CAINDO NA VIDA TÃO CEDO
Maria Aico Watanabe
Valquíria é uma garota de 11 anos, morena tostada, franzina, com seios começando a despontar.
Sua mãe, Teresa, tem sete filhos, e foi abandonada pelo marido, o Jurandir, e juntou-se com um novo companheiro, o Zezito.
Logo, Zezito começa a estuprar Valquíria que contava com 9 anos de idade. Teresa sabe dos estupros cometidos pelo companheiro em sua filha, mas não toma nenhuma atitude, pois precisa do dinheiro dele.
Vera Regina, a Verinha, 12 anos, é uma bonita moreninha, com longos cabelos negros lisos, olhos oblíquos.
Quitéria, mãe de Verinha, que é a filha mais velha, tem cinco filhos.
Armando, o marido de Quitéria, bate nos filhos, inclusive na Verinha quando está bêbado. Quando sóbrio, vem estuprando a filha a partir dos dez anos de idade.
Quitéria também sabe desses estupros, mas não toma nenhuma atitude contra o marido, pelas mesmas razões de Teresa.
As famílias de Valquíria e Verdinha moram numa pobre favela na periferia de Osasco. Valquíria e Verinha são meninas criadas sem amor, em famílias numerosas, em precárias condições de conforto.
Cansadas de serem abusadas sexualmente pelo padrasto e pelo pai, respectivamente, e cansada de apanhar, Valquíria e Verinha fogem de casa.
As mães não vão procurá-las. Talvez fossem mais felizes na rua que em casa.
Valquíria e Verinha pegam o trem e vem para o centro de São Paulo.
Aqui encontram Aninha, 11 anos, mulatinha de longas e belas pernas e Natália, 13 anos, já mocinha, morena de cabelos encaracolados, os seios em flor. Aninha e Natália que já viviam na rua, vinham também de famílias infelizes.
A família de Aninha mora na favela do Jardim Ângela. Foge de casa de tanto apanhar de ambos os pais, que tem oito filhos, criados sem amor algum.
Natália vem de uma família de classe média baixa, moradora de Marsilac. Ela tem três irmãos mais novos. Ela foge de casa ao ser estuprada pelo padrasto que lhe leva a virgindade. Conta para a mãe sobre o estupro, e a ela a “aconselha” a esquecer o episódio. Revoltada e disposta a não passar por nova humilhação, também foge de casa. Não foi possível abrigar-se em casa de parentes, pois os parentes mais próximos vivem no interior de Minas Gerais e a família não tem o endereço.
As quatro garotas perambulas pelas ruas do centro de São Paulo. Dormem na rua mesmo. Quando chove, dormem sob as marquises dos prédios. Pedem esmolas ou praticam pequenos furtos para ter o que comer.
De vez em quando, alguns pivetes vem assaltá-las. Mas, roubar o quê, se elas tinham apenas a vida para dar ?
Para agüentar a barra, logo se viciam em drogas. É fácil conseguir drogas: os traficantes ululam nas ruas do centro.
A polícia as persegue e elas morrem de medo de irem presas e apanhar na delegacia.
Por isso, resolver ir para a beira das estradas que partem de São Paulo, esperar caminhoneiros. Natália, que está enojada quanto a relações sexuais, depois da experiência com o padrasto, hesita. Mas, acompanha suas amigas, para não ficar sozinha.
As meninas vão se oferecer aos caminhoneiros vestidas de mini-blusas, mini-saias ou shortinhos, sempre com barriga de fora.
Quando os caminhões param na margem da estrada, as meninas sobem nas cabines, e as transas ocorrem dentro das boléias mesmo. Os caminhoneiros ficam excitados, doidos em transar com Valquíria, por causa dos seios que estavam despontando.
Os caminhoneiros se recusam a usar camisinhas por machismo. As garotas se infectam freqüentemente com doenças sexualmente transmissíveis.
Quando isso acontece, procuram tratamento e remédios gratuitos em postos de saúde.
Os caminhoneiros são homens saídos da população geral. A maioria é composta de homens dignos, pais de família. Mas, alguns não tem escrúpulos e aproveitam-se descaradamente das meninas-prostitutas. Além de explorá-las sexualmente, não tinham vergonha de explorá-las quanto ao preço dos serviços sexuais:
- Quanto é o programa ?
- Cinco reais.
- É muito caro. Não podem deixar por dois reais ?
- Está bem. Para podermos comer. Ainda não almoçamos e estamos com fome.
Nas estradas, os michês (rapazes, geralmente homossexuais, que se prostituem), quase sempre drogados, faziam concorrência às garotas. E não se envergonhavam de assaltá-las também.
Por que tem pai que estupra a própria filha como o Armando ?
Alguns são doentes mentais e é a sua mente perturbada que os leva a cometer essas atrocidades e agressão sexual contra a sua própria carne, sangue de seu sangue. Mas, a maioria tem essa conduta por safadeza mesmo, por sem-vergonhice, por falta de escrúpulos morais. É o caso do Armando, que sabe muito bem o que está fazendo, pois estupra a filha somente quando está sóbrio. Bebe de vez em quando, não sendo assim, um alcoólatra doentio. Quando bebe, bate nos filhos, inclusive na sua filha quase mocinha.
Estupro cometido pelos pais contra as próprias filhas é mais comum do que muitos imaginam. É que a maioria dos casos não chega ao conhecimento da polícia por medo e vergonha das famílias.
E não acontece apenas em famílias pobres, desestruturadas. Acontece em todo o mundo, mesmo no Primeiro Mundo, entre famílias com bom poder econômico e nível social. Vejam o recente escândalo do pai austríaco que estuprou e manteve a própria filha prisioneira num porão de sua casa por 24 anos e com quem teve sete filhos. Filhos ou netos ? É uma terrível perplexidade definir essas pobres crianças !
A Valquíria é estuprada pelo padrasto, Zezito. O padrasto é um homem que não tem ligações genéticas com a enteada. Moralmente ele deveria assumir o papel de pai, protegendo e honrando a enteada. Mas, homens como o Zezito agem como se nada tivessem a ver, que não tivessem nenhum compromisso moral com a enteada.
O Zezito é também um safado, um homem sem escrúpulos morais. Padrastos abusando sexualmente de suas enteadas pipocam em todo o mundo também. Patrick Kennedy que estuprou sua enteada de oito anos de idade, nos Estados Unidos, foi condenado à morte, recentemente. Com óbvia razão, quando os estupros cometidos pelos pais e padrastos vem a público, suscitam indignação e nojo de toda a sociedade. Esses homens tem mesmo que ser severamente e exemplarmente punidos.
Teresa e Quitéria, mães de Valquíria e Vera Regina, também são mulheres sem escrúpulos morais. Sabem que suas filhas estão sendo estupradas pelos seus companheiros, mas não tomam nenhuma atitude contra esses homens. Estão considerando a sobrevivência, a provisão de alimentos como mais importante que proteger a honra de suas filhas contra a agressão sexual cometida pelos seus companheiros, que são padrasto e pai de suas filhas.
A mãe de Natália, que não esperava pela reação da filha, é uma leviana e irresponsável como mãe.
É uma terrível desgraça para as filhas terem pai, padrasto e mães como esses.
(Conto baseado em reportagens sobre prostituição infantil).
Jaguariúna, 01 de setembro de 2008.
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