ROUBEI O LADRÃO (republicaçao)
Quando eu ainda era gente,
Em um domingo, à tarde,
Eu escutei grande alarde
E me virei de repente;
Vi um cara diferente
Passando, de bicicleta;
Tinha até um ar de atleta,
Um porte físico aprumado...
E, logo atrás, um coitado,
Gritava feito pateta.
Foi rápida como uma seta
A minha idéia da cena:
O de trás me dava pena –
Uma figura abjeta;
Corria, numa linha reta,
A pé, atrás do primeiro,
Gritava: “—Leva o dinheiro.
Mas joga a minha carteira!”
Eu tomei-lhe a dianteira
E fui ao outro certeiro.
E logo, um meu companheiro,
João, irmão de Jaqueta,
Montou na motocicleta
Seguiu a gente, ligeiro.
Entretanto, o desordeiro
Em muito se adiantara,
Com a bicicleta do cara
Que tinha roubado há pouco,
Eu correra feito um louco,
Contudo não o alcançara.
Eu já tinha desistido
De perseguir o ladrão;
Sentei-me um pouco no chão,
Pois estava esbaforido.
Bastante tinha corrido –
Uns três quarteirões, ou mais...
Mas chegou João, logo atrás,
Na sua moto CG,
E disse a mim: “-Vamos ver
Se o cabra é mesmo capaz!”
“-Monta logo aí, irmão!”
Eu atendi prontamente ;
Deu tempo ainda da gente
Ao longe ver o ladrão,
Cruzar numa contramão
E entrar na Universidade;
Pois via a necessidade
De procurar se esconder
Dentro da UFPB,
Pra descansar à vontade.
E como quem desistisse,
Seguimos a estrada de fora,
Sem fazer qualquer demora
E sem que o cabra nos visse.
Nós contávamos com a tolice
Do ladrão, que, sossegado,
Já não estando acuado,
Esqueceria a defesa...
E fomos esperar a presa
Lá na frente, do outro lado.
Bem próximo da Reitoria,
Paramos a motocicleta,
E aguardamos o atleta,
Que em nosso rumo viria...
Nem demoramos a vigia,
Apareceu o ciclista
Eu pulei sobre o artista,
Com o pé contra o seu peito,
E ao desviar-se, o sujeito
Caiu na beira da pista.
Levantou com rapidez,
Entrou correndo na mata,
E foi só a conta exata
Pra eu não pegá-lo de vez.
E eu nem conto a vocês
Que aquela criatura
Perdeu logo a compostura;
Correu gritando: “-Papai!”
Levanta aqui, ali cai,
Sumiu-se na mata escura.
Resgatei a bicicleta –
Tinha quebrado o guidão,
E na garupa de João
Montei na motocicleta .
Dali, pegamos a reta
Para a casa do rapaz
Que eu tinha visto atrás
Do larápio que o roubou.
Quando ele nos avistou
Riu, que não parava mais.
Era alegria demais,
Para coisa tão pequena;
Pra mim, não valia a pena
O veículo do rapaz.
Mas quase eu caí pra trás,
Quando ele me explicou
Que o ladrão só lhe tomou
Dinheiro, não bicicleta,
E que ao ladrão-atleta,
Foi a gente que roubou.
* * * *
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