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Contos-->Dominado -- 06/04/2001 - 04:22 (Samuel Ramos) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Não acreditava no que via, adormecera fazia algumas horas e de sobressalto acordara. Agora ele o fitava por cima dos olhos, sentado na cadeira em frente ao computador, de onde o som do Emperor havia sido substituído por Odair José, o que por si só, já era um sacrilégio. Imaginou que tamanha maldade só poderia ser coisa do diabo.

- Então o senhor se diverte ouvindo Emperor, hein?

A pergunta veio seca. A fala era firme e fria, parecia cortar o ambiente como uma lâmina de espada. A entonação bastante grave. Jamais ouvira voz tão poderosa desde que o Cid Moreira havia narrado a Bíblia em Cd.

- O que houve com o split cd do Emperor/Enslaved que tava rolando? Que música é essa que você me faz escutar agora?
- Primeiramente, me trate por Senhor. E em segundo lugar, toco Odair José.

Era ele. Só podia ser ele. Ouvira falar que no inferno a música de Carlinhos Brown, Odair José e Belle & Sebastian era tocada à exaustão. Atraído pela musicalidade obscura do Emperor, ele devia ter vindo conhecer seu crente. Desde cedo se interessara pelo black metal e por assuntos ligados à escuridão da alma humana. Encontrou nesse estilo musical a combinação ideal entre ceticismo e hipocrisia na sociedade em que vivia. Acreditava estar deslocado e buscava na profundeza melancólica da música a tristeza que embalava sua existência lúgubre. Não acreditava em Deus e nem na seleção, acreditava, no entanto, na natureza maligna das pessoas, segundo a qual Lúcifer era representante.

- Lúcifer?
- Que tem ele?
- Não é você?
- Não, eu sou muito maior, sou a essência da maldade. Vulgarmente, me chamam de Diabo, para os íntimos Pedro de Lara e para você, Senhor.

Finalmente ele aparecera. Ele esperava a anos por esse contato, poderia finalmente conversar com a maldade em pessoa, buscar explicações para o seu sentimento de solidão e melancolia diante das pessoas e da indústria cultural em geral. Porém antes que ele formulasse sua primeira pergunta, o diabo adiantou-se:

- Preciso de sua ajuda.

Não acreditava, ele seria enfim um servo da escuridão. Imaginava-se tomando a dianteira de uma legião de demônios. Ante qualquer negativa de sexo, haveria de ordenar que os seus soldados rasgassem roupas e amarrasem todas as meninas da escola para que ele escolhesse ante o medo em seus olhos, qual seria sua esposa por alguns minutos. Se imaginava sendo respeitado ao menor piscar de olhos, tudo em nome da autoridade do mal.

- Acontece que você há longa data me é fiel, e preciso saber se posso confiar em seus serviços. Você será recompensado de maneira extraordinária.
- Evidente meu Senhor, farei todos os votos os quais sejam necessários para que a sua Ordem seja mantida.
- Ótimo. Preciso que você faça parte da indústria cultural. Que auxilie pagodeiros, sertanejos, escritores de novela e escritores pop que mantém zines na internet e num segundo momento, apresentadores de programas de auditório na televisão.

Ele não acreditava. Anos de dedicação à causa, esperava ser no mínimo o produtor do novo disco do Burzum, ou quem sabe fazer com que o Samael voltasse às origens de seu primeiro album, Worship Him e o próprio diabo em pessoa vem lhe falar em pagode e outras obcenidades.

- Meu Senhor, desculpe ousar questionar sua sagrada ordem, mas eu não estou entendendo qual a real utilidade dessa minha função.
- Precisamos trazer mais e mais fiéis. O Papa, o Pedir Macedo e alguns produtores dos conglomerados de mídia andam se queixando que há muita gente se dispersando para outros setores culturais. E como a ditadura da cultura não tem ideologia religiosa, é mais fácil prender aos desgarrados pelos ouvidos ou olhos, sem que eles saibam que isso acontece.
- Mas meu Senhor, e o Burzum, o Samael, o Hipocrisy e o Rotting Christ, porque não investimos na massificação dos nossos aliados?
- Caro soldado, eles estão todos conosco nessa empreitada. Deixai aos mortais a música, a literatura barata e a coca-cola sem gás, enquanto que nós, soldados do firmamento, nos deliciamos com o verdadeiro néctar da sabedoria. Não sejamos como Prometeu, que quis trazer luz aos humanos e acabou com uma águia comendo eternamente seu fígado. E olha que ele nem beber bebia.

Entendera sua real função. Desde então fora cooptado a dar indicação aos produtos culturais a serem consumidos no mundo. Seu afastamento só foi determinado dias atrás, ele fora demasiado explícito na sua intenção de domínio mundial pelos produtos culturais, e isso tirava o poder da ideologia de dominação pela não ideologia.
Naquele dia o diabo ficara furioso com a execução massiva da música "tá dominado, tá tudo dominado" e resolvera lhe afastar por uns tempos.


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