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cronicas-->Minha entrevista com o governador -- 13/08/2005 - 21:12 (Paulo Maciel) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Eu ainda dormia naquela manhã de domingo quando Rivaldo e Waldélio, colegas de trabalho, chegaram ao meu apartamento de subsolo que ficava no meio da ladeira da "Oito de Dezembro".
Era umas nove horas e eles estavam apavorados.
Vinham pedir minha ajuda para um grave problema.
Enquanto eu tomava café, Rivaldo contou a história: disse que na noite anterior, quando se dirigia à "Festa do Bonfim", na altura do Largo de Roma, foi interceptado por uma patrulha da Polícia Militar, comandada por um jovem tenente.
Polida, mas energicamente, o policial pediu-lhe que descesse do veículo, examinou sua documentação e declarou que tinha instruções para prender o carro e recolhê-lo à garagem da Secretaria de Segurança Pública. Estavam à procura dele desde a manhã!
Informou mais que a ordem havia partido do próprio governador do Estado.
Embora assustado com a situação, Rivaldo ainda contou aom a boa vontade do tenente para levar em casa a futura sogra, a noiva e a irmã gêmea dessa, todas que se encontravam no veículo. Não obstante, foi acompanhado por uma viatura policial.
Ao fim do relato, perguntei-lhe o que fizera, que infração cometera.
- Nada, não fiz nada de que me lembre, foi sua resposta.
- Muito bem, e o que você quer de mim?
Queria, simplesmente, que eu fosse falar com o governador, saber o motivo da apreensão e liberar o carro.
Apesar de ter feito corpo mole, sobretudo em razão do temperamento forte do general Juracy Magalhães, não houve como livrar-me da embaixada.
Assim, fui lá e às onze horas estava na ante-sala do governador, graças à amizade com um de seus auxiliares, estudante de direito, como eu.
Embora dia de domingo, Juracy atendia uns poucos casos pela manhã, no Palácio da Aclamação, onde morava.
Infelizmente, os problemas daquele dia não foram tão poucos como eu desejava e quando fui introduzido em seu escritório já passava de uma da tarde.
Recebeu-me afavelmente, sentado à cabeceira de u´a mesa de reunião retangular, com lugares para umas dez pessoas.
Eu tivera tempo de preparar meu discurso e fui logo dizendo que era filho do juiz de direito Maciel dos Santos, que ele conhecia de vista e genro de um dos irmãos Politano, seus alfaiates.
Imediatamente me interrompeu para perguntar de qual dos dois, além de cliente era amigo deles e às vezes saía de barco em percarias com "seu Carmo".
Ficou feliz em atender-me. Afinal, o que é que eu queria, perguntou curioso.
- Bem, na verdade, governador, estou aqui por causa de um amigo. Aconteceu que ontem à noite ele passou por um terrível vexame. Estava em companhia da noiva e da futura sogra quando foi parado pela polícia. Pensou que estivesse sendo preso mas na verdade prenderam seu carro.
Já agora, visivelmente irritado, o general não me deixou continuar e perguntou:
- O carro é um "Hilmann", pretinho?
- É, sim, respondí.
- E o senhor é amigo daquele irresponsável?
- Perdão, governador, ele não é irresponsável! É o chefe do Cadastro do Banco Económico, um rapaz direito, sergipano.
- Ah!, como é que Miguel (Miguel Calmon, presidente do banco) tem um rapaz assim num cargo tão importante! Vou falar com ele sobre isso!
E sem me dar tempo de dizer mais nada pegou umas folhas de papel que estavam sobre a mesa e disse:
- Veja, eu vou lhe mostrar o que esse moço fez: o senhor sabe que a Vasco da Gama é uma avenida estreita, com trànsito nos dois sentidos. Pois bem, na sexta-feira eu levava o ministro do Exterior da Bélgica ao aeroporto. íamos em três carros. No da frente eu, sua excelência e o embaixador belga. No carro de tràs, nossas esposas e, no último, dois secretários de Estado e o chefe do Gabinete Militar.
Enquanto falava o governador ia desenhando um esquema onde aparecia a avenida Vasco da Gama e os três veículos.
- Olhe aqui, disse ele, quando íamos entrando nessa curva o carrinho de seu amigo começou a ultrapassar o último automóvel da comitiva, pela contramão; a essa altura nós já estávamos na curva e eu ví que vinha um ónibus em sentido contrário quando o carrinho emparelhou conosco e foi nos fechando para evitar bater de frente no ónibus. Nosso motorista teve que subir no passeio para evitar um grave acidente. Foi um ato louco, de grande imprudência!
- E o que o senhor me diz agora, fulminou ele?
Além de não me haver preparado para aquela situação, o que é que eu podia dizer ao governador? Fiquei murcho.
- Bem, como é o nome desse rapaz?
- Rivaldo.
- O senhor disse que o carro dele está preso? Por ordem de quem?
- A informação da Polícia é que foi o senhor quem mandou apreender o veículo.
- Eu? O que eu fiz foi determinar que se aplicasse a ele a penalidade mais severa do Código de Tànsito, e não que prendessem o carro! È por isso que às vezes dizem que sou arbitrário, violento.
- Muito bem, vou mandar liberar o carro de seu amigo, mas quero que o senhor lhe dê um recado: diga a ele que a vida de um ilustre visitante e a do governador do Estado estiveram em perigo por causa dele. Vou pedir ao DETRAN que acompanhe a ficha dele e se eu souber de outra infração grave cometida por ele vou chamá-lo aqui para uma conversinha...
Sai dali envergonhado, mas com o cartão do governador mandando liberar o automóvel de Rivaldo.
Depois de tudo resolvido e durante a macarronada que ele ainda me filou, enquanto ríamos de toda aquela situação, Rivaldo disse que realmente cometera a imprudência, mas sem intenção:
- O negócio é que eu estava com pressa e aquele carrão preto em minha frente ia bem devagar. Acelerei o "bronquete" e comecei a ultrapassá-lo quando constatei que havia mais dois carros à frente. Pisei no acelerador e mandei brasa, mas aí já estava na entrada de uma curva e vinha vindo de lá um bruto ónibus...
20.04.90


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