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Contos-->Os últimos metros contigo (parte II) -- 04/04/2001 - 09:46 (K Schwartz) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Os últimos metros contigo (parte II)

Frédéric Audras


O treinador não distava de nós mais que alguns metros. O que vocês estão fazendo? John, sessão de massagem! John observou-o. Só um momento, nós temos que fazer algo. Eu me acocorei ao lado dele. Ele contou lentamente. Um. Meus dedos crisparam-se na pista. Dois. Eu balançava meu corpo à frente e atrás, contra a minha bacia. Três. Eu larguei. Nossas passadas estavam
coordenadas. Ao final de alguns segundos em me levantara completamente e vi seu olhar sobre mim. Nós não estávamos separados mais que um metro. Ele soria. eu acelerei mas ele não me deixou. Eu acelerei mais. Nos aproximamos da linha de chegada, eu sentia minhas pernas endurecerem. Eu queria passar a linha em primeiro, na frente dos outros atletas. E então, de um golpe, visto que estava concentrado na corrida... ele colocou sua mão nas minhas costas e me empurrou. Eu passei a linha de chegada dois metros na frente dele pois o mesmo havia parado de correr. O treinador correu até nós, gritando que éramos doidos de nos
desgastar antes da final. John recuperava seu fôlego apoiando-se sobre os joelhos. Para o vestiário, agora john! Gritava o treinador me lançando um olhar de desgosto.

Minhas mãos tremiam. Fiz força para segurar meu copo na borda do sofá.

Vocês não se falaram? Não. Eu não tive tempo. Eu os observei partirem. John não respondia o treinador. Muitos atletas haviam parado seus exercícios para ver a cena. Eles acreditavam que era uma briga.

Você o viu novamente antes da corrida?

Sim.

Ele me pediu um cigarro. Eu lhe estendi o isqueiro.

Nos vestiários da equipe. O treinador nos reuniu um quarto de hora antes da final. Como sempre, Mark e James nãpo escutavam nada. Eles amarravam lentamente seus sapatos, verificavam a fixação dos seus números. Eles usavam óculos escuros para que não pudéssemos ver para onde dirigiam o olhar. O treinador dava indicações. O vento estava favorável na pista. Os dois russos
estavam nas linhas sete e oito. O jamaicano na primeira, o italiano na sexta. James na quinta, eu estava na terceira, Mark na segunda e John na quarta. O presidente em pessoa estava nas tribunas. Vocês podem conseguir todos os lugares do pódio, repetia o treinador. Era o dia do aniversário da mulher do presidente e ela esperava, entrevistada alguns minutos antes em
cadeia nacional, que os atletas de seu país lhe dessem um enorme presente ao conseguir a vitória. Isto lhe parece ireal, não? Perguntou-me.

Sim, respondi-eu.

Eu te asseguro que é a verdade. Era preciso ganhar. E isto não é tudo. Você não vai me acreditar mas, naquele momento, o presidente da federação entrou. Ele explicou que queria que John ganhasse hoje. Ele era de longe o melhor de nós, seus tempos eram melhores que os dos outros finalistas. O presidente queria apenas se assegurar que nada aconteceria.

Você quer rir! Isto não é possivel!

Eu digo a verdade. Eu o ouço ainda. Nós tínhamos direito aos lugares de honra atrás do marco mais alto do pódio. O hino americano deveria tocar para John.

E ele nada disse?

Não. Ele estava sentado. Ele me deu uma piscadela de olho. Eu fiz cara de não vê-la. Eu não queria que Mark e James soubessem que eu tinha falado com John. Depois, um sirene soou. Era preciso dirigir-se à pista. No momento em que entramos no estádio, um clamor se elevou. Eu me lembro de milhares de olhos, rostos e bandeiras americanas que flutuavam na brisa quente. Era quase noite e os holofotes iluminavam a pista. Os espectadores gritavam mas seus gritos me chegavam ragmentados. Nós marchamos para nossas cores sem que qualquer atleta prestasse atenção no outro. A concentração era extrema. Eu só pensava na corrida. Eu levantei meu joelho bem alto contra o peito para relaxar as pernas. Eu me aproximava dos blocos de partida, raspava meu pé esquerdo e depois o direito, os dedos estalavam. A luminosidade impedia a vista das tribunas. Somente alguns
flashes cortavam a cortina de sombra. Depois foi dada a partida. O tiro alto. Eu o ouço agora.

Ele me pediu um outro cigarro.

Pronto, isto é tudo. Era o que você queria ouvir, perguntou-me.


Mas a corrida... você não me contou. Eu gostaria de saber...

Ele me olhou. Quem é você?

Isto não tem importância. Eu só quero saber o que se passou. É para o meu artigo, eu já expliquei.

O que você quer saber?

Aconteceu algo importante durante aquela corrida. Você não me disse tudo.

Ele se levantou. Acho que vou te acompanhar até a saída.

Eu me recuso a partir. Você sabia que o pai de John Cougar era membro da Ku Klux Klan? disse-eu.

Ele endureceu, iluminado pelo seu cigarro. Naquele momento eu não sabia, disse ele. É muito tarde...

Diga-me o que se passou durante a corrida, pedi-eu.

Ele desligou o gravador. Você quer realmente saber? Em todo ocaso, isto não interessa a mais ninguém hoje em dia, faz quase trinta anos.

Para mim é igual, disse-eu.

John fez uma largada fantástica. No meio da corrida ele tinha muitos metros de vantagem. E, de repente, ele se voltou para mim e Mark. James estava ombro a ombro com o italiano. Os russos e o Jamaicano estavam longe, lá trás. A vinte metros da linha de chegada, James sobressaia levemente o italiano e eu era o segundo. John estava três metros na minha frente. Ele voltou sua face, como que para procurar-me. Eu acelerei as minhas braçadas e aproximei-me dele. Mas a cinco metros da chegada. quando ele sentiu que eu estava logo atrás dele e que Mark e James nos seguiam, ele caiu bruscamente. Eu ganhei a
corrida, à frente dos meus amigos. Eu não esquecerei jamais a alegria que senti, a volta no estádio de mãos dadas e a multidão numerosa que se descortinava enfim na noite. Eu não sentia meu corpo e dava saltos imensos a cada passada. é uma... uma lembrança maravilhosa para mim.

Ele parou bruscamente. Eu sei o que você acha. Você acha que ele me deixou ganhar, que ele permitiu aos três atletas negros subirem sozinhos no pódio.

Eu estou certo que você sabe a verdade.

Por que?

É o que ele me disse. Eu sou o filho de John Cougar. Eu quero estar certo que meu pai disse me disse a verdade. Pois ele não queria carregar por mais tempo o passado da familia e suas ações infâmes.

Ele se aproximou de mim. Sua face estava dura.

Seu pai deixou-se cair. Pode ficar orgulhose dele, murmurou.

Naquele instante, eu senti minha nuca ser invadida de um imenso frescor. Fechei os olhos e vi o sorriso de meu pai e seus cabelos chicoteando ao vento na corrida. Eu escutava os comentários do narrador não compreendendo o que acontecera ao grande corredor da América, a alguns metros da linha de chegada. Meu pai se contorcia de dor na pista. Depois um grande vazio, a luz que passou através da porta do meu quarto, minha mãe que acabara de sentar-se ao meu lado. Papai foi para o céu. Seja corajoso.

Quando eu abri os olhos, me deparei com um homem negro cujos olhos se enchiam de lágrimas. Ele pegou minhas mãos entre as suas. Sua mulher havia voltado e apoiava-se nos seus ombros.

Você não está aqui para um artigo?! perguntou ele.

Não. Eu menti por que queria saber, eu queria ouvir você dizer estas palavras. Eu te agradeço.

A noite tinha caído nos jardins quando voltei para o meu carro. De repente ele me chamou. Ele me pareceu imenso na penumbra. Eu gostaria de fazer algo por você... é um pouco tarde, eu sei, mas eu quero que você guarde isto carinhosamente. Ele me deu seus sapatos de corrida, aqueles comos quais ele tornou-se campeão. Eu quis lhe dar mas eu não tive nenhuma possibilidade de vê-lo antes que morresse no hospital. Eu estava tão orgulhoso da minha vitória que apenas escutei as vozes que me dizim que ele distraiu-se durante a corrida.

Eu te confio este sapatos. Guarde-os pois doravante eles te pertencem.


Tradução: K Schwartz (Les derniers mètres avec toi)
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