----- Lamento-me por só há muito pouco tempo ter começado a prestar atenta dedicação ao pormenor das coisas simples e singelas, preferentemente àquelas cuja aparência dão ideia de despida importância. Sobretudo os escritos que se investem de vulgar evidência à flor dos olhos, mas que, se bem matutados a fundo, revelam-se plenos de ciência existencial.
----- A quadra do cancioneiro popular (de autor desconhecido) que adiante apresento e gloso, é aquela que primeiro me entrou no ouvido menino e nunca mais saiu. É sem dúvida uma pequena maravilha em palavra-chã e lúcida verdade sobre o apertado cerco mental que nós, humanos, ousamos fazer uns aos outros com espantosa naturalidade comum. Apreciem:
---------------- FADO DO MAR ALTO ----------------
- O8 ------- Oh mar alto, oh mar alto,
- 12 ------- Oh mar alto sem ter fundo;
- 16 ------- Mais vale andar no mar alto
- 20 ------- Do que nas bocas do mundo!
- 05 ------- Quando o sonho me diz não
- 06 ------- E me acorda em sobressalto
- 07 ------- Vou ao mar e grito em vão:
- 08 ------- Oh mar alto, oh mar alto!
- 09 ------- Atiro meu peito a salto
- 10 ------- Sobre o espaço profundo...
- 11 ------- E diz-me o tempo em contralto:
- 12 ------- Oh mar alto sem tem ter fundo.
- 13 ------- De nojo ao sentir-me imundo
- 14 ------- Pelos deveres a que falto
- 15 ------- Mais e mais eu grito ao mundo:
- 16 ------- Mais vale andar no mar alto.
- 17 ------- Pego o carro no asfalto,
- 18 ------- Acelero e me fecundo:
- 19 ------- Antes só em Tua Boca (*)
- 20 ------- Do que nas bocas do mundo!
----------- (*) - Usinal Conclusão:
----------- É pois evidência simples que me sinta
----------- bem nas palavras de MILENE ARDER, já
----------- que perdi há dez anos as palavras de
----------- de minha Mãe!
----------------- Torre da Guia ------------------