Ouvi em algum lugar que para sobrevivermos precisamos esquecer. Pensando nisso peguei uma canequinha de chá verde e fui à varanda olhar e ouvir o mar. Noite ruidosa e quente aqui em Santos. Pude admirar as luzes dos navios no horizonte. Todos esperando pela sua vez. Marinheiros de outros países que vieram trazer o nosso sustento e buscar o deles.
Na areia iluminada vários homens jogam seu futebol. Impressionante como os gritos chegam até aqui, oitavo andar. Nos magníficos jardins da orla, o maior jardim de praia do mundo, crianças correm e brincam de esconde-esconde sob a vigilància de seus pais que sentados conversam nos bancos. Que bom se todos os pais fizessem isso.
Na ciclovia várias bicicletas desfilam pelos sete quilómetros. Alguns são mais apressados e não têm o mínimo de inteligência para perceber que ali também há crianças e idosos, estejam eles de bicicleta ou simplesmente atravessando a via.
E no calçadão, milhares de pessoas caminhando. Alguns fazem exercícios, uns apenas passeiam, outros buscam alguém para ter o coração consolado ou o desejo saciado. São estranhos indo e vindo, sem rumo ou destino, apenas caminham.
Olho para o céu e vejo que há poucas nuvens e quase não venta. Sinal de que amanhã poderemos dar uma salgada na praia. Ótimo, já estou até ficando meio amarelo.
Daqui a pouco vou me recolher para dormir, não sem antes de terminar um bom livro que ganhei de uma boa amiga. Um livro para aquecer o coração. Coração que ainda existe, coitado. Está meio petrificado e judiado. Coração quase impenetrável. Coração quase impossível. Coração quase improvável. Como é fácil machucar as pessoas.