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Cronicas-->Surrealismo -- 15/08/2005 - 10:26 (Paulo Maciel) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Surrealismo



Um certo dia, já faz algum tempo, d. Laís, minha secretária, avisou-me pelo interfone que um sr. José Teixeira queria falar comigo.
Mandei-o entrar imediatamente, mas levei um bom tempo para reconhecer por trás das longas barbas já grisalhas aquela pessoa que me falava com tanta amabilidade.
Era o Zé Teixeira, advogado de nomeada, irmão do Cid, do Cidelmo e do Ciderval, este meu colega de trabalho, todos que eu conhecera na década de cinquenta, quando frequentava aos domingos a velha casa do Barbalho do dr. Edgard Simões e de Dindinha Beta, parentes distantes mas muito queridos, pais dos amigos de infància ,
Jairinho, Ivan e Edinha.
O Zé viera pedir-me um favor pessoal, mas antes de entrar no assunto ajudou-me a recordar os distantes tempos do Barbalho, o campinho de futebol construído num terreno em ladeira onde jogávamos nossas peladas, as participações de Jairo na Hora da Criança, do professor Adroaldo Ribeiro Costa no velho casarão da rua Portugal
ocupado pela Radio Sociedade da Bahia, e tantos outros fatos de há muito esquecidos.
Afinal, disse-me a razão de sua visita: havia perdido a esposa recentemente, estava vendendo a casa que lhe trazia recordações insuportáveis e desejava comprar um apartamento de bom tamanho para morar com os filhos menores.
Queria que eu o apresentasse a Manoel Keller, meu colega de trabalho, que possuía um apartamento para vender.
Levei-o incontinenti ao gabinete do Keller, localizado no mesmo andar do meu e fiz as devidas apresentações.
Quando me preparava para sair, os dois pediram-me para ficar e, assim, pude presenciar a mais extraordinária negociação de compra de um apartamento que eu iria ter a oportunidade de ver em toda a minha vida!
Após as conversas preliminares que a boa educação impõe, o Zé Teixeira foi direto ao ponto. Disse:
- Dr. Keller, estou aqui pra comprar seu apartamento da Ladeira da Barra Avenida, aquele quase no Largo da Graça, que eu conheço por haver visitado um igual a ele, ontem. É verdade que o sr. pretende vende-lo?
Keller respondeu que sim, e Zé Teixeira continuou:
- Gostei muito do apartamento e ele é exatamente o que estou procurando: três quartos, bem acabado, boa divisão, material de primeira, e aquela varanda espetacular! Tenho a certeza de que vou ficar com ele!
Enquanto Zé Teixeira falava, Keller como que parecia discordar, pondo-se na defensiva.
- Dr. José, o apartamento realmente é bom, mas não é tanto assim como o sr. está dizendo! Achei as ferragens e o material do piso muito pobres, a pintura precisa de uma segunda demão e a varanda tem pouca profundidade, apesar de comprida. Ademais, é bom o sr. saber que aquele ponto é muito barulhento e no apartamento de terceiro andar
tem que se ficar com as portas da varanda fechadas.
- Perai, dr. Keller, de todos os apartamentos que eu corri neste último mês - e não foram poucos! - o do sr. é o melhor! Disparado!
Eu olhava aquela cena sem acreditar: o vendedor a desvalorizar sua mercadoria, enquanto o comprador teimava em elogiá-la! Ah! se as pessoas fossem sempre assim, sinceras, honestas!
Mas, a conversa dos dois continuava. O Zé Teixeira estava apressando o negócio e perguntou, direto:
- Quanto o sr. está pedindo pelo apartamento, dr. Keller?
- Bem, eu estava pensando nuns $-3 milhões, mas ...
- Pra mim esse preço esta ótimo! Eu calculei que fosse mais caro e...
Não deu pra ficar mais tempo na sala e eu fui saindo devagarzinho sem que nenhum dos dois percebesse.
Era demais!
26.10.85
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