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cronicas-->O duelo das mãos -- 14/11/2000 - 23:07 (Mauro de Oliveira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


O DUELO DAS MÃ…OS


O doutor nÃ¥o usa anel? NÃ¥o amigo. Essa história é muito antiga e muito longa. É um problema político-social. Conflito interno. Desde criança que meu lado direito briga com o esquerdo.
Tudo começou na escola primária. Minha professora tinha discriminação contra os canhotos. Sabe? Naquele tempo a guerra contra a esquerda era grande. Logo que entrei na escola, foi negado o direito de a mÃ¥o esquerda queria ser alfabetizada.
Ai começou a refrega. A esquerda abandonada, recalcada, foi se encarregando dos trabalhos manuais, pesados, mas nada de estudo. A direita foi alfabetizada, passou o ginásio, clássico, até a faculdade. O lado do coração foi ficando comunista, também o pobre nÃ¥o sabia o que era tempo bom. NÃ¥o tinha direito de apertar a mÃ¥o de ninguém, que a educação nÃ¥o permitia. Logo na infància, tomou o caminho da mecànica e das molecagens. As primeiras vidraças, foram quebradas com pedras arremessadas pela esquerda. Cheia de revolta, de quando em vez quebrava o nariz do próximo. Acostumada com o trabalho pesado, tomou mais força, tamanho e vivia cheia de ódio.
Quando chegou a juventude, convenceu-se da necessidade de aprender a escrever. Devido à dificuldade, tornou-se autodidata. Letrinha ruim mas dava para o gasto. Possuindo a sensibilidade de quem nÃ¥o gasta o tutano, aprendeu a regular carburador, fazer instalações elétricas, hidráulicas, etc. Ficou dona do rústico e do complexo de nÃ¥o poder fazer o que a direita fazia.
Aos 18 anos, idade de dirigir, sentiu pela primeira vez o seu valor. A direita teve que se conformar em pegar na direção, somente, quando a esquerda tinha que sinalizar, ficando em segundo plano com o encargo de mudar as marchas. Coube sempre à esquerda o trabalho. Os elogios, os parabéns à mÃ¥o direita. O conflito aumentou, tomou vulto. Chegou à faculdade. A direita quis fazer Direito. A esquerda Engenharia. Noites de insónia, brigas intimas, um mundo de indecisão. Finalmente a direita ganhou. Com a compra do primeiro relógio, a esquerda conquistou outro trunfo. A direita reivindicou, mas perdeu. - Máquina é comigo! - bradou a esquerda. Ficou com o relógio. Apesar da concorrência e das injustiças, a esquerda sempre ajudou a direita.
Certa feita, tive um acidente e quebrei a mÃ¥o direita. A esquerda assumiu o lugar, escreveu, assinou, pintou o sete! Até se fez representar nos compromissos sociais. Daí eu ser mais caído pela esquerda. Embora estúpida, tem a sensibilidade do coração. É explosiva, temperamental, só nÃ¥o admite ser explorada. Ela é a mÃ¥o pobre. Sofredora. Gosta da liberdade e nÃ¥o tem papo furado. Apesar da pouca instrução tem a experiência do trabalho. Fica doente quando encontra alguém mais forte. Quando lhes faltam as forças, apela para as armas. Lembro-me com que facilidade aprendeu a atirar, jogar tênis de mesa e lutar boxe. Quebrou muito nariz e dentes de amigos orgulhosos.
Sempre foi em defesa do todo, enquanto a direita ficava no ora veja, deixa disso, telefones, etc.
Quando chegou a formatura, a direita pediu que a esquerda levasse o anel.
- NÃ¥o! Gritou novamente a esquerda. - Você vive de letras, códigos! Faz cursinhos de Direito e na hora da responsabilidade quem leva o peso sou eu! Você sempre ganhou, teve todos os direitos, divertiu-se. Agora quer que eu assuma a responsabilidade de um curso que nÃ¥o sei como você fez? nunca!. Para mostrar que nÃ¥o sou ruim levarei o anel apenas no dia da formatura. Depois nunca mais! ou você usa, ou deixa em casa, e farei uma caixinha para guardá-lo e, no futuro poderá mostra-lo aos seus filhos.
- É isso amigo. Com tantos problemas, nÃ¥o interferi mais. Por isso nÃ¥o uso o anel. Uso a aliança de casamento, porque foi a única coisa que os dois lados concordaram.

Mauro de Oliveira.
08/12/74

Nota: Escrito quando era Gerente da Agencia Palma. A primeira frase é autentica.


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