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Infanto_Juvenil-->O CASAQUINHO DE INVERNO -- 14/05/2004 - 09:16 (José J Serpa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O CASAQUINHO DE INVERNO Era uma vez um casaquinho de inverno. O casaquinho do Rui.

Era um casaquinho comprido, quentinho, forrado de lã com botões doirados e uma gola fofinha que podia virar capuz.

Naquele país do norte onde o Rui vivia fazia muito frio no inverno. Caía neve e a água dos lagos congelava. Todo o mundo tinha de pôr luvas e roupa de agasalho para não ficar congelado no meio da rua.

O Rui sempre punha o seu casaquinho comprido para sair.

Levava-o para a escola, de visita à casa dos avós, quando ia patinar nas águas geladas do lago com os pais, quando ia brincar no meio da neve com os amigos...

Eram inseparáveis o Rui e o seu casaquinho de inverno.

Tanto que o casaquinho já tomara um pouco a forma do corpo do Rui. E até quase fazia sozinho os seus gestos mais habituais. No lago, a patinar, nem o Rui sabia se era ele que abria os braços para se equilibrar se era o casaquinho que estendia as mangas para o ajudar...

Finalmente, depois de um longo e rigoroso inverno, chegou a primavera. O tempo foi ficando mais quente e o Rui foi saíndo, mais e mais, sem o seu casaquinho. O pobre casaquinho agora ficava dependurado longos dias, a tentar imaginar onde teria ido o Rui. Dantes era só de noite, enquanto o Rui dormia, que o casaquinho ficava assim preso no cabide. Ufa! Que cansaço estar assim parado o tempo todo. Que tédio e que tristeza sentia o pobre casaquinho do Rui.

Um dia não pode suportar mais aquela insuportável situação e resolveu queixar-se ao Rui.

Foi de noite. Quando o Rui estava a dormir. Talvez a sonhar. O casaquinho mexeu-se para um lado e para o outro e deixou-se escorregar do cabide. Caído no chão, fez um grande esforço para se lembrar como se sentia quando estava vestido no Rui e conseguiu endireitar-se. Aproximou-se da cama, quase flutuando, e queixou-se:

–Não podias levar-me uma vez por outra? Só para matar saudades?
–Mamãe não deixa. Agora todo o mundo anda de roupinha leve. É o tempo quente...
–Oh, que pena o tempo quente! E vai durar muito?
–Até que volte o inverno com o tempo frio e a neve.
–E para onde foi o inverno?
–Mamãe diz que foi para o sul... Eu não entendo bem... Acho que volta quando for Natal outra vez.
–Ai, eu acho que não sou capaz de esperar tanto – disse o casaquinho abanando as mangas num gesto de desespero que aprendera com o Rui – olha, tens de me ajudar senão eu morro de tristeza, abandonado naquele cabide!
–Como? Como é que eu posso ajudar-te?
–Olha, eu já sei ficar de pé sozinho, vês? Sei fazer gestos com as mangas também, os gestos que aprendi contigo. Só não posso andar... não tenho pernas... Se tivesse, até podia sair de noite um bocadinho... Depois, sentia-me melhor e esperava que voltasse o inverno.
–Tenho uma ideia – disse o Rui, sentando-se na cama – vou arranjar-te umas pernas.
–Como?
–Já vais ver!

Levantou-se e foi à despensa, voltando com uma vassoura na mão.

–Não se pode andar só com uma perna – disse o casaquinho.
–Tem outra na garagem. Espera que eu já volto.

Depois de algum tempo e muito trabalho com o Rui a ajustar vassoura, ora dum lado, ora do outro, o casaquinho ensaiou os seus primeiros passos, toc...toc...toc, no piso do quarto do Rui.

–Outra vez, vá!
–Toc...toc...toc...toc...
–Deste vez foi melhor. Outra vez...

E foi assim que o Rui ajudou o seu casaquinho de inverno a esperar pelo regresso do frio e da neve que só voltaram muito mais tarde.

Ainda hoje, no país do Rui, se contam estórias de casacos estranhos a caminhar sozinhos nas noites de verão, mas acho que nunca ninguém viu nada.
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