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cronicas-->Dois amigos -- 13/09/2005 - 21:40 (Renato Rossi) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Já faz uns três ou quatro meses que estão ali, pertinho um o outro. Na verdade, se achavam sozinhos naquela condição ao mesmo tempo agradável e aconchegante, mas estranha, solitária. Quando se deram conta que não estavam sós levaram um susto. Como? Quem é ele? Perguntavam-se, olhando o novo colega de viagem. No início cada um pensou consigo que o outro era um intruso. Depois foram se acostumando com a idéia e ficaram amigos. Afinal, estão no mesmo barco, melhor dizer nave.

Estranha nave aquela em que se encontram. Sem janela mas com a possibilidade de se sentir o mundo externo pelos sons, pela luz, pelos sacolejos e também pelos afagos. De alguma forma sentem mais que tudo isto, talvez haja algum cabo de conexão, alguma forma de comunicação. Eles não sabem explicar. Nem eu.

Passado o impacto inicial, logo descobriram afinidades além da situação em que se encontram. Afinal, compartilham o mesmo espaço, as mesmas sensações, os mesmos sons e solavancos. Os solavancos eles não gostam muito não, embora às vezes achem divertido. Sacodem com os mesmos solavancos. E como sacodem, com o vai e vem da tal nave que, se de um lado os abriga e protege, de outro não admite comando, tem vida própria.

Há dias em que passam horas conversando, conjeturando, discutindo possibilidades. Não são iguais mas têm muitas afinidades. Nem sempre pensam o mesmo mas aceitam suas diferenças. Na realidade apreciam a discussão, a elaboração de argumentos, a interpretação dos sinais externos. Solavancos, barulhos, vozes, gritos. O que será cada um daqueles sons?

Outro dia, não lembram como, ouviram falar em dupla caipira. Não entenderam muito bem, mas algo lhes disse que, com tantas afinidades, poderiam formar uma. Olharam um para o outro com cara de interrogação. Será? Ensaiaram uma modinha, mas ainda não estão muito preparados. Ficou a idéia para explorar no futuro.

Às vezes brigam. Não, não uma destas brigas de machucar, de querer mal, de ficar sem falar por mais de um minuto. São apenas pequenos encontrões em busca de um melhor posicionamento. Fosse na fórmula 1, eu diria que estão disputando a "pole position". Afinal, eles fizeram uma aposta: quando o dia certo chegar disputarão para ver quem sai antes da nave. Ainda é cedo, eles sabem, mas quando chegar a hora, a disputa será grande. Coisa de guris.

O dia a dia é simples, uma soneca, uma ou outra cambalhota, vez por outra um pequeno chute para que a nave não se esqueça de que os carrega. Entre uma conversa e outra, entre uma soneca e outra, o que mais gostam é de ficar ouvindo os sons externos, adivinhando como são as coisas na realidade, as coisas de que ouvem falar. Trocam olhares, sorrisos cúmplices, adivinhando os acontecimentos externos. Não esquecem aquela história de dupla caipira.

Como são os donos destas vozes, em geral agradáveis? Entre tantas, de uma em particular gostam mais. Acham que é a dona da nave, ou a nave ela própria. Nave tem voz, se perguntam. Sei lá, respondem. Conjecturas apenas. Mas gostam muito dela, não só por ser a única a lhes falar de uma forma mais pessoal, mais particular, mas pelas histórias que conta, a forma como fala. Na realidade, há também uma outra vózinha a lhes falar com certa frequência, esta mais parecida com eles próprios. Não entendem muito bem. Talvez um futuro amigo, não sabem ao certo ainda, mas pressentem que será bom.

Na verdade eles não entendem muito bem o que estão fazendo ali, mas, não reclamam. Sabem que é temporário e que muitas coisas boas os aguardam do lado de fora. É só esperar um pouco e, enquanto isto, uma cambalhota, um pequeno chute, um sorriso, uma conversinha.

Talvez ensaiar uma modinha.
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