O erotismo é a vontade de negar a morte, a afirmação da vida. Aquele querer viver de que fala Shopenhauer... Apesar das guerras, das epidemias, das destruições, as raças subsistem. Graças ao erotismo, expandem-se e perpetuam-se. O erotismo pertence ao sagrado. (Maurice Bejart)
Uma pessoa amiga, em nossas conversas cotidianas, me levou a questionar o erotismo. Fiquei atônita de início e me baguncei toda... Pois erotismo é algo tão meu... natural e espontâneo... entretanto nunca questionado sob ângulo algum. Mas não vou me furtar ao desafio e, é claro, já iniciei meu questionamento... E resolvi dar aqui o testemunho de como vejo e sinto, hoje, o Erotismo.
E por que falar dele? Porque o erotismo é inerente à vida. É um dom de todo ser vivo: animais (homens e bichos) e vegetais. Não posso discorrer sobre o erotismo nos vegetais, não tenho formação suficiente para isso. Mas sei que ele existe, a natureza o prova quando a vemos exuberante em beleza, explodindo em flores e frutos, exalando desde os aromas mais suaves até os mais fortes perfumes. É quando, extasiados, exclamamos: “A natureza ama! A natureza ama!”
Claro que o parceiro é fator importante na concretização do erotismo. Mas não é tudo. O erotismo é antes de tudo o MEU EROTISMO (ou seja: o erotismo de cada um). Tanto que faço amor comigo, como já registrei, escrevendo. Com o companheiro, principalmente se é o companheiro certo, transforma-se em explosão. Mas explode também quando do amor solitário. Basta amar o próprio corpo, e eu amo o meu, com certeza. A libido é seu maravilhoso poder criador. É o grande poder inerente à vida. Poder que exercemos independente de qualquer fator exterior como beleza, elegância, cor, idade, raça ou interior como crenças e ideologias...
O erotismo tem seus componentes, ou seus meios de manifestação. Não podemos dizer que seja apenas amor, nem só tesão, ou sensualidade, ou magia. É desejo, concentrado ou difuso. É impulso, mas pode ser controlado, e exemplo desse controle temos de sobra entre os bichos, que jamais estupram e sempre respeitam o desejo dos possíveis parceiros. E esse amálgama nos leva a pensar em mistério...
Em mim o erotismo é algo profundo, dentro de meus limites culturais e de vivência. E é profundo e sagrado porque vem de meu interior, do íntimo do íntimo. E ao mesmo tempo, sem medo ou pudor, eu o canto e o entrego ao mundo. E meu íntimo se torna público sem perder a intimidade que o anima. Sim, estou convencida de que o erotismo vem da alma e se manifesta através do corpo. E não se manifesta apenas quando provocado, mas sempre, até mesmo nas atitudes mais descontraídas, quase imperceptíveis. E não é algo que crie pânico, que precise ser escondido ou disfarçado, porque sabe ser discreto e se anuncia sem grandes alvoroços. Digamos que seja quase uma constante, porque é mais sentimento que qualquer outra coisa. E o sentimento, em quem sente, não dorme nunca, nem quando a gente dorme. Só ao amor pode ser comparado. Erotismo e amor que, em pleno gozo da minha liberdade, consegui cultivar, muitas vezes a duras penas, ao longo de minha vida, e que cultivo ainda e cultivarei enquanto a vida permitir. Por isso o chamo MEU.
Desse erotismo particular, pessoal, quase egoísta, falei aqui. Ele vivi e vivo, sem muito questionar, apenas me entregando e realizando meu ideal de mulher consciente, amante e livre. Nunca nele pensei como algo misterioso. E, hoje, a palavra amiga me instigou. E o mistério se apresenta, sutil por enquanto, não sei ainda medi-lo ou qualificá-lo. Terá o erotismo mistérios? Se tem, valerá a pena desvendá-los? Teria que ser pesquisado o erotismo? Ah, não sei. Sei que o erotismo existe para ser vivido e curtido intensamente. E respeitado sempre em todo o reino animal, seu privilegiado depositário.