unção ao seu querido Francesco.
Quem levou o padre Querubino foi Caetano, em sua carroça, puxada por um cavalo magro, coberto com velhos cobertores. A carroceria estava repleta de lenha para aquecer a triste noite dos Garibaldi.
Depois de receber o sacramento, Francesco adormeceu profundamente.
Mamma Carmella Garibaldi, chorosa, ficou de vigília até o dia amanhecer. Era véspera de Natal quando ela se deu conta de que, pela primeira vez na vida, perderia a missa do galo. Ajoelhou-se e, depois de rezar para o Menino Jesus, em voz alta, fez a seguinte promessa:
– Mio signore Gesù Bambino, por favor, por piedade, conceda o milagre de curar o meu pequeno Francesco, com a minha promessa de batizá-lo novamente, esta noite, durante a missa do galo.
Garibaldi ficou ao lado do menino, enquanto Carmella cuidava das outras crianças.
Ao meio dia, Francesco abriu os olhos e começou a chorar, dizendo ao pai que estava com fome.
Ao notar que Francesco estava curado, pois nem sinal de febre ele tinha, toda a família pôs-se de joelhos e começou a rezar, agradecendo o milagre concedido.
Depois de devorar um prato de lentilhas, o garoto revelou que havia sonhado com Jesus e gostaria de contar seu singelo sonho.
– Conte, conte! Pedia, soluçando, a mãe.
Francesco acomodou-se entre as cobertas e relatou:
– Não sei se foi sonho. Parecia mais uma realidade! Estava escuro. Apesar da neve que caía, a janela estava aberta. De repente, da cama avistei uma bola de luz que vinha em direção da casa. Levantei-me e, debruçado na janela, vi um belo trenó, todo enfeitado com flores, puxado por doze alces, conduzido por um velho gordo e simpático, de barbas brancas e compridas, vestido de vermelho, com botas pretas até os joelhos, e um capuz, também vermelho, protegendo a cabeça.
Num passe de mágica, aterrissou o trenó diante da janela. Com voz meiga, disse-me que era São Nicolau e que ia me levar para ver o presépio onde estava a manjedoura do Menino Jesus, em Belém.
Pegou-me em seus braços e me levou para o trenó. Acomodou-me em seu colo e deu sinal, com um assobio curto, para os alces partirem.
Voamos através de uma linda noite, clara e estrelada, com a lua se pondo no horizonte. Seguimos uma brilhante estrela cadente que se movia no espaço, mostrando o caminho, até parar em cima de uma estrebaria.
Lá descemos e, carregado por São Nicolau, entrei.
Levei um susto, pois lá estavam Nossa Senhora e São José, ao lado de um berço de feno, com o Menino Jesus, recém-nascido, agitando as suas mãozinhas para mim.
Faça um pedido para Ele – sugeriu São Nicolau.
Chorando, eu pedi para sarar, assim poderia ver novamente os meus pais e os meus irmãozinhos!
Com um aceno de cabeça, São Nicolau despediu-se da Sagrada Família. Voltamos, felizes da vida, para a nossa casa.
– Graças a Deus o meu pedido foi atendido por Gesù Bambino. Hoje, na missa do galo, cumprirei a minha promessa, exclamou mamma Carmella.
Antes de começar a cerimônia, depois de cear apenas lentilhas, bem agasalhados, os Garibaldi foram para a igreja.
Padre Querubino e o sacristão Caetano ficaram atônicos ao ver Francesco, completamente curado, sentado no banco.
Garibaldi contou o sonho do menino e como ele havia acordado sem febre.
O padre Querubino atendeu ao pedido da fervorosa mãe e assim, à meia noite, quando o sino da pequena capela começou a repicar, anunciando o nascimento do Senhor, Francesco Garibaldi foi levado em procissão até a pia batismal, onde foi rebatizado com o nome de Santo Natal.
Ao voltar para casa, outro milagre!
A cabana estava iluminada e aquecida por uma enorme fogueira. Dentro, uma farta ceia, com assados e frutas secas. E até uma garrafa de vinho com um cartão, no qual se lia:
“Feliz Natal! São os votos de São Nicolau.”
Nunca mais faltou comida na mesa da família de Santo Natal!


Roberto Stavale
Dezembro de 2008.-
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