Ótica de um Velho - 13.Agosto.05 - 01:30
Sou um velho, um ancião. Por um lado isso é bom. Tenho saúde e pude ver meus filhos crescendo, se formando, compondo suas famílias.
No entanto, tive que ver muitas tristezas. Vi várias pessoas se definhando em seu caráter e honra. Efeitos inexoráveis do tempo, como este próprio é inexorável.
Vi também minha companheira indo embora, tantos anos depois. Agradeço a Deus por ela ter ido primeiro. Não suportaria vê-la sofrer as dores que sinto por sua ausência. Se em vida de tudo fiz para que ela fosse feliz, vê-la triste após minha morte seria um retrocesso. Me sentiria culpado.
Sinto pena dos filhos que no próximo domingo, Dia dos Pais, não poderão dar um abraço no pai, seja por qual motivo for. E sinto mais pena ainda daqueles que podem e não darão. Seja também por qual motivo for.
E mais pena ainda sinto daqueles que não verão seus pais porque os depositaram em um asilo, casa de repouso, ou qualquer outro nome que tentem dar para amenizar essa aberração. Cúmulo da mesquinharia, cúmulo da ingratidão. Pessoas mal formadas, pessoas deformadas.
Hoje pela manhã caminhei pela orla. Vi pais e filhos, avós e netos, gerações unidas. Vi também meninas belas, mas não consegui apertar o passo para apreciá-las mais de perto como fazia décadas atrás. Minhas pernas doeram, as costas se curvaram e fui acometido por uma crise de tosse. Se fosse em outros tempos...
Na volta para casa parei em um quiosque para jogar tranca e conversa fora. E senti saudades da minha velha, que se viva estivesse estaria me esperando para juntos comermos uma saladinha ou tomarmos uma sopinha, e depois assistirmos televisão. Ela em sua poltrona com seu tricot, eu no sofá com minhas palavras cruzadas.
P.S.: Dedicada a meu amado pai, Alcindo. Feliz Dia dos Pais, velho querido.
Wagner -
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