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Teses_Monologos-->O Mito da Agonia dos Deuses -- 19/07/2003 - 15:02 (Lucas Tenório) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Sabem Cássia e Luiz, vocês me levaram a reintuir o quanto os deuses devam ser caprichosos - amargurados, desencontrados. Como deve ser difícil lidar com uma auto-referência de poder absoluto e supremo, diante de um universo de criação mediatizado pelo vir-a-ser, por leis de possibilidades...

Perdoem-me desde já e para adiante pelas simplificações. Elas de novo insistem em permanecer presentes... Sabem, não é? Não bem ao certo!? Psss...! venham cá comigo, ao pé do ouvido: há um grupo deles especialmente incumbido de sondar os confins - o termo me veio à cabeça agora, nada especial - das mentes "petulantes", para garantir que de lá não saia nada de perigoso, que os deixe desconcertados. E sabem como eles procedem? Instigam, amigos, sadicamente, com seus múltiplos ardis, ainda mais essas pobres mentes buliçosas e em polvorosa, até que de duas uma: pipoquem numa apoteótica ilusória heureka - o êxtase divinal! - , o supremo gozo pelo ludíbrio do mais novo e não menos tolo "semi-deus-canhestro", pretendente iludido a uma casta fantástica e inalcançável - especialmente agora - , preso à hierarquia olímpica da noção do falso termo de apreensão da verdade: a Certeza... cambaliante (fazer o que, essa armadilha é fatal) mas certeza... Ou entristeçam, angustiem-se - afinal ainda são as humanas - e batam em retirada. Não são a tristeza nem angústia mórbidas, Cássia e Luiz. Imaginem a tristeza de uma feliz despedida! Pois é isso mesmo. Elas exatamente se despedem felizes - sabem agora um pouco mais. E puxa a vida!, como isso é bom e prazeroso!... (não fosse assim seria insuportável). Retiram-se porque sabem que os deuses sempre apelam, e o último argumento seria colocá-las em parafuso. Reorganizam-se amparadas na dúvida de que por outro caminho vão conseguir enganá-los, e vejam que revide! Entrar nas suas mentes e copiar suas idéias, subverter essa ordem caótica, um caos organizado para um jogo dos caprichos deles, já disse.

Mas esperem... Não é tão simples assim não, claro. E os nossos erros? Não colocariam tudo a perder!? Outra coisa: tudo isso não é muito egoísta, egocentrista e parcial?... Mas lógico que não!, se disso também não temos a certeza! Tão somente uma vaga noção... Importaria?... Daí o campo - um dos tantos na verdade - fértil para as simplificações.

Viram! (como bons profissionais da dúvida não reproduziremos, não companheiros, aquele velho ditado: "mente de ferreiro, raciocínio de pau").

Viram ou não viram como acontece! Hã?... Bom, parece razoavelmente nebuloso e esquisito?... E é mesmo. Mas vejamos finalmente, Luiz e Cássia, por que os deuses agem assim.

Meus prezados, eles criaram toda essa descontinuidade, forjaram tantas rupturas, leis intrincadas, talvez (é impossível neste ponto não usar o talvez, sem que se seja leviano) para reinventar no e pelo homem (a projeção desesperada do seu alterego inatingível, inconcebível e portanto na visão deles inferiorizado. Uma às avessas, sabemos lá como pode ter sido a original, teogonia) um liame controlável do drama côsmico da gênese do eterno, do sublime, do infinito... Claro, com seu frankstein refinado, bonitão, espanado, bom moço... (de fato o nosso foi bem mais tacanho, mal comportado... No âmago, mais um solitário). Aí sim, teriam um todo perfeitamente apreensível, manipulável e divertido para eles, mas assim mesmo de forma trágica: só virtualmente, vejam bem, apenas virtualmente passível de transcendência ao Olimpo, ao mundo das suas idéias esteticamente belas, mas não tão éticas.

Perguntamo-nos sempre por quê, se não seria este o propósito da criação, a perfeição. A ascensão ao sagrado e diáfano, etéreo e incorruptível, a chama perpétua e brilhante do saber, do poder, do ser... e para sempre.

Desconfio amigos, desconfio de que haja vaidade por trás disso, num medo tremendo da superação por um de nós, simples mortais, mas dotados de uma característica inalienável e da qual eles não puderam abrir mão na construção dos nossos arquétipos, intrínseca a eles mesmos: a essência infinitesimal, em potência, do conhecimento... até deles próprios.

Quanta ironia, hein!... Mais um mito ordinário de uma teodicéia barata? Depende. Depende de como se o compreenda, caso valha a pena. Lembremo-nos de que um forte e decisivo argumento dos deuses é o de que se esgotaram as instâncias de análise de determinados fenômenos, condenando-os a uma versão conveniente e monolítica. Além disso, não haveria graça num jogo de cartas marcadas, não acham? Para os deuses, principalmente. Eles odeiam vencer sem que por méritos próprios. Sabem o motivo? Querem saber? É porque eles o começam do fim... sempre.

Reside nisto, Cássia e Luiz, a maior fraqueza dos deuses, esse sentimento de auto-suficiência plena, domínio completo de tudo. De tudo?... certamente que não.

A essência humana, para que realize o projeto contraditório e escatológico do perfeito e inacabado, do primoroso, guarda em si uma centelha da autonomia absoluta. Falha da criação? Não, muito mais uma aposta deles conosco, ou melhor: A Grande Aposta! Poucos sabem disso, muitos pensam que sabem, outros têm uma vaga noção, como nós, creio.

Reinventaram o possível e o impossível, não!? Brincaram com o entusiasmo (pertinácia para os fortes, tolice para os desiludidos, a "fase poética da apreensão da realidade", para os filósofos anônimos) na consciência dos que vivem o clímax da incerteza, um cruciante ser-ou-não-ser, o furor das dúvidas primeiras (segundas e terceiras), mesmo sabendo que o fim último é sempre o mesmo, um beijo em suas mãos, um fitar nas suas faces reveladoras e um curvar de cerviz, em reverência ao medo do desconhecido, da perda, do fracasso...

Chegamos ao ponto, Luiz e Cássia, em que vale a pena relatar-lhes um breve diálogo mantido em segredo num, entre os incontáveis dos seus tribunais, numa época qualquer. Escutem com atenção:

- Mortal, você se saiu muito bem! Até pensou em trapacear, mudar as regras do jogo... (semblante de irônico espanto). Mas prevaleceu seu apurado senso humano (mentira, no fundo eles apreciam os rebeldes) que o dissuadiu a desistir daquela idéia, naquela fase de delírio, de instinto de subversão. Sabia que você atentava contra si próprio, sua própria natureza? Mas é lógico meu pupilo!... isso já é tão batido! Ou você não sabe que as suas referências existenciais repousam na minha imaginação? Teriam elas vida própria?... Meu caro mortal, essa estória de "autonomia residual da cosmogênese secundária", em que alguns acreditam, não passa de um lapso do nosso pensamento (verdade. E foi quando eles criaram a descontinuidade tempo-matéria- heteroconsciência para poder viabilizar o homem. Até aí ele dizia a verdade).

Veja por exemplo, querido, uma das indagações que encontrei no raciocínio de um de vocês:

"É possível apreender, sentir, a plenitude da vida na sua relação mais abrangente consigo mesma e com tudo, principalmente com o que não se consegue entender, ver, vivenciar?"

Sabe o que ele tinha por resposta?

"Na busca do sentimento mais simples, do amor mais indecifrável e ao mesmo tempo mais assumido, do afeto mais solidário consigo e menos egoísta, encontrei..." - blá, blá, blá! (risos copiosos).

Veja meu estimado pequeno-projeto côsmico, esse supra-sumo da especulação, versado em Teologismo e outras artes pseudo-herméticas, queria definir algo que simplesmente não sabia! Por mais que falasse, mais besteira diria. Vocês, mortais, não têm nenhum controle sobre isso! Tss, tss, tss... Porque essa plenitude, humano, só se verificaria, e olhe lá (esse olhe lá foi blefe) na unificação dos seus ímpetos díspares e efêmeros numa vontade serena e equilibrada, perpétua, como uma das nossas. (vejam quanta arrogância e pedanteria... Mas houve aí um porém, e esperemos, amigos, que o interlocutor o tenha apresentado. Vamos, vamos lá, vamos torcer por ele, por nós!)

- Senhor deus dooo...?

- Do pensamento, mortal.

- Ah... bom... Senhor deus do pensamento. Para que não nos alonguemos mais, lhe diria que encontrei uma falha na sua argumentação. O mortal começou dos genéricos simples e indecifrável, não foi isso?

- Exatamente, humano! Um baita dum paradoxo.

- Perfeito. Então, deus, o que na sua opinião é mais simples e ao mesmo tempo mais indecifrável?

- Meu amado... Não me venha com essa! O mais simples e indecifrável é o maior enigma da existência. Diria até que a causa primeira de tudo, de nós todos. (E aqui, notem como ele ficou mais humilde, usou o "nós" quando se sentiu efeitizado.) Definitivamente o tal mortal já começara demonstrando que não sabia absolutamente do que falava.

- Alto lá, senhor deus! Não podeis dizer isso! Esse mortal na verdade... fui eu!... bom, sou eu... (esse foi o começo de uma corajosa virada de mesa). Preparava ali o ataque, e agora vou arrematar:

O que é mais simples e ao mesmo tempo mais indecifrável é mesmo o bem-querer, o bem, como se fazia insinuar na frase que menosprezadamente o senhor declamou de forma incompleta. Fácil, não? Claro! Por quê?... Brincadeira... Lógico que terei de dizer o porquê, senão não terei dito nada.

É mais simples porque o sentimento que brota de forma mais pura e abundante; e indecifrável porque é inexplicavelmente
incompreendido, perpetrando muitas vezes o ódio, o desprezo, a violência, o medo...

Alguns segundos de silêncio.

- Palavras, mortal, palavras... Poupe-me o tempo e a paciência. - Prove agora o que diz, sob pena de setenciamento sumário à mediocridade!

- Bem, deus dos meus pensamentos. Só poderia provar, nós dois sabemos disso, se fizesse uma brecha na sua dúvida perfeita, na nossa dúvida compartilhada. A minha alimentada pela fraqueza fortaleceu-se e superou a sua! Não se deu conta, não é? Eu sei, era uma seara que o senhor não gostava de visitar, mas é seu "calcanhar de aquiles", meu bom deus.

A plenitude da vida está na busca do Bem, e com ele da verdade, porquanto ele lança luz a tudo o mais. Ela com eles se confunde - a vida, o Bem e a verdade - e num certo sentido são indecifráveis, como o Bem.

O Bem incorporou-se em Deus, o Deus dos deuses e dos homens, que criou prodigiosamente as forças propulsoras da gênese do cosmos, e dos microcosmos, entre eles o mais intrincado e efusivo: a mente humana.

Enquanto a mente dos deuses deliciava-se com o seu superpoder genético, a dos homens martirizava-se na busca do significado da sua existência. E sabe por que, deus? Porque o Bem Supremo, ao criar as consciências modelares, vocês, deu-lhes liberdade de expressão de sua vontade estética, ética e genética.

Os deuses, vocês, com seus sopros, ao atiçarem os homens, subtraíram-lhes a perfeita noção da linha divisória da bondade, para além da qual nenhum de nós conseguiria ir, e de cujo desconhecimento, ao aquém contínuado, resultaria a corruptibilidade permanente. Muitos afundaram-se nessa ilusão por vocês criada, tornando-se cada vez mais "semi-deuses-canhestros", enquanto outros poucos ainda persistem desesperadamente na busca da peça final do quebra-cabeças, de como resolvê-la... Qual, deus?... A renúncia! A renúncia aos deuses ilusórios que perturbam as nossas mentes, pela procura incondicional a esse Bem Supremo, através da sondagem do gesto de amor mais sublime e puro, que ficou estampado no único arquétipo a que o Criador privativamente se reservou, e a que vocês não têm acesso pela pouca intelectualidade delas: o sorriso das crianças.

Então, deus, eis a resposta: não acreditar cegamente no que os senhores nos dizem, nos querem fazer crer. Buscar a crítica das nossas dúvidas, perseguindo a perfeição para a ascensão à verdade primeira, o Bem!

Agora, deus, não me peça para explicar o próprio Deus, por birra ou coisa parecida. Nem vocês mesmos sabem! E afinal, perderam tanto tempo nos vigiando, com medo de tomarmos - mas que bobagem - os seus lugares, que nem sequer evoluíram, ao pensar que sabiam tudo! Pobre deus dos meus pensamentos... pensou que sabia tudo.

Pairou entre eles uma espessa atmosfera de luto e pesar, como a de dois amigos que choram juntos a morte de um terceiro... Mas enfim, o deus voltou a falar:

- Bem, mortal... Devo reconhecer que sua explanação é convincente...

- É, não é deus!... Afinal, agora não há mais retorno mesmo. Bom, então deixar-nos-á finalmente em paz?

- Mas como, meu filho!? E o que farei?

- Hum... Que tal se transformar numa espécie de inquisidor mítico, na lida com aventureiros, andarilhos e vagamundos deste pequeno planeta?

- É!! Mas como?

- Bom, eu pensei até num nome: Esfinge! Bonito, não!? O que você acha, meu estimado deus?

- Não, mortal, não... Diga-me agora o que você! acha.



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