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cronicas-->Keller -- 17/08/2005 - 14:17 (Paulo Maciel) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Keller


Conheço Manoel Keller da Silva há mais de trinta anos e ele tem sido um grande companheiro e amigo ao longo desses anos todos.
Em 1955, por ocasião de sua formatura em odontologia dediquei-lhe um artigo sob o título de "Honra ao Mérito", publicado no jornal interno da nossa empresa, mas eu o conhecia muito pouco, então.
Àquela altura, ele trabalhava na "Rua Chile" e eu no "Comércio. Ele já era um chefe de e seção, possuía uns sete anos de serviço, e eu era um modesto escriturário-datilógrafo, iniciando minha carreira. Eu estava muito distante dele, sob todos os aspectos, e a porção que via ou sabia dele não me agradava!
Keller era tido como um chefe exigente, "caxias", muito formal, reservado - numa empresa que valorizava demasiadamente a iniciativa, a criatividade, a participação, o informalismo...
Ele era, portanto um contraste diante de tudo isso - e durante toda a sua prodigiosa carreira no banco manteve esses atributos apesar de não se casarem com os da instituição!
E, talvez, aqui, esteja o primeiro elemento marcante dessa personalidade tão surpreendente: a independência intelectual,a autenticidade e a coerência consigo próprio. Ele sempre foi capaz de arrostar quaisquer consequências para manter suas convicções inabaláveis.
Há "casos" de Keller que o revelam de modo mais completo do que qualquer descrição ou análise psicológica será capaz de fazê-lo, e eu vou contar alguns deles neste e em outros escritos, como já o fiz recentemente, ao testemunhar sobre a venda de um seu apartamento ao José Teixeira.
Há., por exemplo, esta historinha que ilustra de modo admirável o rigor com que ele sempre administrou as despesas do banco, que só autorizava quando entendia serem indiscutivelmente pertinentes.
Quando voltei à Bahia depois de oito anos fora e assumi a área de Recursos Humanos do banco, tomei conhecimento de que possuíamos um excelente "coral" , formado por cerca de trinta funcionários e dirigido pelo maestro Lindemberg Cardoso, da Universidade Federal da Bahia.
O "coral" exibia-se em eventos internos do banco e abrilhantava muitas festas e solenidades em Salvador e no interior do Estado.
Ensaiavam três vezes por semana, no horário do almoço, possuíam roupa apropriada e eram muito apreciados pelos funcionários.
Pretendendo organizar o "coral", dar-lhe um Regimento, submetê-lo à supervisão de um Departamento da minha Diretoria, descobri que ele não pertencia ao banco. Era do Keller!
Procurei-o para saber dessa história, e porque o "coral" não integrava a nossa estrutura se todo o proveito da sua atuação era do banco!
Respondeu-me, simplesmente, que o banco não podia arcar com despesas que não se inseriam em suas atividades regulares, que ele não era um insensato para aprová-las, tanto mais que a criação do "coral" resultara de ação espontànea de sues participantes.
Descobri, então, que Keller pagava do próprio bolso o salário do maestro, os lanches fornecidos aos participantes durante os ensaios, o transporte que os levavam aos locais de exibição e o uniforme que vestiam.
Foi com muita dificuldade, e depois de muitos meses de negociação com ele que consegui transferir o "coral" para o banco.
Mas essa é apenas uma faceta do Keller que, no caso, se tornou visível porque eu me envolvi no episódio.
Pois outra característica muito sua é a de fazer as coisas "na moita", no anonimato, da forma mais discreta possível.
Lá no banco, por exemplo, há todo um esquema montado para estimular a competitividade, tanto entre pessoas, quanto entre equipes de agências e até mesmo entre Sucursais. Há prêmios de toda sorte - desde dinheiro vivo, passando por automóveis, motos, etc. - até viagens pelo país e pelo exterior.
Pois bem, na região administrada por Keller alguns concursos por ele instituídos, que visavam a objetivos mais específicos, contemplavam prêmios financeiros mantidos por sua própria conta, naturalmente sem o conhecimento dos interessados ...
Um outro atributo kelleriano muito evidente é o da disciplina, do respeito e obediência ao superior, a quem chama sempre de doutor, mesmo àqueles que não possuem qualquer título.
Mas, tudo isso sem servilismo, sem subserviência.
Apesar disso, na defesa do que entende sagrado, intocável, como por exemplo, o conceito da profissão bancária ou a honra e competência de um auxiliar, ele não tem receio a expor-se: é desassombrado, firme, temerário!
Eu o vi várias vezes, em muitas reuniões de diretoria, tomar a palavra para, iniciando com um "o senhor me perdoe" defender o companheiro injustamente acusado de alguma suposta irregularidade com a maior veemência, de modo respeitoso mas firme.
Assim é Keller: reto, intransigente, inflexível, respirando dignidade e comedimento, honrando os amigos com apoio e a solidariedade que não faltam em momento algum e chegam da forma mais discreta e modesta possível, restaurando o padrão moral "do fio de barba", um homem exigente consigo próprio, exemplo de trabalho, dedicação e perseverança - em poucas palavras, uma pessoa muito especial , um"tipo inesquecível" de muita gente !
31.10.85
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