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Contos-->HELENE - Uma iniciação ao mistérios da vida -- 22/09/2008 - 22:24 (JOSÉ DAS NEVES NETTO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Era verão, início dos anos 60. Chovera durante a noite anterior. Uma chuva rápida. Dessas que deixam limpos o ar e os céus e fazem com que as manhãs seguintes sejam luminosas, coloridas, cheias de vida. Vida no voejar alegre dos pássaros! Vida no brilho multicor das folhagens! Vida no canto incessante e orquestrado das cigarras clamando por companhia...
Foi assim, num dia em que a Natureza entoava um hino à vida, que eu a vi pela vez primeira.
Estávamos, eu e meu pai, trabalhando na manutenção anual das edificações existentes no imóvel do Sr. M, nosso cliente e amigo. Na verdade eram dois imóveis, duas chácaras separadas por um muro alto, recoberto de hera. Na primeira delas, no ponto mais alto do terreno, ele fizera construir para seu próprio uso, em tempos passados, uma residência tipicamente alemã.
Ao contrário de nossos patrícios, cujas moradias expressavam sempre um caráter de pressa e provisoriedade, os imigrantes alemães, que para cá vieram antes da guerra, faziam edificar residências que os servisse para o resto de suas vidas. Algo assim como se eles, e não nós, vivêssemos em sua terra prometida. Tirando proveito da madeira abundante e mão de obra barata, mandavam construir amplas residências, de várias peças e ambiências, em pelo menos três planos ou pisos: o porão - para armazenamento de lenha, instrumentos e víveres; o plano térreo, cercado por enormes varandas, onde, em qualquer época do ano ou hora do dia sempre se obteria sol ou sombra; e o sótão, para dormitórios arejados ou bibliotecas isoladas dos ruídos domésticos.
Ao redor de suas moradias, tirando também proveito da exuberância tropical, eles formavam imensos jardins, com árvores imponentes, preservadas do desmatamento inicial, e centenas de outros espécimes naturais, transplantados ou simplesmente cultivados, acrescentando um traço paradisíaco ao seu conforto pessoal.
Conquanto nesta faixa do trópico de capricórnio as variações climáticas sejam tão acentuadas e imprevisíveis, mais parecendo variações climatéricas, jamais ocorreu de aqui nevar. Os telhados pontiagudos dessas residências não tinham, pois o objetivo de evitar acúmulo de gelo sobre as telhas. Eram apenas, em sua parte externa, a expressão da nostalgia que os alemães sentiam de sua terra de origem. Internamente eles propiciavam a utilização de mais um plano ou piso.
Na outra chácara, havia duas edificações. Uma residência em tamanho menor, que no passado fora destinada à moradia do professor de alemão e agora servia à hospedagem dos convidados que ele recebia da Alemanha. E que também lá lhe davam hospedagem em suas freqüentes viagens. A outra edificação fora construída para servir de escola para os filhos de imigrantes que, nos tempos de pós-guerra, evitando manifestações hostis, estudavam em escolas separadas e eram alfabetizados em sua própria língua. O admirável zelo do Sr. M fazia com que tanto as residências como a escola fossem conservadas na mais perfeita ordem e limpeza, assim como se também os alunos pudessem a qualquer momento voltar novamente às aulas.
Meu pai fora à cidade comprar material de manutenção. Para evitar que as intempéries e os insetos danificassem e deteriorassem seus bens, os alemães tinham também o capricho de anualmente revisá-los e recobrir sua superfície com materiais simples e baratos como óleo queimado, a que misturávamos óxido de ferro para obter uma cor vermelha, distintiva de guarnições e adornos.
Aprendiz e auxiliar, fiquei sem ter o que fazer. Decidi dar uma volta pela primeira das chácaras, observar suas árvores antigas, seu gramado limpo e bem cuidado, as orquídeas que nosso amigo cultivava presa ao tronco das árvores e das quais ele me ensinava: "entre as espécies vegetais, as orquídeas são as que mais elevado nível de consciência alcançam; observe como elas combinam entre si cores e formas, que inteligentes artifícios elas usam para realizar essa troca de característicos genéticos; note como elas são quase humanas nesse propósito". Estava delicioso o sol daquela manhã. Caminhava assim sem pressa ou razão para chegar a lugar algum, pés no chão e cabeça nas nuvens. Adolescente e sonhador, minhas vaidades eram o vigor de minha juventude, as notas que tirava no ginásio noturno e a convocação para servir o exército. A troca de voz na puberdade me fizera desistir de ser Frank Sinatra, o cantor. Mas agora seria mais que o soldado Sinatra de "A um passo da eternidade". Agora seria general!
O vôo nupcial de um casal de passarinhos atraiu minha atenção para o alto de uma palmeira à beira do muro que, no passado, evitava que escolares mal comportados invadissem o pequeno paraíso de nosso amigo e agora oferecia a seus hóspedes distância e privacidade. Observei que eles haviam construído seu ninho entre os pendões de um cacho carregado de dourados e saborosos frutos a que chamamos coquinho. Meu corpo ainda em fase de desenvolvimento exigia muita energia. E havia naqueles frutos saborosa energia.
Filho de nordestina, instintivamente tirei meus sapatos e, prendendo o tronco da árvore com os joelhos e a sola dos pés, os braços firmemente agarrados mais acima, fui lentamente progredindo para o alto. À medida que subia, descortinava-se ante meus olhos a beleza da chácara vizinha, cuidadosamente ajardinada e adornada com motivos infantis. Ia assim em inocente sonhar quando tudo começou.
Deitada sobre uma toalha branca, com um lenço diáfano e vermelho a lhe proteger o rosto e os olhos, uma mulher tomava banho de sol inteiramente nua. Assustado e deslumbrado com a visão, contemplei aquele maravilhoso corpo nu de Eva em pleno paraíso. Vi nela a mulher, a amante e companheira ideal de todos os homens. Vi talvez exatamente como o Criador também o tenha visto em sua Eva idealmente concebida.
Deliciei-me com a visão demorada de pernas e coxas, quadris e púbis perfeito, cintura e seios - pequenos para uma mulher daquele tamanho. Seu atraente e deslumbrante monte de Vênus prendeu minha atenção. Minhas pernas começaram a tremer. Justo eu, que de corpo de mulher nua o que mais próximo tivera fora o de Brigite Bardot em "E Deus criou a mulher..." Mas aquela mulher era muito mais bela que a Bardot e estava ali, em carne (que carne!) e osso a poucos metros dos meus olhos. O tremor aumentou e acabei escorregando até o chão. Fiquei um tempo imóvel, temendo que ela, ouvindo o ruído de minha queda, tivesse pressentido minha profana presença naquele lugar. Depois tomei um fôlego e tentei subir novamente. Não consegui!
Lá em cima os cachorros começaram a latir. Percebi que meu pai havia voltado. Disfarçando minha emoção e tremores, fui subindo de volta para a casa em que trabalhávamos.
Choveu a manhã inteira do dia seguinte. Choveu também no outro dia. Choveu o resto da semana inteira, como se os céus estivessem conspirando com o melhor de todos os sonhos de minha vida: voltar a ver aquela mulher. E nem precisaria que estivesse nua. Já por ela perdidamente apaixonado, a mim me bastava vê-la de perto.
Aos sábados não trabalhávamos. No domingo à tarde, voltamos ao serviço, a fim de combinarmos com o nosso amigo o que faríamos na semana seguinte. Ele tinha visita: era ela!
Enquanto os dois senhores conversavam seriamente sobre detalhes, ela me perseguia com seu olhar até que eu não soubesse nem mais o que fazer com minhas próprias mãos. Entressorria deliciada com minha insuperável timidez. Quando a atenção deles retornava para sua admirável figura, fingia alheamento à minha presença, num torturante jogo de gata e rato. Acabei sendo salvo pela presença de meu pai. Ele era sempre todo atenção e amabilidade quando tratava com mulheres, apenas mulheres, pouco lhe importava se belas ou não.
A conversa retornou ao trabalho que realizávamos. Combinaram de fazer alguma coisa na casa em que ela se hospedava. Fiquei entre a vida e a morte, o céu e o inferno. Sem saber se o que mais queria era realmente vê-la de perto ou sonhar acordado na sua ausência. Talvez o que eu preferisse mesmo era observá-la e possuí-la, protegido pela distância e por aquele muro.
Quanto mais demorava a chegar o momento de irmos trabalhar na casa que ela ocupava, mais aumentavam meu temor e ansiedade. Passei dias inteiros nesse delicioso sofrer, até que um dia, sem prévio aviso, o Sr. M nos conduziu até a outra residência. Levamos nossas ferramentas. Várias vezes derrubei pelo caminho as que me coube carregar. Ao chegarmos, uma doce-amarga surpresa: ela não estava lá. Havia ido passar uns tempos com uma amiga fazendeira, explicou-nos o Sr. M. Poderíamos (que compensação!) fazer quanto ruído e sujeira fosse preciso para a realização dos serviços combinados.
Agora tudo me ficou pior. Antes passava agradáveis momentos sonhando acordado com a possibilidade de dar uma escapada, ir até à palmeira apanhar alguns frutos e, num golpe de sorte (quem sabe?), contemplar novamente aquela esplendorosa nudez. Agora minha amada palmeira ficava do lado contrário do muro. Por mais que prestasse atenção nas conversas, jamais consegui ouvir qualquer menção ou notícia acerca da minha idolatrada e cada vez mais etérea e longínqua figura.
Naqueles tempos não havia as ruas de que hoje dispomos. Ao voltar do trabalho todas as tardes, perdia tempo com banho e jantar (meu apetite juvenil devorando enormes porções de comida). Para ganhar tempo e não perder a primeira aula, cortava caminho por uma trilha que passava rente ao muro ao fundo das chácaras. Ia eu uma tarde-noite assim apressado e distraído como todo bom adolescente, quando ouvi alguém me chamar. Voltei-me inocente para a direção do chamado e, no instante seguinte, virei estátua, definitivamente preso pelo encanto dela. Talvez sofresse agora um castigo por ter me divertido tanto quando um de meus colegas, em plena prova, levantou-se para ir até a professora pedir explicações. A professora às vezes brincava de sugestionar, prendendo a mão dos mais suscetíveis de nossa classe. Esperta, ela percebeu a "cola" que ele usava sob a folha de prova e esquecera-se de esconder antes de levantar. A meio caminho, ela o encarou. Ele hesitou entre prosseguir e voltar. Parou e ficou "preso". Calmamente a professora foi até sua carteira, apanhou a "cola", rasgou-a e a jogou no lixo. Depois, enquanto observávamos deliciados toda a cena, ela foi até ele, estalou os dedos e o libertou.
Meio oculta entre os arbustos, apenas cabeça e braços sobre o muro, minha deusa também estalou os dedos e me libertou. Depois acenou indicando que me aproximasse. As fortes cordas que me atavam ao mastro do meu virginal temor se romperam e me aproximei. Ela estendeu as mãos, apanhou meu material escolar e afastou-se rapidamente para dentro da chácara. E nisso queimou meus navios. Agora era saltar o muro e acompanhá-la ou saltar o muro e acompanhá-la. Não havia outra opção. Já não eram mais só desejo e medo Eram meus cadernos e livros também. Jamais poderia ir-me embora sem resgatá-los.
Conhecedora daqueles caminhos, ela seguiu à frente. Ao perceber meus passos hesitantes, tomou-me a mão. Foi pior. O contato com sua pele disparou em mim uma enorme, quase incontrolável, carga de temor e desejo. Coração aos pulos, respirava ofegante. Precisava me controlar, mas não sabia como. Eu a tinha presa em minha mão: que céu! E ela me conduzia para não sabia onde, nem para que exatamente – que inferno!
Ela se deteve ao meu lado, percebendo inteligentemente o meu drama. Assumiu sua porção compreensiva e maternal e mansamente começou a me dizer palavras que eu jamais ouvira de minha própria mãe, jamais ouviria de qualquer outra mulher em toda a minha vida.
- Sabe, ela começou - para ser um amante de sucesso, para conseguir a alegria de ter deixado sua companheira plenamente satisfeita, é preciso várias coisas. A primeira delas é jogar fora todas suas inúteis vaidades masculinas - elas se formaram de idéias que os homens desenvolvem a partir de sua própria natureza. Mas nós mulheres somos diferentes. Vocês homens são essencialmente energia, nós damos forma a essa energia.

Energia se dissipa, se transforma, enquanto a forma é lentamente moldada. Por isso somos mais devagar por natureza e não dissipamos nossa energia. Por maior que seja a capacidade do homem de repetir, ele jamais se igualará à capacidade da mulher. E mesmo que você seja capaz de repetir uma centena de vezes, mas se em todas elas for mais rápido que sua companheira, jamais conseguirá ver no rosto dela aquela beleza que só a plena satisfação consegue aflorar. Entende?
Chegávamos agora ao seu porto seguro: o local onde ela tomava seus banhos de sol. Havia ali uma enorme toalha estendida sobre o chão e uma dessas cestas de piquenique... Ela se deitou e indicou-me o lado vazio, sugerindo generosamente que me deitasse ao seu lado. Tomou-me em seus braços, abrigou meu rosto em seu peito e esperou um longo tempo, até que meu coração voltasse a algo perto do seu normal funcionamento.
Depois me falou com sua voz, a quem um tom levemente rouco acrescentava delicioso timbre sensual:
- Ainda está com medo?
- Um pouco, respondi, economizando o advérbio.
- Quer ir embora?
- Não. Não quero - respondi firmemente.
- Tudo bem, ela continuou. - Só fique se quiser, só faça se gostar. Combinado?
- Combinado!
Depois ela me fez olhar em seus olhos e meigamente, perguntou:
- Posso lhe fazer uma pergunta? Se preferir, não precisa responder!
- Pode, claro que pode! - respondi. Depois continuei a falar. Não que tivesse perdido todo o medo. Talvez porque, falando, ele me parecia menor, e ela, menos ameaçadora. Assim como quem, ao ter que passar por um trecho mal-assombrado, o faz assobiando. Ou pelo menos fazia naqueles tempos de vielas escuras e ruas mal iluminadas. E assim, sem lhe dar oportunidade de fazer a pergunta, continuei a falar um punhado de besteiras, que na ocasião me pareceram muito inteligentes e sábias. Disse a ela que aprendi a ser verdadeiro. Mesmo que medroso e culpado, mas sempre verdadeiro!
- Não precisa ser assim exagerado, ela me interrompeu. Muita verdade pode também ferir as pessoas. Você mesmo ou outras pessoas. Não quero que seja verdadeiro a meu respeito, certo?
- Certo. Eu sei bem a diferença - me corrigi. Jamais diria algo que pudesse ferir outras pessoas. Aí seria verdadeiro não traindo a confiança delas em mim.
- Ótimo! - ela concordou. Mas o que eu queria mesmo era lhe perguntar outra coisa. Ainda posso?
- Claro que pode.
- É a sua primeira vez? Não é?
Minha resposta demorou tanto a sair, que ela me poupou o sofrimento:
- Não precisa responder. Desculpa... Não queria lhe magoar!

- Espero que seja- finalmente respondi
- Vai ser e você vai gostar. Pode ter certeza!
Depois, apertando o abraço que nos unia, ela falou mais para si mesma do que para mim: Ó! meu anjo! Nunca permita que o meu amor lhe cause qualquer sofrimento!
Ficou um tempo calada. Depois começou a acariciar meu rosto. Nunca antes em toda minha vida me sentira assim tão infantil e desprotegido. Como se não estivéssemos sozinhos na noite, deitados sobre a terra, ela assumiu um ar sério e prosseguiu em seus cuidados em me preparar para a arte do amor a dois.
- É bom que seja bem feito, mas não tenha medo de errar em sua primeira tentativa. O medo de errar também acaba levando ao erro. Não se preocupe com isto. A noite é longa e você menino. Nós começaremos tudo de novo.
- Agora vamos às lições práticas - ela me disse ainda em tom maternal. Talvez um tom assumido com o propósito de quebrar meu ímpeto quase incontrolável.
Ela usava uma longa saia branca, trespassada. Desabotoou-a em algum ponto e abriu-a na frente, permanecendo deitada sobre o resto. Depois suspendeu os quadris, apoiando pés e ombros no chão. No instante seguinte, sem que eu atinasse como, sua minúscula calcinha descia enrolada pernas abaixo. Antes que eu pudesse esboçar qualquer reação, ela tomou minha mão na sua e começou a me dizer coisas que eu jamais imaginara pudesse algum dia ouvir.
- Sabe, meu querido, nós mulheres também possuímos outras diferenças. Vocês gostam de ver, nós gostamos de tocar e ser tocadas. Principalmente ser tocadas.
- Sinta como somos macias! - ela me disse, enquanto conduzia lentamente minha mão espalmada para o meio de suas coxas. Manteve-a ali, pressionando-a contra seu corpo com a sua própria mão colocada sobre a minha. Depois continuou perguntando:
- O que sente?
Pensando bastante antes de responder, fui lhe dizendo:
- Sinto como se algo se partisse dentro de mim. Passei metade da minha vida sonhando e pensando nisto e agora percebo que é diferente de tudo quanto pude sonhar e imaginar. É macio e firme, sedoso e áspero, é montanha e vale, é elétrico, faz me sentir faíscas correndo pelo meu braço afora.
- Você não pode ver com sua mão. Com sua mão você pode apenas sentir com eu sou. Eu sou como uma flor. Você gosta de flores, não gosta?
- Claro que gosto!
- E gosta também de frutos maduros e ninho de pássaros, não é mesmo? - ela acrescentou com um sorriso maroto nos lábios.
Sem esperar pela minha resposta, ela continuou:
- Pois eu sou como uma flor e tenho também pétalas e botão. Só que o meu botão não fica no centro das minhas pétalas como nas outras flores. Fica um pouco mais acima. Se você me tocar bem de leve com seus dedos, poderá percebê-lo como um pequeno grão. Aqui... Assim, bem de leve... Percebeu?
- Percebi!
- Pois bem, aí é que eu realmente gosto, toda mulher gosta de ser tocada. Mas você não conseguirá tocá-lo se se mantiver rígido e reto como uma estaca. Compreende?
- Acho que sim.
- Mas você tem medo de não conseguir se manter rígido e reto como uma estaca, não é verdade?
- Verdade... Foi assim que me ensinaram que deveria ser.
- Você aprendeu de outros homens como você. Mas isto não é verdadeiro. É uma noção falsa. Também não precisa ser feito rapidamente. Não aqui, onde dispomos de todo o tempo. Importa que seja bem feito, certo?
- Certo.
- Pois é como faremos. Enquanto falava seriamente, ela ia aos poucos tirando minha roupa, como se fizesse algo muito natural, sem me dar nenhuma oportunidade de resistir. Quando me viu nu, comentou:
- Como você é grande!
- Grande?
- Sim. Bem grande!
Ao perceber minha surpresa, ela comentou:
- Aposto que ficou muito tempo também preocupado em ser pequeno, não foi?
- Foi.
- Está percebendo como te ensinaram tantas coisas erradas? E isso de ser grande ou pequeno nem tem tanta importância assim.
Agora, ela falou:
- vamos brincar de uma brincadeira muito séria. Você algum dia brincou com um caramujo?
- Sim, já brinquei.
- E como é que ele se comportava?
- Eu dava um leve toque em seu caracol e ele lentamente se escondia todo dentro dele, diminuindo seu próprio tamanho. Eu ficava parado, observando, e ele de novo, lentamente, crescia para fora.
- Pois esta vai ser a nossa brincadeira.
Colocou suas duas mãos em concha em volta de mim. Depois ficou brincando como se fosse uma menina: - Vamos, vamos caramujo, volte para dentro de sua casinha. Nada acontecia. Ela insistiu:
- Vamos! Não precisa ter vergonha de que eu o veja pequenino. Eu gosto dele também assim. Você vai ver. Vamos! Feche os olhos! Pense noutras coisas, noutros lugares...
Olhos fechados, morto de vergonha, eu me senti minguando diante dela. Sem coragem de abrir os olhos, não percebi quando ela mudou de posição. Apenas senti com enorme surpresa seus lábios colados em meu corpo, sua língua fazendo em mim giros completos, provocando inefáveis sensações. Mal começava a reagir às sensações que ela provocava e suas unhas cravavam em minha pele, obrigando-me a me manter no tamanho exato de sua boca. Esperou que eu aprendesse bem a lição de autocontrole antes de passar ao movimento seguinte. Trocando novamente de posição, joelhos dobrados, sentada sobre minhas pernas, tomou-me em suas mãos, acariciou-me e depois se fez lentamente penetrar.
Eram sensações muito melhores do que o melhor que eu jamais imaginara. Ela me prendia com seus músculos internos e num suave balançar de quadris me possuía com suas pétalas macias, seu botão intumescido e sensível.
Quando me sentia perdendo a sua apreciada flexibilidade, ela interrompia os movimentos e usava suas poderosas unhas até que eu retornasse ao estado ideal de sua preferência. Mais que trancar os olhos para não vê-la, eu tinha agora de não ouvir seus gemidos, que se acentuavam num crescendo quando ela acelerava os movimentos ondulantes de seus quadris e cravava suas unhas impiedosas em meus braços.
Depois de me dizer frases do mais puro encanto, coisas que eu jamais imaginara ouvir, ela se deixava cair exausta e inteira sobre mim. Me beijava, descansava um pouco. Inspirava o vivificante ar da noite e depois recomeçava tudo novamente, como se sua vontade aumentasse em vez de diminuir. Terminava dizendo coisas sem nexo, sorrindo, perdendo uma lágrima...
Fazia uma pausa mais longa, refrescava o corpo no sopro de ar da suave brisa da noite, a quem o sereno acrescentava um leve perfume de terra molhada. Tomava um pouco da água que trouxera em sua cesta de lanches e voltava a se inflamar no fogo de seu desejo.
Quando em fim saciada, ela mudou o seu modo de amar. Acariciou meu rosto, me beijou demorada e apaixonadamente, falou coisas estranhas, assim como se, em vez de homem, eu fosse apenas um bebê. Desfez-se de todas as roupas, mostrou-se enfim inteiramente nua para mim. Deitou-se de costas e me falou:
- Vem meu amado, agora chegou sua vez.
Demorei-me um pouco na contemplação daquele majestoso corpo de mulher. Vi um brilhante em cada raio de luar repartido e multiplicado nas gotículas de transpiração e sereno depositadas sobre sua pele. Guardei para sempre em minha memória sua cor de prata banhada pela prateada luz da lua, agora já bem alta no meio do céu. E fui novamente para dentro daquele paraíso.
Agora tudo ficava por minha conta e eu já sabia como prolongar ao máximo o momento do grande final. Mas quis trazê-la comigo uma última vez. Bom aluno de soberba mestra, arrastei minha sensibilidade por longínquos campos, montanhas, pradarias, rios e lagos. Voltei àquele verde relvado quando seus doces gemidos voltaram. Voltaram agora incontidos, como o de uma fera enfurecida.
Observei seu rosto bonito, de linhas harmoniosas e traços perfeitos. E depois terminei minha iniciação naqueles doces mistérios quando vi pela vez primeira a beleza que subjaz a traços e formas, emerge da máxima felicidade interior e fugazmente se expressa acima e além, muito além, de todo encanto que possa existir num lindo rosto de mulher!
Percebendo-me exausto, ela fez com que eu me acomodasse, repousando minha cabeça sobre seu peito. Suas unhas agora serenas e tranqüilas percorriam com suaves toques as raízes de meus cabelos. Voltei a ser menino e em seu maternal abrigo adormeci.
Quando acordei, me percebi envolto e agasalhado na toalha. Ela se fora. Apanhei meu material e corri para casa. Acordei tarde no dia seguinte. Perdida a hora, nem quis ouvir minha mãe explicando que não conseguira me acordar. Corri para o trabalho. Á entrada da chácara, fui alcançado pelo Sr. M que retornava da cidade. Apanhei carona no estribo de seu jeep.
Ao chegarmos, estranhei que fosse dele a iniciativa de cumprimentar meu pai. Logo depois meu mundo caiu. Sr. M explicava a meu pai que saíra muito cedo para levar sua hóspede ao aeroporto. Ela voltara para a Alemanha.
Muitos anos se passaram desde aquela noite em que ela me fez homem. Fiquei adulto. Amadureci. Batalhei causas nobres em guerras definitivamente perdidas. Acertei e errei. Cometi pecados fúteis e sofri arrependimentos devastadores. Aprendi que a vida e o amor contrariam as leis do materialismo dialético científico. Aqui muita quantidade, em vez de gerar nova qualidade, arruína e aniquila a qualidade que já se conseguiu alcançar.
Perdi meu pai. Herdei a amizade que o Sr. M lhe dedicava. Cultivei essa amizade. Primeiro pela sofrida necessidade de manter um elo com a possibilidade de algum dia voltar a rever aquela mulher inesquecível. Depois pela sabedoria e serenidade do Sr. M, sempre portador da alegria, do conforto da palavra sincera e amiga nos momentos difíceis.
Aprendi que ele jamais amaldiçoava e era sempre dele o agradecimento final, mesmo quando não era ele o recebedor e sim o ofertante. Percebi também que ele jamais pronunciava o sagrado Nome. Assim como jamais pronunciara o nome daquela mulher. Talvez fosse para ele também um nome sagrado!
Nos últimos tempos, por modismo e recomendação médica, desenvolvêramos o hábito de realizar juntos uma caminhada matinal. Seguíamos sempre o mesmo trajeto. Todo dia de estio, ele me esperava à mesma hora e no mesmo local. De há muito eu aprendera a ser pontual como ele e nunca o fiz esperar por mim. Na volta, passávamos pelo cemitério. Ali, sempre repetindo que tinha que dar um até breve para alguns amigos, ele se despedia de mim, dispensando de modo implícito e definitivo minha companhia.
Como se o tempo não tivesse passado para nós dois e como se ele tivesse, após a morte de meu pai, ficado encarregado da minha educação e formação, ele aproveitava nossas caminhadas para me passar lições que julgava importantes para mim. Falava sempre a seu modo, elegante e cuidadoso. Às vezes, o seu extremo cuidado em nunca cometer o que entendia ser o mais grave dos pecados, a maledicência, tornava ambíguas as coisas que me dizia.
Dava sempre um tempo. Aliás, ele repetia que a melhor hora de se falar não é o momento da maior vontade de falar. Assim, quando em nosso caminhar éramos ultrapassados por moças bonitas em shorts minúsculos, ele primeiro deixava que elas se afastassem para depois repetir sempre a mesma frase, embora o tom variasse conforme seu estado interior. Ele me dizia: “O pior do envelhecer é que a vontade permanece bem junto de nós, enquanto as possibilidades se afastam cada vez mais rapidamente”. Noutras oportunidades, seu falar era de modo tal que eu ficava sem entender se ele me aconselhava ou apenas se lamentava: “Há dois momentos críticos na vida de todo homem: o primeiro é quando o vigor e a beleza de sua juventude atraem e encantam mulheres mais adultas; o outro é quando, homem adulto, se apaixona pela beleza e juventude de uma mulher muito mais nova”.
Mesmo quando se referia a fraquezas comuns à pessoa humana, ele tinha o cuidado de não permitir inferências imediatas, assumindo um tom entre irônico e jocoso: “A verdade maltrata, machuca, faz doer. Por isto, finja. Finja sempre. Finja que não percebeu, que não doeu, que não ouviu. Quanto ao fingimento alheio, não se preocupe: eles sabem que estão fingindo; você, finja que não está sabendo!”
Quando deixava escapar confidências, ele tinha o cuidado de nunca mais as repetir: “Sempre gostei de mulheres mais adultas. Um dia me percebi perdidamente apaixonado por uma mulher muitos anos mais jovem que eu. Foi quando pela primeira vez me dei conta de que eu havia envelhecido...
Estávamos em outubro. Uma bela manhã de outubro. Fazia uma temperatura agradável. Caminhávamos em seu ritmo lento e seguro. Apesar da idade, ele era ainda muito vigoroso. Seria capaz de continuar caminhando o resto do dia se fosse preciso. Mas hoje era também dia de desfile e ele certamente passaria o resto do dia era mesmo tomando inumeráveis canecos de chope. Destaque do desfile, hoje ele estava diferente: trocara o invariável boné branco por um minúsculo chapéu verde, adornado com pequeninas penas de garça. Era seu único adereço. E lhe bastava. Seria certamente o mais alemão entre tantos outros "alemães" a participar de uma festa cada vez mais morena.
A uma pequena distância de nós, uma mulher vestida de alemã (saia longa, vermelha, meias brancas, três quartos, blusa branca de mangas fofas, avental), estacionou seu carro, desceu, apanhou um pequeno ramo florido de primavera vermelha e o ajeitou nos cabelos. Depois ficou esperando que nos aproximássemos.
“Deve ter vindo de fora e se perdido em alguma das entradas da cidade – pensei”.
Quando chegamos mais perto, ela sorriu ao descobrir um alemão e se dirigiu a ele em sua língua. Comecei a tremer: passados mais de vinte anos, eu tinha de novo diante de mim aquela mulher! Sua figura encantadora disparou dentro de mim os mesmos mecanismos de amor e temor. Mas, na medida em que ela falava e gesticulava, outros temores me dilaceravam. Era como se o reverso de minhas turbinas houvesse se aberto em pleno vôo. Sentia as engrenagens e eixos do meu ser se despedaçando dentro de mim. Sentia como se alguém houvesse mudado minha marcha de quinta para ré.
Acostumado a ouvir o Sr. M conversar em alemão, quase entendi que ela se referia a algo no cemitério, localizado mais adiante na direção em que ela vinha. O Sr. M explicou, ela agradeceu: "dank schön". E caminhou em direção ao seu carro.
Sr. M se voltou para mim. Enquadrou-me com seu olhar terrivelmente inquisidor e perguntou:
- Você viu? Você viu?
Mais que ver, eu sentira! Perdi um tempo enorme, tentando inventar uma mentira a respeito da beleza da moça. Minha demora e meu silêncio só fazendo confirmar a pergunta.
Depois o Sr. M acabou de me fulminar:
- Ela fala, anda e gesticula exatamente como você. E é cópia perfeita da mãe, até no gosto pela combinação de tons de vermelho e branco!
Devo ter sofrido uma de minhas "crise frustra". Tudo me ficou confuso e distante. Quando me recuperei, vi o Sr. M curvado, como se estivesse sofrendo um ataque de vômito. Ele vacilou e cambaleou. Tentei ampará-lo. Terminamos sobre a vegetação que recobre o canteiro central daquela avenida. Fiquei ali tentando enxugar com minha camiseta e mão trêmula o suor gelado que escorria da testa do meu amigo e companheiro. Ele ainda murmurou:
- O! mein ...! O! Frau! ... O! Frau!...
Depois apagou.
A moça devia estar nos observando o tempo todo. Voltou com seu carro em marcha-a-ré. Desceu assustada e me perguntou:
- Que acontecerrr?
- Aconteceu você, querida!
- Como eu? Eu não entenderrr!
- Não precisa entender. Não dá mesmo para entender!
- Pos-so fa-zer al-go? - ela perguntou com dificuldade.
Pausada e bem pronunciadamente, pedi-lhe que nos chamasse uma ambulância. Repeti tudo em inglês. Ela entendeu. Olhou no fundo dos meus olhos, como se quisesse me dizer ou perguntar alguma outra coisa. Vacilou um instante entre ficar e partir. Depois saiu correndo.
Foi tudo muito demorado. Perdi o desfile.
No dia seguinte, após o sepultamento, vaguei sem rumo pelo cemitério. Vi nomes estranhos e muitos nomes conhecidos. Datas antigas e recentes. Repeti mentalmente o imortal poema de John Donne. Mais que ouvir sinos dobrando, eu sentia enormes porções de mim mesmo também sepultadas ali. Passei pelo túmulo de meu pai. Vi que no espaço vizinho, a mim reservado, uma alma piedosa depositara flores sobre o chão nu e acendera velas em intenção de minha alma sofrida, ainda presa ao seu revestimento de ossos e carne.
Voltei ao local onde eram sepultados os pioneiros alemães e seus descendentes. Nunca antes daquele dia estivera ali. Revi no túmulo do Sr. M as flores, agora também mortas, perdendo cores e brilhos ao devolver à natureza os átomos de que foram formadas. Alguns passos mais adiante, um túmulo de impecável mármore branco prendeu minha atenção. Fui até lá.
Havia sobre ele um vaso de frescas e belas rosas vermelhas. Observei no vaso o nome da floricultura que mantinha sempre renovadas aquelas flores. Depois afastei vaso e flores para ver a quem se destinavam aquelas oferendas. E foi aí que reencontrei minha deusa!
Sorria para mim aquele mesmo sorriso de encanto e malícia, pleno da certeza de que escaparia às garras do tempo e permaneceria eternamente belo.
As datas indicavam que ela morrera no ano seguinte ao em que nos amáramos. Morrera enquanto eu tentava e desistia de ser general.
Em letras douradas incrustadas na pedra, o nome que eu tanto desejara e temera descobrir. Um nome simples. Nome de musa grega, objeto de desejo e disputas eternas. Nome comum, seguido de outros nomes de família, cujos sons e grafia não consigo reproduzir. Nomes carregados de consoantes. Assim como se também as vogais houvessem fugido dali para retornar ao encantado mundo das palavras vivas.


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