Esmola
Deste mundo subterrâneo,
Que é o próprio inferno.
Almas a definhar.
Que esmola as poderá salvar.
Perdidos na noite escura,
na rua da amargura vagam sem
sem fé, sem lei, sem chão.
Dolorosa solidão.
Que fronteiras? Que nação?
Que enganosa invenção.
Que estória mais mentirosa.
Chamar isto de nação.
Por trás desta enganação, o
Mundo tem outra divisão.
É dos riquíssimos primeiro.
Todos se conhecem bem.
Se encontram em Paris, em
outras capitais e nos paraísos
fiscais. Decretam ali quem
manda aqui.
É dos ricos também.
Em qualquer lugar da Terra
inteira, o viver é semelhante,
conforto, luxo, grandeza.
Mesmo não se conhecendo tão
bem, têm por primeira intenção
perpetuar a condição. Cada vez
refinam mais estratégias de gestão.
E os pobres, não importa o lugar,
serão sempre a sombra da raça que
nunca foi, da nação que nunca existiu.
Fala baixo!
Cala-te!
Deixa-os quietos, vazios.
Deixa-os dormir, sonhar.
Não os venhas despertar!
Lita Moniz
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