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cronicas-->MINHA CRÓNICA DE CADA DIA - NA AVENIDA -- 11/08/2005 - 22:45 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
MINHA CRÓNICA DE CADA DIA (2)

Na Avenida

Francisco Miguel de Moura*


Não gosto de escrever diários, nunca conseguir dar continuado a nenhum que comecei. Mas iniciada esta série de cronicas, não pretendo parar. Hoje, na Avenida, dou de cara com uma turma de colegiais, bem mocinhas (eu diria crianças). Eram três ou quatro, vivazes, alegres, sadias e belas na sua idade. Uma primeira me abordou para pedir um real, alegando não sei o quê. Talvez fosse para o ónibus, não queria ir de pé para casa, o do transporte tinha-se ido na merenda: estava com fome. E não me pareceu, de forma alguma, que estivessem passando necessidade. A juventude faz dessas traquinagens.
- Não tenho dinheiro - respondi à segunda, que já havia tomado a minha frente, pois a primeira já desgarrara de quando tentei pegar-lhe a mão, costume meu de quando falo com as pessoas.
- Mas o senhor, branco, corado, forte, bem vestido...
- Sou escritor, só tenho livro - ia com um, de poemas, na mão.
Antes que ela me respondesse qualquer coisa, perguntei-lhe se gostava de ler e ela respondeu que sim:
- Gosto muito de poesia.
- Pois então leve este pra você, é seu.
Não é necessário dizer que a menina respondeu com a mesma alegria e logo se foram despedindo jovialmente de mim e seguiram seu caminho.
Não olhei para trás, pois sei como essa gente é decidida, sincera e confiante nas pessoas e na vida. Talvez por essa razão acontecem muitas coisas com as pobres menores. O excesso de bondade, de inocência. Segui também meus passos para frente e fui pensando: "E se ela quer o livro para vendê-lo bem aí na frente, por dez, cinco ou mesmo um real?"
Pouco importa o que pode acontecer, o melhor que prevejo é a sua leitura, sei que se tem forme também de comunicação, e aquele foi um momento, se bem que curto, rico para nós.
Minha manhã passou rápida. O caminho que fiz não cansou. O mundo me pareceu diferente com aquele inesperado encontro. O mundo é diferente mesmo. É preciso que o vejamos com olhos de bons observadores. O cronista põe o binóculo e vê distante. O céu azul. O sol quente mas saudável, brilhando. Ia com minha careca descoberta, mesmo assim não me senti fatigado. Não tive medo de insolação. Fui pela sombra e cheguei ao meu destino.
Aconteceu na primeira avenida. Comecei a pensar melhor e a sentir-me bem entre estranhos, o que não sabia fazer há muito tempo. Sou um bicho doméstico, só me sinto seguro em casa. Não! Agora vou sair tantas vezes quantas puder, colher a riqueza das ruas, o colorido das roupas e dos olhos das mulheres, seus passos menos violentos que os dos homens. Eles costumam nos atropelar. Somos nós que as atropelamos. Que diferença não existe entre os sexos! Entre todas as pessoas, enfim. E acontecimentos são pessoas em movimento, vivendo e sofrendo, amando e odiando. Não me interessam muito as coisas, prefiro as ações. Neste ponto, o antecedente da compra, o namoro, o olhar cobiçoso, comprido de quem não pode adquiri-las. Mas não esquecer a ternura de uma criança diante de um brinquedo: apalpa-o, mima-o, experimenta no maior gozo.
O dia dos pais se aproxima e eu estou virando menino. As meninas me fizeram isto. Se vier a ganhar um brinquedo ficarei tão satisfeito quando a moça que ganhou meu livro. Não que eu morra de amores por mercadoria, objeto. Porém elas têm um mistério: foram feitas por mãos humanas, quando foram; ou então, quem as projetou, foi um cérebro pensante no conforto e na alegria daqueles a quem se destinam.

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* Francisco Miguel de Moura, poeta, cronista, romancista, escreve contos também. Endereço(e-mail): franciscomigueldemoura@superig.com.br
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