Nas ondas daquele grande mar,
Pairava um ser em dura calmaria;
Velas sem vida para mundo navegar,
Marasmos de um só eu sem alegria.
Sem brisa morna que no céu soprasse,
Barco incolor, sem âncora ou data;
Sem cristas brancas que no azul formasse,
Corta a Rotina que a alegria mata.
Entre deixar-se levar e o se submergir,
A eternidade do minuto se vingou;
No tempo da espera e do nada vir,
Sem um farol, até o amor se afogou.
Muito leve um pano oco fremitante
Se agita n`alma da nau perdida;
Pupilas ardidas de sal causticante
Fitam secas o regerminar da vida.
Erguendo a quilha, do vazio mordente,
A pele de encantos em doce se arrepia;
No mastro estende o lençol renascente,
Desliza a nave, intrépida, luzidia.
No vento-norte que o amor se anuncia,
Veleja pela estrela-guia, alma plena;
Força de alento que o seio acaricia,
Toca o corpo ao porto que lhe acena.
|